Os dados do Banco Central para as contas externas brasileiras
no primeiro quadrimestre trazem três pontos merecedores
de reflexão: a) os fluxos de capitais para o país
não estão caindo, ao contrário do que vinham
antecipando algumas análises; b) há um crescimento
do déficit em transações correntes que se
não é desesperador, inspira cuidados; c) a queda
de competitividade na indústria brasileira se reflete no
interesse do capital estrangeiro no setor, de modo que, nesse
caso, caíram muito os ingressos de investimento direto
estrangeiro (IDE).
Ao contrário
do que analistas antecipavam a insatisfação dos
investidores externos para com o Brasil – se é que
há essa insatisfação na magnitude com que
vem sendo anunciada – não se traduziu em retração
da entrada de recursos para o País. Os ingressos líquidos
na verdade melhoraram significativamente. Assim, o resultado da
conta capital e financeira, que foi positiva em quase US$ 40 bilhões,
superou em 10% seu equivalente no mesmo período de 2012
(US$ 36,4 bilhões).
Isto ocorre
a despeito dos juros mais baixos e da menor volatilidade cambial
em vigor no país. Ambos os fatores deram fim aos elevados
e quase garantidos ganhos que desfrutavam as aplicações
de fundos externos no Brasil. Dentre as modalidades de capitais,
o investimento direto estrangeiro (IDE) mantém-se em níveis
elevados de ingressos líquidos, muito embora tenha registrado
pequena queda de 6%, somando US$ 19 bilhões nos quatro
primeiros meses do corrente ano e US$ 20 bilhões no mesmo
período do ano passado.
As compras
de ações de empresas nacionais no Brasil e no exterior
e os investimentos em títulos de renda fixa no país
compensaram largamente o declínio no IDE. No primeiro caso,
os valores passaram entre 2012 e 2013 (períodos de janeiro
a abril) de US$ 5,2 bilhões para US$ 7,7 bilhões
(+49%) e, no segundo, de US$ 0,8 bilhões para US$ 2,8 bilhões
(+274%). Os novos empréstimos externos de médio
e longo prazo, líquidos das amortizações,
somaram US$ 4,2 bilhões e US$ 4,7 bilhões (+12%),
respectivamente nos quatro primeiros meses de 2012 e 2013.
Se ocorrer
uma mudança súbita no presente cenário externo
o que é possível dada a alta indefinição
da economia mundial, o quadro favorável do fluxo de capitais
ao país no primeiro quadrimestre pode ser alterado. Mas,
pelo menos por enquanto, a fonte maior de preocupação
no balanço de pagamentos brasileiro não reside no
lado do financiamento, mas sim no lado das transações
correntes. No primeiro quadrimestre, o déficit de US$ 33
bilhões, foi 90% superior ao dos quatro primeiros meses
de 2012 (US$ 17 bilhões). Em termos do PIB, correspondeu
a 4,3%, o mesmo índice de 2001, este o ano que precedeu
a última e uma das mais graves crises do balanço
de pagamentos do país.
Hoje, a situação
da economia brasileira é muito superior do que naquele
ano: as reservas de US$ 379 bilhões são incomparavelmente
maiores, o país preserva boa atratividade para o investimento
estrangeiro e suas empresas têm crédito (a colocação
de títulos há poucos dias atrás da Petrobrás
é prova disso), o que minimiza o risco de uma crise de
financiamento externo. Contudo, o nível do desequilíbrio
com o exterior não é nada confortável.
As contas
externas devem melhorar nos próximos meses e a projeção
do Banco Central é que o ano feche com déficit de
2,8% do PIB (2,4% do PIB em 2012), correspondente a US$ 67 bilhões
(US$ 54 bilhões no ano anterior). Para isso, no entanto,
é necessária uma reversão nada desprezível
no comércio exterior: de saldo negativo de US$ 6 bilhões
no primeiro quadrimestre para superávit de US$ 15 bilhões
no ano como um todo. A balança comercial deve de fato passar
a ser superavitária, seja pelo fim do efeito do registro
atrasado de importações de petróleo, seja
pela maior safra e consequente aumento das exportações
agrícolas. Contudo, não devem ser deixados de lado
dois problemas graves com potencial de restringir o ajuste de
exportações e importações no corrente
ano.
Primeiro,
o fator preço internacional de commodities que pode continuar
prejudicando as vendas externas de bens primários da mesma
forma que prejudicou nos primeiros quatro meses. Segundo, a situação
do comércio de produtos industriais cujo déficit
não parou de aumentar mesmo com a estagnação
da economia. As importações seguem absorvendo todo
ou quase todo aumento do mercado interno de bens da indústria
e as exportações entraram em franco processo de
declínio, dado o baixo crescimento do comércio mundial
e os problemas com destacados parceiros comerciais (como a Argentina).
As exportações
totais brasileiras caíram 4,3% nos quatro primeiros meses
de 2013 frente ao mesmo período de 2012 (passando de US$
74,6 bilhões para US$ 71,5 bilhões) enquanto as
importações subiram 8,8% (de US$ 71,6 bilhões
para US$ 77,6 bilhões). Segundo estudos do IEDI, as exportações
de bens industriais tiveram queda de 5% no primeiro trimestre
de 2013, sendo de 12% a retração em bens de alta
e em média-alta tecnologia. O Brasil demorou muito em se
dar conta que os bons tempos das commodities deveriam servir para
diversificar nossa pauta exportadora e não para aprofundar
ainda mais a dependência a esses produtos.
Finalmente,
a questão do investimento estrangeiro no setor industrial.
Se é tomado o ingresso de IDE na forma de participações
no capital, no primeiro quadrimestre desse ano houve queda de
47,8% sobre igual período de 2012 (valores de US$ 4,8 bilhões
e US$ 9,2 bilhões). Algumas observações sobre
esse resultado: Primeiramente, para o conjunto dos setores (além
da indústria, o setor de serviços e a agropecuária
e a indústria extrativa), a queda chegou a 25%, mas unicamente
ocasionada pelo resultado da indústria de transformação;
com a exclusão da indústria haveria aumento de 0,7%.
Em segundo lugar, um resultado também negativo já
havia sido registrado para a indústria no ano de 2012,
com queda de 17% frente a 2011. Por fim, com o declínio
dos investimentos externos no setor, a indústria passou
a representar em 2013 até abril apenas 35% do ingresso
de IDE, contra 52% no mesmo período do ano anterior.
O leque de
ramos atingidos pela redução do IDE é amplo
e representativo da indústria brasileira. Assim, tiveram
quedas muito expressivas segmentos da indústria de base,
como metalurgia (-78,1%) e produtos químicos (-62,1%),
além de alimentos (-42,1%), veículos (-36,9%) e
bens de capital/máquinas e equipamentos (-20,8%). Produtos
de borracha, farmacêuticos e derivados do petróleo
mantiveram atratividade. Nossa interpretação é
a de que o resultado negativo para o IDE na indústria brasileira
reflete sua baixa competitividade frente a condições
mais favoráveis em outros países.
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