A Situação da Indústria no Início de 2013
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 08/04/2013

A indústria foi tão "mal" em fevereiro como fora "bem" em janeiro. Cresceu 2,6% no primeiro mês do ano, declinando 2,5% em fevereiro relativamente a janeiro. No acumulado do primeiro bimestre teve alta de somente 1,1% com relação ao mesmo período de 2012. Esses números mostram que ainda não se pode falar inequivocamente de uma retomada industrial, lembrando que no ano como um todo de 2012 a produção da indústria caíra 2,7%.

Fatores pontuais concorreram para a pronunciada alternância de resultados. Em janeiro, a retomada apoiou-se na produção de bens de capital para transporte (caminhões) e nos incentivos do IPI concedidos a veículos automotores, alavancando os segmentos de bens de capital e bens duráveis. Em fevereiro, dada a necessidade de recomposição de estoque, a produção do ramo de bens de capital para transporte permaneceu avançando. Mas a de bens duráveis caiu, puxada pela retração de 9,1% (taxa também calculada com relação ao mês imediatamente anterior) das atividades produtivas do ramo de veículos automotores, dada a perspectiva da redução dos incentivos do IPI.

Para isolar esses efeitos episódicos e se ter um quadro mais genuíno do comportamento da indústria nesse início de ano, devem ser focados os setores relativamente menos "contaminados" por variações tão específicas. São os casos de bens intermediários e bens semi e não duráveis. Desse ponto de vista, a indústria praticamente não teve melhora no limiar de 2013. No primeiro caso, após o aumento de 1,2% em janeiro, a produção recuou 1,3% em fevereiro e no setor de bens semi e não duráveis, o pequeno crescimento de 0,2% em janeiro foi sucedido por uma queda significativa de 2,1%. No primeiro bimestre, acumulam-se quedas de 0,3% e 1,5%, respectivamente, nesses dois setores.

Alguns poucos resultados podem ser considerados positivos. Assim, certos ramos industriais que haviam sido muito sacrificados pela perda de competitividade de exportações e pela concorrência do produto importado no mercado interno mostram sinais de melhora a serem confirmados nos próximos meses. São os casos de vestuário, calçados, madeira e mobiliário, os quais receberam incentivos variados do governo. Para outro segmento tradicional, também alvo de incentivos da política industrial, o setor têxtil, não há sinal de mudança de um quadro francamente ruim que se desenvolve desde o início de 2011.

Dificilmente a indústria brasileira deixará de acusar melhoras de produção ao longo do corrente ano com relação a 2012, pela simples razão de que o ano passado foi palco de diversos e significativos casos de ruptura de produção, a exemplo do que ocorreu no setor de caminhões e na indústria automobilística de uma forma geral, que não devem se repetir. Uma realista projeção de crescimento industrial para 2013 seria 2,5%, o que, na prática, significa uma mera recomposição do declínio do setor em 2012.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda