O Desenho da Economia no Pós-crise
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 11/03/2013

Um pequeno, mas muito elucidativo estudo do IEDI a propósito dos últimos resultados do PIB chama a atenção para o desenho da economia brasileira nos quatro anos e um trimestre que nos separam da eclosão da grande crise financeira mundial de setembro de 2008. Nesse período, o PIB do Brasil cresceu 9,3%. A composição desse crescimento é reveladora de tendências nada confortantes. Qual é a economia que está sendo desenhada?

Consumo x investimento - A economia está muito apoiada no consumo, cujo crescimento desde a crise chegou a 19,7%, e não no investimento, que acumulou aumento de apenas 6,1%. Para crescer mais e de modo mais prolongado, teria que ser o inverso.

Exportação e importação - Não é por falta de dinamismo das importações que a economia e a indústria não vão para frente. As compras de bens e serviços no exterior foram 34,8% maiores, mas, a despeito de toda nossa força em commodities, foi dramática a timidez das exportações brasileiras (aumento de somente 5,9%). Há um abismo entre o dinamismo importador e exportador que se não for corrigido vai gerar problemas para o crescimento a longo prazo.

Investimento e poupança - Por não investir muito e ser pouco exportadora, a economia tem também baixa poupança. Em 2012 a taxa de investimento sobre o PIB foi de 18,1%, inferior à de 2011, 19,3%. A taxa de poupança de 17,2% de 2011 cedeu lugar a 14,8% em 2012. No Brasil a poupança é baixa porque seu investimento é pequeno e a exportação não cresce.

A especialização em serviços - O setor, que é decisivo porque é grande empregador, teve evolução de 11,6%. Contudo, como os demais macro setores caminham na contramão (variação de apenas 2% em agropecuária e retração de 0,1% na indústria) o próprio setor de serviços acabará sendo afetado. O encolhimento da produção de bens pode tirar a sustentação do crescimento baseado apenas em serviços.

A festa da atividade financeira - Nosso modelo alicerçado no consumo fez a festa do crédito e da atividade financeira. Esse segmento liderou a expansão em serviços (aumento de 22%). Mas, outros serviços de qualidade também tiveram evolução, embora bem menor, a exemplo, de serviços de informação (14,2%) e educação e saúde pública (10,2%). Os serviços de qualidade precisam manter seu dinamismo, o que dependerá do melhor desempenho dos setores produtivos que são demandantes. A volta do crescimento da indústria é uma condição para a o crescimento dos serviços de qualidade.

Desindustrialização - O fenômeno para o qual diversos autores já vinham chamando a atenção tornou-se mais do que evidente. A indústria de transformação, o coração do sistema industrial, teve queda de 5,9%. O retrocesso decorre do modelo de alto consumo e baixo investimento e exportação, sem que políticas industriais e de compensação no câmbio e na competitividade industrial tenham sido implementadas, exceto nos dois últimos anos, mas cujos resultados ainda são incertos e devem demorar em seus efeitos. A desindustrialização é um fato e não uma mera especulação.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda