A Perda de Dinamismo do Emprego
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 29/04/2013

A pesquisa de emprego e renda realizada pelo IBGE nas grandes regiões metropolitanas do país mostra um quadro inequivocadamente favorável para a população neste início de 2013. Por exemplo, a taxa de desocupação no primeiro trimestre, de 5,5%, é muito baixa para padrões históricos e corresponde a quase metade da taxa do primeiro trimestre de 2005, de 10,5%. Mais: esta condição de baixo desemprego parece não ter sido ameaçada pelo crescimento decepcionante do PIB em 2011 e 2012. Pode ser lembrado também que, embora em ritmo menor, o rendimento real das pessoas ocupadas se mantém em alta e a massa de rendimentos da população segue crescendo, o que vai renovando um dinamismo do consumo e das vendas do varejo que poucos países vêm conseguindo ostentar em suas economias no após crise mundial de 2008. Mas, algumas nuvens se apresentam no horizonte devido ao baixo desempenho da economia e diminuição do impulso conferido ao emprego pelo boom que os setores de construção, comércio e serviços experimentaram nos últimos anos como decorrência do reforço do mercado interno consumidor obtido com a redistribuição da renda. Na média de todos os setores, o emprego que no último trimestre de 2012 crescia 3% com relação ao mesmo período do ano anterior, passa a evoluir 1,9% nos três primeiros meses do corrente ano.

Na construção e no comércio a desaceleração foi muito significativa: no primeiro caso, a expansão de 6,3% nos três meses finais de 2012 cede lugar a um declínio de 1,8% no primeiro trimestre de 2013; no segundo, o ritmo de criação de empregos retrocede de 4,4% para 1,7%. Na indústria, os dois primeiros meses do ano pareciam mostrar uma melhora do setor beneficiado por programas de incentivo do governo e pela desoneração da folha de salários, o que não foi confirmado pelos dados de março. O setor, que teve variação zero do emprego em 2012, ampliou seu efetivo em 2,2% e 3,5%, respectivamente em janeiro e fevereiro últimos com relação aos mesmos meses do ano passado, mas o processo foi interrompido pela queda de 1,7% em março.

O setor de serviços como um todo preserva um maior dinamismo, com aumento de 2,6% no primeiro trimestre, praticamente o mesmo padrão com que encerou o ano (2,7% no 4º. trimestre de 2012). Em uma parcela significativa isto se deveu ao emprego na administração pública, defesa, educação, saúde e serviços sociais (+5,6% no primeiro trimestre 2013, praticamente repetindo o índice de 5,3% no último trimestre de 2012) e porque melhorou o emprego em intermediação financeira, atividades imobiliárias e serviços prestados à empresa (2% e 0,8%).

Também não apresenta o mesmo ritmo de outros tempos a evolução do rendimento real dos ocupados, certamente em função da maior inflação deste início de ano. O acréscimo de 1,8% no primeiro trimestre foi muito abaixo dos 4,4% do último trimestre do ano passado. Com isso, a massa de rendimentos avançou 3,8% nos três primeiros meses do ano, uma taxa que ainda pode ser considerada boa para amparar o consumo popular, porém equivalente à metade da expansão dos últimos três meses de 2012.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda