Os Limites da Recuperação Industrial
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 13/05/2013

O resultado da indústria para o primeiro trimestre não traz muito otimismo. Primeiro, por se tratar de uma trajetória oscilante em demasia, já que houve aumento em janeiro frente a dezembro (+2,7%), seguido de queda em fevereiro (-2,4%) e acréscimo em março (+0,7%). O processo de crescimento costuma ter uma maior regularidade. Segundo, porque os últimos dados industriais continuam tendo alta influência de ramos beneficiados por estímulos fiscais, o que confere certo grau de "artificialismo" à evolução registrada em março.

Afinal, quem puxou o crescimento global neste mês foi o segmento de bens duráveis de consumo (+4,7%), por seu turno impulsionado em grande medida pela produção de veículos (+5,1%). Ainda do ponto de vista setorial, um terceiro traço da evolução recente foi sua abrangência limitada, pois o crescimento se deu somente em treze dos vinte e sete ramos da indústria pesquisados pelo IBGE. Instável, dependente de estímulos da política econômica e parcial no que diz respeito aos ramos envolvidos, a atual recuperação industrial pode ser considerada bastante limitada, o que se reflete em uma evolução no primeiro trimestre deste ano negativa: -0,5% sobre igual período de 2012, esta uma base fraca para efeito de comparação. Vale lembrar que, no primeiro trimestre do ano passado, a produção havia caído 3,2%.

Este desempenho desfavorável reflete alguns fatores já bem conhecidos, como a evolução fraca da economia doméstica e a forte concorrência dos bens importados. Mas, outro fator que já começara a se manifestar no ano passado, se apresentou na entrada de 2013 com muito maior força, qual seja, a retração das exportações de produtos industriais. De fato, segundo um estudo do IEDI, o valor das exportações de produtos industriais caiu 5,0% no primeiro trimestre deste ano. O revés em produtos de alta e média-alta intensidade tecnológica chegou a 12%.

Mercados de importantes parceiros comerciais do Brasil estão encolhendo, a exemplo de países europeus e da Argentina, e no caso dos EUA a expansão é relativamente baixa. As indicações são de que as vendas de produtos da indústria brasileira para esses mercados encontram-se em declínio relativamente maior ao seu retrocesso médio. Em outras palavras, a falta de competitividade do produto industrial nacional revela-se agora do lado das exportações e está contribuindo, e talvez neste momento de modo preponderante, para os resultados insatisfatórios da indústria observados nesses meses iniciais de 2013.

Uma última característica dos dados recentes da indústria favorece a perspectiva de continuidade da recuperação do setor. A produção no maior centro industrial brasileiro, São Paulo, cresce desde o terceiro trimestre do ano passado, a saber, 1,5%, 1,1% e 1,1%, respectivamente, no terceiro e quarto trimestres de 2012 e primeiro trimestre deste ano, sempre com relação ao trimestre anterior. Caminhando nesse ritmo, a produção da indústria paulista poderá fechar 2013 com aumento em torno de 4,0%, um índice que se não é exuberante, deixa claro que a indústria mais diversificada do país está reagindo e, provavelmente, entrando numa etapa de expansão mais consistente de suas atividades produtivas. Movimento semelhante pode ser visto no Rio de Janeiro, também um dos mais destacados núcleos industriais do país.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda