18 de março de 2013

Comércio e Indústria
O desempenho do varejo e a indústria


  

 
Tem sido uma tônica da trajetória recente da economia brasileira a disparidade entre o crescimento do comércio varejista de bens e o desempenho da atividade da produção industrial. As duas séries, ambas produzidas pelo IBGE, têm metodologias distintas, o que não autoriza aproximações indubitáveis. Mas, a diferença dos resultados é tamanha que não deixa margem a dúvidas: o varejo cresce muito bem desde 2004 mas a produção industrial cada vez mais caminha em um ritmo inferior. Assim, tomando tão somente os dois últimos anos e considerando a indústria total e o varejo restrito (que não inclui veículos e material de construção), a produção indústria teve variação de 0,4% e -2,7%, respectivamente em 2012 e 2011, enquanto os índices varejistas foram de 6,7% e 8,4%.

É mais do que sabido que tal descompasso cresce com a significativa penetração das importações no mercado consumidor brasileiro, refletindo também a significativa queda das exportações industriais. Em outras palavras, a diferença de desempenhos reflete a crise de competitividade da indústria brasileira, um fenômeno que, como os trabalhos do IEDI vêm ressaltando, deriva de fatores acumulados por muito tempo e que levaram à baixa evolução da produtividade e ao acúmulo de custos sobre o setor industrial.

Nossa expectativa para a indústria em 2013 é que haja, pelo menos, um crescimento da produção compensatório do declínio ocorrido em 2012. A recuperação poderá ser maior, superando a casa dos 2,5%, se surtirem efeitos positivos as medidas de redução de custos e de juros e menor valorização da moeda.

O que dizer da perspectiva do comércio? Como já foi observado, o varejo tem sido um ponto alto da economia brasileira mesmo quando o PIB teve um negativo ou um fraco desempenho. Em certos momentos, a elevada performance se deveu ao crédito mais farto, mas, de um ponto de vista mais geral, sua base de sustentação decorreu de uma extraordinária evolução do rendimento médio da população, especialmente das camadas de mais baixo rendimento favorecidas pelas políticas de renda do governo.

No ano passado o excelente resultado foi liderado pelo setor de Supermercados, alimentos e bebidas (acréscimo de 8,5%), puxado por um robusto aumento do salário mínimo. Para o segmento líder de 2012 a expansão do início de ano já é bem menor, ou seja, 3,4% em janeiro último com relação ao mesmo mês do ano passado. E, se é levada em conta a média dos três últimos meses, chega a 6,2%, uma taxa que ainda pode ser considerada excepcional.

Para outro setor que impulsionou a trajetória do varejo no ano passado, Móveis e eletrodomésticos, o mesmo processo de desaceleração é esperado. Nesse caso, a variação em 2012 alcançou 12,2%, em parte incentivada pelas reduções de impostos em geladeiras e outros bens da linha branca que já estão saindo de cena. O crescimento de janeiro e do último trimestre, de 5,8% e 7,6% respectivamente, acena com um índice para 2013 de cerca de metade da taxa anterior. Um índice menor poderá se apresentar em Veículos e motos, partes e peças, dado que os incentivos fiscais na compra de automóveis também estão sendo retirados. A taxa média de aumento das vendas do ano passado de 7,3% já regrediu para 6,5% nos últimos três meses.

Um ramo muito relevante para o varejo poderá ter alguma melhora. Tecidos, vestuário e calçados tem suas vendas associadas ao poder aquisitivo da população, mas também respondem às facilidades maiores ou menores do crédito. Em 2012, sua atividade aumentou 3,5%, um baixo resultado comparado ao padrão médio do varejo. Nos últimos meses, contudo, a melhora é patente: aumento de 4,8% na média do último trimestre e de 5% em janeiro de 2013. Material de construção é mais um ramo em aceleração, com crescimento em janeiro de 11,6% contra uma média de 8% em 2012.

Não há sinal de uma forte desaceleração do varejo nacional nessa entrada de 2013. O menor ritmo de vendas nos segmentos líderes – casos de Supermercados, alimentos e bebidas, Móveis e eletrodomésticos e Veículos e motos, partes e peças – levará a uma taxa mais baixa no corrente ano, mas ainda bastante favorável, talvez na faixa de 6%. Essa taxa é compatível com a evolução do crédito e da massa real de rendimentos da população na economia e abre, possivelmente, uma oportunidade para a indústria brasileira vender mais e crescer mais, a depender de como este setor ajustará os seus padrões de produtividade e competitividade.

Leia aqui o texto completo desta Análise.