As Dúvidas Sobre o Crescimento Brasileiro
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 03/06/2013

Muitas dúvidas e uma única certeza cercam o resultado do PIB para o primeiro trimestre de 2013. A certeza não é boa: a economia brasileira está realmente em momento de baixo crescimento. Anualizado, o aumento dos primeiros três meses de 2013 frente ao trimestre anterior (0,6%) resulta em expansão de 2,5%, o que é muito pouco para um país em desenvolvimento como o Brasil e que já vem de dois anos de frustração econômica (2,7% e 0,9%, respectivamente em 2011 e 2012).

Quanto às dúvidas suscitadas pelos últimos resultados econômicos, estas são muitas. O avanço do investimento foi significativo (4,6%), mas isto pode estar refletindo, em boa medida, a retomada dos investimentos em veículos e consequente aumento da produção de caminhões no início deste ano. Como se recorda, esses investimentos sofreram virtual interrupção em 2012. Como esse episódio não se repetirá nos próximos trimestres, não se sabe ao certo se as inversões conseguirão manter o ritmo vigoroso no restante do ano.

O consumo das famílias, que crescera a uma taxa média de 1,0% ao trimestre durante 2012, teve aumento de somente 0,1% no início deste ano. A dúvida aqui é se o mau desempenho no primeiro trimestre serve como indicador de que o consumo, que até há pouco tempo constituía-se em pilar do crescimento da economia, sobretudo ao puxar as atividades do setor de serviços e comércio, entrou em mais baixa trajetória de evolução. A acomodação das variáveis do mercado de trabalho e a menor expansão do crédito, aliados ao maior nível de preços, podem explicar essa mudança do ritmo do consumo das famílias.

Do ponto de vista do setor externo, vigorava um padrão de desempenho de exportações e importações: estas caminhavam no mesmo sentido, ainda que as importações crescessem a taxas bem superiores, absorvendo fatias do mercado interno antes detidas pela produção doméstica. Os dados do primeiro trimestre registram que as importações aumentaram 6,3% e as exportações caíram 6,4%, revelando que além de perder mercado interno, a produção nacional perde mercados no exterior. Mudou o perfil do setor externo brasileiro? E será que esses números não estão indicando que o câmbio está fora do lugar?

Na indústria, há uma nova configuração em nada favorecedora da perspectiva de crescimento. Até há pouco tempo, o setor de transformação puxava para baixo o PIB industrial na contramão dos demais segmentos - a indústria extrativa, construção e serviços industriais - que cresciam. Pois bem, no primeiro trimestre desse ano, ao mesmo tempo em que a indústria de transformação mantinha sua condição de frágil dinamismo, registrando aumento de apenas 0,3%, todos os demais segmentos retrocederam, denotando que a crise na indústria se generalizou.

A indústria extrativa recuou 2,1%, refletindo o momento desfavorável dos minerais metálicos (notadamente ferro) devido ao adverso contexto externo e à desaceleração do crescimento chinês. A perspectiva para esse segmento não é a mais favorável; o que poderá melhorar seus resultados é o desempenho do setor de produção e refino de petróleo. Quanto à construção, o recuo de 0,1% está de acordo com o ciclo do setor, que cresceu a taxas elevadas anos atrás, mas começou no ano passado a reverter o processo. Até quando durará esse movimento de baixa da construção ainda não pode ser antecipado.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda