Cadeias de Valor: Condições para a Inserção Brasileira
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp
Cristina Reis – Economista do IEDI

Brasil Econômico – 24/06/2013

Inquestionavelmente, o lugar do Brasil nas cadeias globais de valor é marginal. Os fluxos de investimento estrangeiro para o país se destinam predominantemente a atividades voltadas ao mercado interno. Nosso afastamento teve início na segunda metade dos anos 1970, quando a matriz industrial se concentrou nos setores básicos. Nas últimas décadas promoveu-se uma fraca modernização da estrutura manufatureira ao lado de uma pronunciada especialização em commodities primárias, estes os fatores de fundo para a diminuta integração às cadeias globais.

Em geral, este processo desenvolveu-se sob a dominância da abertura unilateral de importações, forte sobrevalorização cambial e ausência de políticas industriais ativas, o que em nada facilitou, pelo contrário, a promoção das exportações industriais e a presença brasileira em cadeias internacionais. Hoje, na indústria do país se sobressaem poucas grandes e médias empresas com parte de sua estrutura de apoio globalizada. Elas sobreviveram porque souberam responder às mudanças macroeconômicas e às novas condições da concorrência internacional, graças à modernização, bem como ao acesso ao crédito público, auxiliadas nos últimos anos pelo reforço do mercado doméstico.

É verdade que a maior participação em cadeias globais não necessariamente beneficia um país, dados os vários condicionantes em jogo: valor adicionado líquido nas exportações e importações do país, efeitos de encadeamento, impacto na produtividade e no emprego, ganhos tecnológicos, etc. Daí a necessidade dos setores público e privado do país se posicionarem estrategicamente para a inserção internacional.

Essa tarefa não é trivial, considerando-se a tendência na qual as grandes empresas transnacionais dividem cada vez mais seus processos produtivos em vários países e localidades, tornando difuso o conceito de indústria doméstica e até mesmo de firma. Ou seja, a divisão internacional do trabalho já não se dá ao nível das indústrias, mas sim a um nível bem mais desagregado - ao nível de atividades e tarefas - o que amplia a complexidade das políticas. E a disputa pela atração desses investimentos e mercados tem sido cada vez mais ferrenha, de forma que os países lançam mão de diversas ferramentas para participar das cadeias globais. E, ainda, as escolhas de aplicação de recursos e estabelecimento de negócios estão associadas a um forte componente de incerteza relacionado à geopolítica das grandes corporações internacionais, o que dificulta a política industrial.

Mas, o que deve ser sublinhado é a relevância de políticas internas como condição de participação nas cadeias de valor. É necessário assegurar competitividade - a começar pela melhoria das estruturas de logística e de tecnologia da informação. Considerando que as cadeias globais estão ganhando mais poder e relevância, o Brasil não pode se furtar a desenhar e implementar as políticas que permitirão sua inclusão neste processo com proveito para o seu desenvolvimento. São políticas na área cambial, de acordos internacionais, atração de investimentos estrangeiros, produtividade e inovação. De forma ampla, a inserção externa de melhor qualidade é aquela relacionada a uma maior participação das atividades industriais de alto valor agregado na estrutura produtiva e nas exportações e a melhores índices de produtividade das empresas.


Julio Gomes de Almeida é professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Cristina Reis é economista do IEDI