28 de março de 2013

Indústria
As experiências dos SEANICs e do Brasil


  

 
A Carta IEDI que será divulgada hoje analisa a experiência de industrialização da Malásia, da Tailândia e Indonésia, conhecidos como SEANICs (SouthEast Asian Newly Industrialized Countries).

Contrastando com o Brasil, fica claro como a indústria da transformação continua sendo o principal motor daquelas economias, tanto voltada ao setor externo, quanto ao doméstico. Apesar dos bens primários terem galgado maior parcela das exportações e do produto recentemnte, as exportações da indústria de transformação mantiveram forte expansão, diferentemente do Brasil.

Desde 1980 a indústria brasileira caminha a passos lentos, retrocedendo em alguns casos, o que se traduziu no fraco avanço da economia como um todo. O PIB cresceu em média 2,8% entre 1980 e 2010 e o PIB per capita 1,0%. O valor agregado da indústria da transformação registrou um crescimento de 1,6%. E a parcela da mesma nas exportações se reduziu de 53% em 2001-2005 para 47% de 2006-2010 (dados WDI – World Development Indicators). Assim, o Brasil ocupa atualmente a 30ª posição no ranking internacional dos exportadores desses bens, posição atrás da Malásia (19ª) e da Tailândia (20ª), e encostada na Indonésia (31ª), de acordo com a OMC.

Esses três países, conhecidos como SEANICs (SouthEast Asian Newly Industrialized Countries), viveram um crescimento espetacular do PIB e do PIB per capita, respectivamente com médias anuais de 5,4% e 4,0% na Indonésia, 6% e 2,7% na Malásia, e 5,6% e 3,4% na Tailândia entre 1980 e 2010 (dados WDI). A expressiva elevação do PIB foi puxada pelo setor industrial, que reconfigurou suas estruturas produtiva e exportadora. A transformação estrutural dessas economias está entre as mais notáveis da história econômica recente mundial. O crescimento de suas indústrias de transformação alcançou em todos a média de 8% ao ano.

A Malásia é o caso de maior sucesso de diversificação produtiva dos SEANICs, tendo atingido o nível de PIB per capita mais elevado – que, inclusive, é superior ao brasileiro. A sua configuração das exportações é bastante semelhante à mundial, com maior peso nos produtos de média e alta intensidade tecnológica (Malásia 39%, Tailândia 28%, Indonésia 10%, e no Brasil 9% em 2009, de acordo com a UNIDO). A Malásia também promoveu uma rápida urbanização, ao contrário dos outros SEANICs porque mais de 40% da mão-de-obra continua no setor primário (WDI).

Examinando o período mais atual, constata-se que a evolução da indústria da transformação nos SEANICs também superou à brasileira, a taxas médias acima de 5% entre 2000 e 2005 – enquanto a do Brasil foi 3,2% (inferior ao crescimento mundial também). Entre 2005 e 2010, o valor agregado das manufaturas de Indonésia e Tailândia também cresceram significativamente acima do Brasil, que superou apenas a Malásia. Em todos os SEANICs, a participação da indústria da transformação no valor agregado é bastante alta relativamente ao mundo, o que sustenta empregos e salários (WDI e UNIDO).

Porém nos quatro países houve crescimento do setor primário nas exportações e no valor agregado entre 2005 e 2010, por conta do aumento do preço das commodities. Contudo, ainda assim, Indonésia teve um crescimento médio das exportações de manufaturas de 55%, a Malásia 44,5% e a Tailândia 87,5% – enquanto as exportações de manufaturas do Brasil aumentou 8,2% (comparando as exportações em US$ corrente, médias 2001-2005 vs. 2006-2010, dados UNIDO e WDI).

Analisando alguns fatores de competitividade no período mais recente, constata-se clara vantagem de custos de mão-de-obra nos SEANICs. Contrastando os salários médios, depreende-se que na Indonésia são deveras deprimidos. Contudo na Malásia, já são bastante similares ao brasileiro, alcançando uma participação no valor da produção semelhante à nossa (dados UNIDO). A taxa real de juros real no Brasil é bem superior à dos SEANICs, que entre 2005 e 2009 foi em média 2,8% na Malásia e na Tailândia e 1,1% na Indonésia. Além dos juros mais elevados, o Brasil apresenta taxa de câmbio menos competitiva. Apesar do viés de valorização de todas (rúpia indonésia, ringgit, bath e real), os SEANICs, através de um regime de câmbio administrado, mantêm taxas bastante desvalorizadas em relação ao dólar, ao contrário do Brasil.

Quanto ao investimento, os SEANICs apresentam taxas mais elevadas. A formação bruta de capital fixo, entre 2006 e 2010, equivaleu a 20,5% do PIB na Malásia, 26,2% na Tailândia e 28% na Indonésia – enquanto no Brasil foi de apenas 17,7%. E, ao contrário do senso comum, não se pode atribuir as altas taxas de investimento dos SEANICs somente à entrada de investimento direto estrangeiro (IDE). O IDE é também uma pequena parte da formação bruta de capital fixo (FBCF), sendo maior na Malásia (15,8%) e menor na Indonésia (5,5%) em média, entre 2006 e 2010. Além do mais, nesse quinquênio o Brasil recebeu maior porção do IDE mundial do que os países dos SEANICs.

O expressivo crescimento e diversificação da Indonésia, Malásia e Tailândia se deveram, por um lado, às políticas industriais e ao regime macroeconômico (vide o estudo do IEDI de meados de 2011, “Indústria e política industrial no Brasil e outros países”). De outro lado, às estratégias das empresas multinacionais diante do contexto internacional de globalização produtiva e financeira. Os governos dos SEANICs aproveitaram esse contexto, para ativamente transformarem a especialização em recursos naturais em economias diversificadas, ainda que remanesçam problemas estruturais, como a má distribuição de renda.
 

 

 

 

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