Mais Uma Etapa da Crise Industrial
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 06/05/2013

Causador de súbitas reviravoltas na economia nos anos 1990 e entrada dos anos 2000, o desequilíbrio externo brasileiro pouco a pouco vai reaparecendo como fonte de apreensão. Após atingir déficits tão elevados como 4,2% do PIB em 2001, o resultado em transações correntes chegou a ficar positivo em 2004/2005, em torno a 1,7% do PIB, mas logo entrou em declínio e em 2008 retornou ao campo negativo. Em 2012 chegou a -2,4% do PIB com projeção do Banco Central para 2013 de -2,8% do PIB.

O tema ainda não tem a dimensão explosiva de outros tempos porque o Brasil ainda desfruta de fontes firmes para seu financiamento, a exemplo do investimento estrangeiro direto que mantém bons volumes de entrada na economia em busca de oportunidades nos setores produtivos, em serviços e em infraestrutura. O país é também detentor de amplas reservas em moeda estrangeira.

Todavia, a questão da vulnerabilidade externa voltou ao debate porque as commodities primárias já não parecem ostentar o mesmo poder de antes em compensar o crescente déficit do comércio exterior de produtos industriais.

O que está por detrás do percurso brasileiro em direção a problemas cada vez maiores nas transações correntes é, sobretudo, a marcha do comércio exterior de produtos industrializados rumo a déficits explosivos. Para se ter ideia, em 2005 éramos superavitários nesses produtos em US$ 31,1 bilhões, mas desde 2008 o balanço mudou de sinal e em 2012 ficou negativo em US$ 50 bilhões. Isto revela que a crise mundial de 2008/2009 precipitou e aprofundou a transição para déficits muito altos em bens industriais, o que vem tendo sequência até os dias atuais. Uma mudança, no entanto, está ocorrendo: se até 2012 a "invasão" de importações respondia destacadamente como principal causa, em 2013 o fator indutor mais relevante parece vir da retração das exportações.

Segundo os dados mais recentes, as importações de bens industriais vêm aumentando pouco: 3% no primeiro trimestre em comparação com os primeiros três meses de 2012. A baixa evolução deriva ou da menor "invasão" de importados ou da fraqueza da economia doméstica ou ainda de uma combinação de ambos os fatores. Já as exportações caíram 5%. Bens de alta e média tecnologia experimentaram queda muito maior, 11,8%. Tão amplo recuo das exportações brasileiras, que vai além do encolhimento dos mercados internacionais motivado pela atual adversidade da economia mundial, foi determinante para o déficit recorde de bens industriais de US$ 16,3 bilhões, contra US$ 13,3 bilhões no primeiro trimestre do ano passado.

Se olharmos em perspectiva, há um movimento em curso que reflete a crise da indústria brasileira. Esta se mostrou nos últimos anos, em primeiro lugar, como cessão de mercado interno para o produto importado, mas agora se apresenta como perda ampla de mercados de exportação. Custos, câmbio, política industrial, produtividade, inovação, acordos comerciais são temas que não podem ser deixados de lado para que o percurso acima descrito possa ser estancado.

Tendo prosseguimento, o processo inevitavelmente agravará a progressão do déficit em transações correntes brasileiro.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda