28 de junho de 2013

Comércio Exterior
O Brasil e as cadeias de valor


   

 
A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) lançaram uma versão preliminar dos resultados de um estudo inovador no campo das estatísticas industriais, que detecta o valor adicionado das diferentes etapas de produção das cadeias globais de valor (CGV). Os principais resultados deste trabalho compõe um estudo que o IEDI acaba de finalizar e que será publicado em sua Carta que circula hoje.

Uma cadeia de valor representa todas as empresas e pessoas envolvidas na produção de um bem ou serviço, desde a sua concepção até o consumo final. O processo envolve as atividades de formulação, produção, marketing, distribuição, etc. O termo CGV designa a dispersão das cadeias de valor pelo mundo, seja através da distribuição de estágios de produção de uma firma entre diversos países ou a terceirização de parte da cadeia de valor desta firma para parceiros externos.

Esse movimento barateou enormemente os custos e aumentou a eficiência dos sistemas da produção manufatureira. Vale lembrar que os acordos de liberalização comercial têm importante papel nesse processo, bem como as inovações nas tecnologias da informação e de comunicações e na logística.

A distribuição espacial das cadeias manufatureiras nas últimas duas décadas se deu de forma muito assimétrica. Não somente as economias centrais perderam posição no valor agregado manufatureiro; também economias emergentes industrializadas como o Brasil também diminuíram sua participação na produção mundial de valor adicionado industrial. Os ganhadores na disputa da concorrência global para a recepção de investimentos de firmas transnacionais foram os asiáticos sob a liderança chinesa.

O Brasil e a América Latina excluído o México ficaram praticamente à margem desse processo de reestruturação das cadeias globais de valor. Além de pouco peso nas cadeias globais, apresentam também uma integração produtiva regional pouco significativa, ao contrário da América do Norte, Europa e Ásia.

De acordo com o relatório da OCDE e OMC, o Brasil é uma das economias com menor valor adicionado estrangeiro nas suas exportações, da ordem de 10%, o que é um indicador para trás nas cadeias de valor. É um indicador também de que a economia brasileira é fechada, ou porque é forte na produção doméstica de matérias primas e bens intermediários, ou porque produz relativamente poucos bens que demandam componentes vindos do exterior ou ainda porque somos uma economia protegida.

Contudo, a contribuição brasileira enquanto valor adicionado nas exportações dos outros países, um indicador para frente da integração nas CGVs, é a segunda maior entre os países em desenvolvimento, principalmente por conta das exportações de insumos e matérias-primas.

O comentário pertinente sobre estas constatações é que o Brasil não está totalmente fora das CGVs, mas seu lugar é mais como fornecedor de insumos para empresas de outras origens adicionarem mais valor na cadeia produtiva, do que como exportador de produtos com maior valor adicionado.

Além disso, as empresas multinacionais têm cada vez mais buscado o mercado brasileiro e o latino, atraídas pelo mercado interno ou a exploração de recursos naturais. De fato, o Brasil mantém posição entre os BRIICS (Brasil, Rússia, Índia, Indonésia e África do Sul) enquanto receptor de investimento direto externo. Em outras palavras, o país não é visto como um local para agregar valor na cadeia global.

As políticas econômicas e industriais precisam considerar que a divisão internacional do trabalho não se dá somente ao nível das indústrias, mas ao nível de estágios, atividades e tarefas, conforme as especificidades de cada cadeia de valor. A mudança de unidade de análise não é trivial e torna mais complexa a tarefa de formular políticas, ainda mais se são considerados os incentivos concedidos por outros países para atrair investimentos das diversas empresas das CGVs.

É verdade que existe um forte componente de incerteza relacionado à geopolítica das grandes corporações internacionais, o que dificulta a política industrial. Entretanto, é inequívoca também a importância das políticas domésticas para participar das CGVs. É relevante assegurar condições de competitividade industrial – começando pela melhoria das estruturas de logística e de tecnologia da informação, fatores cruciais do sucesso no comércio internacional – e fomentar através de políticas industriais o desenvolvimento de segmentos e ramos onde é maior a atividade das CGVs.

Em suma, o que se pode afirmar com certeza é que as CGVs estão ganhando mais poder e relevância econômica, de forma que o Brasil não pode se furtar a desenhar e implementar políticas econômicas e industriais considerando as CGV – principalmente o regime macroeconômico e cambial, as políticas de comércio e acordos internacionais, políticas de atração de investimento, de competitividade e inovação.

De forma mais ampla, a inserção externa de melhor qualidade é aquela relacionada a uma maior participação das atividades de alto valor agregado na estrutura produtiva e comercial e ao aperfeiçoamento dos índices de produtividade das empresas, com crescimento da participação do país no produto e nas exportações mundiais.
 

 

 

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