Tem sido uma tônica da trajetória recente da economia
brasileira a disparidade entre o crescimento do comércio
varejista de bens e o desempenho da atividade da produção
industrial. As duas séries, ambas produzidas pelo IBGE,
têm metodologias distintas, o que não autoriza aproximações
indubitáveis. Mas, a diferença dos resultados é
tamanha que não deixa margem a dúvidas: o varejo
cresce muito bem desde 2004 mas a produção industrial
cada vez mais caminha em um ritmo inferior. Assim, tomando tão
somente os dois últimos anos e considerando a indústria
total e o varejo restrito (que não inclui veículos
e material de construção), a produção
indústria teve variação de 0,4% e -2,7%,
respectivamente em 2012 e 2011, enquanto os índices varejistas
foram de 6,7% e 8,4%.
É mais
do que sabido que tal descompasso cresce com a significativa penetração
das importações no mercado consumidor brasileiro,
refletindo também a significativa queda das exportações
industriais. Em outras palavras, a diferença de desempenhos
reflete a crise de competitividade da indústria brasileira,
um fenômeno que, como os trabalhos do IEDI vêm ressaltando,
deriva de fatores acumulados por muito tempo e que levaram à
baixa evolução da produtividade e ao acúmulo
de custos sobre o setor industrial.
Nossa expectativa
para a indústria em 2013 é que haja, pelo menos,
um crescimento da produção compensatório
do declínio ocorrido em 2012. A recuperação
poderá ser maior, superando a casa dos 2,5%, se surtirem
efeitos positivos as medidas de redução de custos
e de juros e menor valorização da moeda.
O que dizer
da perspectiva do comércio? Como já foi observado,
o varejo tem sido um ponto alto da economia brasileira mesmo quando
o PIB teve um negativo ou um fraco desempenho. Em certos momentos,
a elevada performance se deveu ao crédito mais farto, mas,
de um ponto de vista mais geral, sua base de sustentação
decorreu de uma extraordinária evolução do
rendimento médio da população, especialmente
das camadas de mais baixo rendimento favorecidas pelas políticas
de renda do governo.
No ano passado
o excelente resultado foi liderado pelo setor de Supermercados,
alimentos e bebidas (acréscimo de 8,5%), puxado por um
robusto aumento do salário mínimo. Para o segmento
líder de 2012 a expansão do início de ano
já é bem menor, ou seja, 3,4% em janeiro último
com relação ao mesmo mês do ano passado. E,
se é levada em conta a média dos três últimos
meses, chega a 6,2%, uma taxa que ainda pode ser considerada excepcional.
Para outro
setor que impulsionou a trajetória do varejo no ano passado,
Móveis e eletrodomésticos, o mesmo processo de desaceleração
é esperado. Nesse caso, a variação em 2012
alcançou 12,2%, em parte incentivada pelas reduções
de impostos em geladeiras e outros bens da linha branca que já
estão saindo de cena. O crescimento de janeiro e do último
trimestre, de 5,8% e 7,6% respectivamente, acena com um índice
para 2013 de cerca de metade da taxa anterior. Um índice
menor poderá se apresentar em Veículos e motos,
partes e peças, dado que os incentivos fiscais na compra
de automóveis também estão sendo retirados.
A taxa média de aumento das vendas do ano passado de 7,3%
já regrediu para 6,5% nos últimos três meses.
Um ramo muito
relevante para o varejo poderá ter alguma melhora. Tecidos,
vestuário e calçados tem suas vendas associadas
ao poder aquisitivo da população, mas também
respondem às facilidades maiores ou menores do crédito.
Em 2012, sua atividade aumentou 3,5%, um baixo resultado comparado
ao padrão médio do varejo. Nos últimos meses,
contudo, a melhora é patente: aumento de 4,8% na média
do último trimestre e de 5% em janeiro de 2013. Material
de construção é mais um ramo em aceleração,
com crescimento em janeiro de 11,6% contra uma média de
8% em 2012.
Não
há sinal de uma forte desaceleração do varejo
nacional nessa entrada de 2013. O menor ritmo de vendas nos segmentos
líderes – casos de Supermercados, alimentos e bebidas,
Móveis e eletrodomésticos e Veículos e motos,
partes e peças – levará a uma taxa mais baixa
no corrente ano, mas ainda bastante favorável, talvez na
faixa de 6%. Essa taxa é compatível com a evolução
do crédito e da massa real de rendimentos da população
na economia e abre, possivelmente, uma oportunidade para a indústria
brasileira vender mais e crescer mais, a depender de como este
setor ajustará os seus padrões de produtividade
e competitividade.
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