Os Ciclos de Produtividade e de Salários
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 25/03/2013

Os dados básicos a respeito do tema são os seguintes: em 2012 a folha média real de salários na indústria, incluindo encargos, aumentou 5,8%. Já a produtividade do trabalho caiu 0,8%. Daí, o chamado custo do trabalho aumentou 6,6% em termos reais. Não é pouca coisa e mostra que o presente ritmo de evolução do custo do trabalho é um problema para a indústria. Em particular para determinados segmentos mais intensivos em trabalho ou onde há uma concentração grande de mão de obra especializada o problema é mais grave, como em software, aeronaves, química fina, farmacêutica, equipamentos de precisão, etc.

Embora em menor proporção, o mesmo padrão verificado em 2012 se apresentou desde 2008. Nesse período, a folha de salários evoluiu em média 3,8% por ano, como se vê, um índice não tão alto quanto o de 2012. Mas, a produtividade do trabalho teve variação média de apenas 0,8%, resultando em evolução média do custo do trabalho de 2,9%. Portanto, se é um fato que os salários vêm subindo com força, em especial em 2012, isto corresponde a uma parte da questão. A outra é que a produtividade na indústria evolui muito lentamente. Para algumas análises tal ascensão recente dos salários é a causa da desindustrialização que se observa na economia. A conclusão não nos parece correta porque os problemas de custo, produtividade e estrutura da indústria brasileira são muito anteriores.

O divórcio entre produtividade e salários nos últimos anos decorre de ciclos opostos que estão presidindo uma e outra variável. De um lado, a produtividade preserva sua característica de ser altamente pró-cíclica com relação ao crescimento industrial, ao passo que o ciclo de salários da indústria é exógeno ao setor. Muito embora fatores de maior fôlego estejam presentes na dinâmica da produtividade industrial brasileira, como o baixo investimento no setor, a negativa variação da produtividade do trabalho em 2011/2012 decorreu da involução da produção industrial do período. Se é assim, é provável que a esperada recuperação da produção em 2013 concorra para redinamizar a produtividade do setor. Sendo retomados os investimentos, um fator adicional se apresentará para dar continuidade a um novo ciclo de produtividade.

Quanto aos aumentos de salários, muito mais acentuados nos últimos anos, isto tem correspondência no grande aumento da demanda de serviços por parte da população que ingressou no mercado de consumo a partir das políticas de renda. A escassez de mão de obra se estendeu para a indústria, mas é possível que esse quadro também esteja se alterando. A população que de fato está no mercado de trabalho (PEA) voltou a acusar uma taxa de crescimento maior, indicando que o atrativo de salários mais elevados e empregos de melhor qualidade já leva a que pessoas que concluíram cursos de especialização e cursos superiores busquem colocação. É possível que 2012 tenha assistido ao auge do descompasso entre produtividade e salários na indústria, sendo também provável que a partir de 2013 os crescimentos relativos de um e do outro se reaproximem.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda