7 de março de 2013

Indústria
Otimismo muito cauteloso


  

 
Diferentemente do ano passado, a indústria brasileira abre este ano com resultados positivos. De fato, se em janeiro de 2012 a produção industrial caiu 2,1%, refletindo a retração das atividades produtivas nos setores de bens de capital (–17,9%), bens duráveis (–3,7%) e bens intermediários (–2,2%) – no setor de bens semi e não duráveis, a produção cresceu 0,7% naquele ano –, em janeiro de 2013, a produção industrial cresceu 2,5%, com expansão da produção em todos os seus setores: no setor de bens de capital, o aumento foi de 8,2%; no de bens duráveis, de 2,5%; no de bens intermediários, de 0,9%; e no de bens semi e não duráveis, de 0,2% – todas as taxas calculadas com relação ao mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.

Esse crescimento de 2,5% da produção industrial em janeiro, divulgado hoje pelo IBGE, deve ser bem recebido. Ele representa uma reação da indústria: dezoito dos vinte e sete ramos industriais pesquisados pelo IBGE apresentaram crescimento da produção em janeiro. Mas, ao mesmo tempo, ele deve ser interpretado com cuidado, pois dois fatores estão “jogando para cima” o desempenho da indústria brasileira neste início de ano. O primeiro deles tem a ver com a baixa base de comparação. O segundo está ligado ao desempenho específico de alguns poucos setores.

Como se sabe, a produção industrial fechou 2012 com forte retração (–2,6%), com queda das atividades em grande parte de seus ramos. E pior: ela terminou 2012 perdendo ritmo, ou melhor, no último trimestre do ano, a produção industrial assinalou retração. A indústria como um todo trabalhou, portanto, com níveis relativamente baixos de produção no ano passado, marcadamente nos seus últimos meses, o que faz com que a produção de janeiro, quando comparada a esse período, apresente um “salto” maior.

No entanto, mais significativo para explicar o aumento de janeiro último é o desempenho de alguns ramos da indústria nacional. O setor de bens de capital, por exemplo, cresceu 8,2% em janeiro frente a dezembro (com ajuste sazonal) e 17,3% frente a janeiro de 2012. São taxas expressivas, mas que refletem o comportamento de um segmento específico. De fato, com relação a janeiro do ano passado, o crescimento de 17,3% decorreu praticamente da produção de bens de capital para transporte (aumento de 61,3%!), já que, nos demais segmentos produtores de bens de capital, com exceção de bens de capital para energia (+8,6%), a produção recuou (–3,9% na produção de bens de capital para a indústria; –18,5% na produção de bens de capital para a agricultura; –31,5% na produção de bens de capital para a construção; –1,9% na produção de bens de capital para uso misto). E esse amento de bens de capital para transporte deveu-se, basicamente, à retomada da produção de caminhões, que, em 2012, teve sua produção reduzida por conta da antecipação das compras ocorridas em 2011 (já que, em 2012, passariam a valer novas normas técnicas para tais veículos).

Outro ramo que merece ser destacado, pois também contribuiu muito para o resultado de janeiro, é o de veículos automotores. Em janeiro último, a produção de tal ramo da indústria cresceu 4,7% frente a dezembro (com ajuste sazonal) e 39,3% frente a igual mês do ano passado. Esse ramo está se valendo, como se sabe, dos incentivos do IPI, ou ainda, seu desempenho tem sido, em alguma medida, favorecido por esse fator específico que tem data para terminar.

Esses dados indicam que ainda é cedo para se falar que a indústria entrou numa trajetória mais robusta de crescimento. O desempenho do setor de bens intermediários até favoreceria um pouco essa leitura, já que ele é o de maior peso na indústria e teve aumento bastante satisfatório de sua produção (+0,9%) em janeiro com relação a dezembro (com ajuste sazonal). Mas, mesmo assim, cabe esperar e observar a evolução da produção desse setor no primeiro trimestre para se afirmar algo nesse sentido. De qualquer modo, como visto acima, o que se pode afirmar é que o setor de bens de capital (e, portanto, os investimentos) ainda não entrou, definitivamente, no caminho da recuperação.

Leia aqui o texto completo desta Análise.