As Tendências do Varejo no Início de 2013
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 18/03/2013

Desde 2004 o comércio varejista tem sido um ponto alto da economia brasileira mesmo quando o PIB teve um negativo ou um fraco desempenho. Em certos momentos, a elevada performance se deveu ao crédito mais farto, mas, de um ponto de vista mais geral, sua base de sustentação decorreu de uma extraordinária evolução do rendimento médio da população, especialmente das camadas de mais baixo rendimento favorecidas pela política de salário mínimo e pelas transferências dos programas sociais, a exemplo do Bolsa Família.

A propósito, no ano passado, quando as vendas do varejo em seu conceito restrito cresceram 8,4% em termos reais - um índice excepcional tendo em vista um aumento do PIB de apenas 0,9% -, a liderança da expansão coube ao setor de supermercados, alimentos e bebidas (acréscimo de 8,5%), graças a um robusto aumento do salário mínimo. Pois bem, qual a perspectiva que se apresenta para o varejo no corrente ano de 2013, levando-se em conta que agora a variação do salário mínimo foi mais modesta? Para o segmento líder de 2012, a expansão do início de ano já é bem menor, ou seja, 3,4% em janeiro último com relação ao mesmo mês do ano passado. E, se é levada em conta a média dos três últimos meses, chega a 6,2%, uma taxa que ainda pode ser considerada excepcional. Para outro setor que impulsionou a trajetória do varejo no ano passado, móveis e eletrodomésticos, o mesmo processo de desaceleração é esperado. Nesse caso, a variação em 2012 alcançou 12,2%, em parte incentivada pelas reduções de impostos em geladeiras e outros bens da linha branca que já estão saindo de cena. O crescimento de janeiro e do último trimestre, de 5,8% e 7,6% respectivamente, acena com um índice para 2013 de cerca de metade da taxa anterior. Um índice menor poderá se apresentar em veículos e motos, partes e peças, dado que os incentivos fiscais na compra de automóveis também estão sendo retirados. A taxa média de aumento das vendas do ano passado de 7,3% já regrediu para 6,5% nos últimos três meses.

Um ramo muito relevante poderá ter alguma melhora. Tecidos, vestuário e calçados tem suas vendas associadas ao poder aquisitivo da população, mas também respondem às facilidades maiores ou menores do crédito. Em 2012, sua atividade aumentou 3,5%, um baixo resultado comparado ao padrão médio do varejo. Nos últimos meses, contudo, a melhora é patente: aumento de 4,8% na média do último trimestre e de 5% em janeiro de 2013. Material de construção é mais um ramo em aceleração, com crescimento em janeiro de 11,6% contra uma média de 8% em 2012.

Não há qualquer sinal de uma forte desaceleração do varejo nacional nessa entrada de 2013. A indicação é de que o menor ritmo de vendas nos segmentos líderes - casos de supermercados, alimentos e bebidas, móveis e eletrodomésticos e veículos e motos, partes e peças - levará a uma taxa mais baixa no corrente ano, mas ainda bastante favorável, como 6%. Essa taxa é compatível com a evolução do crédito e da massa real de rendimentos da população na economia.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda