A Escolha da Política Econômica
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 10/06/2013

É muito difícil fazer escolhas na política econômica em um momento de valorização intensa da moeda americana e, portanto, de desvalorização das moedas de muitos de nossos concorrentes comerciais. Não fazer nada e deixar o real se desvalorizar tão somente preservaria a nossa competitividade relativamente a essas economias. Ou seja, uma cotação do dólar para além de R$ 2,10 pura e simplesmente conferiria ao setor produtivo brasileiro a mesma capacidade de concorrer anterior ao processo de valorização do dólar, o que é insuficiente.

Prova disso é que nos primeiros meses de 2013 nossas exportações industriais caíram 5%, afetando até mesmo os produtos de maior conteúdo tecnológico (-12%).

Mas, o governo tem dado mostras que não aceitará passivamente uma desvalorização significativa da moeda. O aumento da taxa de juros foi ampliado, o Banco Central voltou a atuar no mercado de câmbio e foi eliminado o IOF na entrada de capitais para aplicações em renda fixa. A opção da política econômica é acertada do nosso ponto de vista, mas se tiver êxito deixará para depois o acerto do câmbio que se faz muito necessário para neutralizar as tendências pronunciadas de agravamento do déficit externo.

O temor da política econômica é que uma maior desvalorização aumente uma inflação que já é alta e deprima um crescimento econômico que já é baixo. Como teremos eleições em 2014 e as campanhas de alguns dos candidatos foram antecipadas para este ano, apresenta-se também um risco político que o comando econômico não está disposto a correr.

A política econômica conta com efeitos positivos de medidas adotadas nos últimos tempos e com alguns sinais recentes do setor produtivo para sustentar que o quadro de pessimismo dessa primeira metade do ano irá se dissipar. Se o cenário é de que o pior do agravamento do processo inflacionário está passando devido ao refluxo dos preços dos alimentos, não teremos mais o impacto que jogou para baixo o crescimento do comércio varejista e de certos ramos relevantes da indústria, como alimentos, bebidas, indústria farmacêutica e cosméticos.

Com menor inflação esses setores voltam a crescer (em alguns deles isto já ocorre), o que amplifica uma evolução da atividade econômica e do investimento que a nosso ver já está ocorrendo. Os números da indústria e do investimento estão vindo fortes nos últimos meses em parte em função de causas pontuais. Por exemplo, o aumento da produção industrial em abril relativamente a março não seria tão expressivo (1,8%) se a produção de veículos não crescesse a uma taxa formidável em função dos incentivos fiscais. A expansão do investimento no primeiro trimestre também não teria sido tão intensa (4,6%) sem a retomada da compra de caminhões, que em 2012 ficara virtualmente paralisada. Mas, há uma indubitável reação positiva da indústria pelo segundo mês consecutivo e a trajetória do investimento é inegavelmente de recuperação.

Dois outros eventos podem favorecer o crescimento, sobretudo em 2014: o leilão para a área do pré-sal e o projeto de concessões de obras de infraestrutura ao setor privado. Em suma, a orientação da política econômica do governo não quer arriscar o melhor momento que vive a agropecuária, a indústria e possivelmente o comércio e procura proteger o que considera importante para alavancar as expectativas favoráveis ao investimento.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda