Para o IEDI, uma indústria moderna e integrada à
economia mundial tem papel relevante como um vetor adicional e
determinante para o desenvolvimento do país. Nessa direção,
o Instituto publica em duas edições de sua Carta
um estudo sobre os acordos comerciais e a posição
brasileira.
A regulação
do comércio internacional encontra-se em uma fase de profundas
mudanças em decorrência do impasse das negociações
na Organização Mundial do Comércio (OMC)
e da proliferação de acordos preferenciais de comércio
(APCs), que têm se tornado uma importante fonte da regulação
internacional. Nesse cenário, cabe questionar qual é
a posição em que se encontra o Brasil e quais os
impactos que esta proliferação de APCs pode trazer
para o comércio exterior do país.
O Brasil sempre
privilegiou a esfera multilateral como principal foro de negociações
e pouco investiu na negociação de APCs durante as
décadas de 1990 e 2000. Em contrapartida, encontra-se,
atualmente, distante de outras economias relevantes tanto pelo
pequeno número de acordos do qual o Brasil é parte,
quanto ao que tange a elaboração de um modelo de
acordo com as regras de interesse brasileiro.
Apesar do
pequeno número de APCs assinados pelo Brasil, podem-se
identificar dois vetores de integração: um regional
e um extra-regional. No âmbito regional, destaca-se o Mercosul,
principal projeto de integração comercial brasileira
nas últimas décadas, mas que atualmente enfrenta
uma série de dificuldades, em especial nas relações
comerciais entre Brasil e Argentina.
Através
do Mercosul foram celebrados acordos entre os membros do Mercosul
e outros países latino-americanos, como Chile, Colômbia,
Venezuela. No âmbito extra-regional, o Brasil, em conjunto
com o Mercosul, é signatário de APCs com Índia,
Israel, União Aduaneira do Sul da África –
SACU1, Egito e Palestina, dos quais apenas dois primeiros estão
em vigor. Destaca-se, também, a atual negociação
de um APC entre Mercosul e União Européia.
Os impactos
dos APCs para o Brasil podem ser analisados a partir das perspectivas
de acesso a mercados, regulação do comércio
e cadeias globais de valor:
1)
Com relação ao acesso a mercados, em especial as
tarifas, é importante notar que, apesar das preferências
tarifárias já obtidas pelo Brasil, principalmente
na América Latina, muitos países vêm negociando
um volume expressivo de acordos. Essas negociações
contrapõem-se às preferências concedidas ao
Brasil, resultando na perda relativa da preferência brasileira
nesses mercados. Quanto às barreiras não tarifárias,
a harmonização das regulamentações
técnicas e fitossanitárias por meio de padrões
e princípios comuns estabelecidos em acordos de comércio
permite superar barreiras não tarifárias e trazem
benefícios para os produtos produzidos no âmbito
dos mercados parceiros em relação a terceiros mercados.
2)
No aspecto regulatório, os países vêm buscando
na esfera preferencial foros de negociação em que
possam desenvolver novas regras de comércio, incluindo
temas que aprofundam a regulação já existente
ou temas não regulados no âmbito multilateral. Por
exemplo, os mega-acordos, envolvendo grande número de importantes
economias, buscam englobar todo o espectro da regulação
do comércio internacional.
3)
O comércio tradicional de bens produzidos integralmente
ou quase integralmente em um país vem sendo substituído
por um comércio de tarefas (trade in tasks), no qual há
uma cadeia de produção global. A proliferação
de APCs em muito contribuiu para o aumento das cadeias globais
de valor uma vez que a celebração de um APC de integração
profunda entre dois países reduz os custos de transação
e elimina os antagonismos entre os quadros regulatórios
nacionais que poderiam implicar em entraves à produção
internacional. Assim, o limitado número de acordos dos
quais o Brasil é parte pode prejudicar sua inserção
nas cadeias globais de valor.
Como cabe
observar, o Mercosul e os demais países da América
Latina são insuficientes para garantir o volume das exportações
brasileiras e as novas cadeias de valor que se formam através
dos blocos econômicos não contam com a presença
do Brasil. Desse modo, mostra-se a necessidade de o Brasil buscar
novos parceiros preferenciais de comércio.
A partir de
simulações de acordos do Brasil com EUA, UE, China
e América do Sul, percebe-se que a indústria mostra-se
sensível em diversos setores, mostrando como é importante
que a celebração de eventuais acordos preveja prazos
razoáveis de reestruturação e fortalecimento
do setor industrial brasileiro.
Entretanto,
ainda que uma redução horizontal de tarifas decorrente
da assinatura de acordos preferenciais nem sempre traga resultados
positivos imediatos para determinados setores produtivos brasileiros,
a eliminação de barreiras não tarifárias,
a negociação de mecanismos de proteção
aos setores mais sensíveis, tais como salvaguardas especiais
e manutenção de algumas tarifas, poderão
mitigar os efeitos negativos e permitir ao Brasil uma maior inserção
no comércio internacional.
Com a necessidade
de atualização das regras da OMC e do impasse nas
negociações da Rodada Doha, a regulação
do comércio se dará, sobretudo, no âmbito
dos APCs. Desse modo, o Brasil deverá intensificar o processo
de integração tanto no vetor regional quanto no
extra regional, além de definir as regras que julgue necessárias
negociar para esse novo cenário comercial, tais como regras
de origem, medidas não tarifárias, serviços
e investimentos, dentre outros.
Leia
aqui o texto completo desta Análise.
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