6 de março de 2013

Comércio Exterior
e Política Econômica
O Brasil e as cadeias globais de valor


   

 
Voltou à tona o tema do afastamento do Brasil das cadeias globais de valor. Mas, no debate pouco se tem dado ênfase ao fato de que isso ocorre há décadas. Dada a larga experiência por nós acumulada, outro ponto também deveria ser pacífico: as políticas que se baseiam simplesmente na abertura às importações não podem ser consideradas bem-sucedidas para a integração da economia brasileira. Tampouco serão exitosas as políticas baseadas na proteção pura e simples.

Políticas de competitividade, industriais e de desenvolvimento tecnológico e ações para atração de empresas transnacionais serão decisivas. O Brasil pode e deve também ampliar seus acordos de comércio. Como o fazem os emergentes bem-sucedidos, nas negociações comerciais é fundamental valorizar seu potencial importador como forma de impulsionar sua capacidade exportadora. Não será tarefa fácil.

As três últimas décadas presenciaram alterações de grande envergadura na distribuição espacial das cadeias manufatureiras. A globalização das cadeias de valor ocorreu de forma muito assimétrica. As economias centrais perderam posição no valor agregado manufatureiro, enquanto economias emergentes com maior grau de industrialização também sofreram, ainda que perdas menores, como é o caso do Brasil. Os ganhadores foram os asiáticos sob a liderança chinesa.

A mudança na configuração espacial da indústria foi marcada por um intenso processo de centralização manufatureira à escala mundial e acompanhada de um grande esforço das corporações transnacionais para concentrar suas estratégias na “atividade principal”. As consequências dessas transformações não são triviais. A centralização do controle na grande corporação deu lugar à “exteriorização” dos segmentos produtores de peças, componentes e bens finais sob o comando “inteligente” da chamada “empresa integradora”, responsável pelas concepções estratégicas.

Esse movimento barateou enormemente os custos e aumentou a eficiência dos sistemas da produção manufatureira. Nada disso seria possível sem os acordos de liberalização comercial sob a supervisão da OMC. Tampouco esse processo teria avançado sem as inovações nas tecnologias da informação e de comunicações, e sem as importantes transformações na logística, sobretudo na generalização dos contêineres.

O Brasil e a América Latina ficaram praticamente à margem desse processo. Antes do Plano Real, a crise aguda de balanço de pagamentos e a ameaça hiperinflacionária afastaram o País das estratégias de reorganização da grande empresa transnacional. Depois, a valorização do real, além de reanimar a vulnerabilidade externa, desfavoreceu a participação brasileira nas cadeias produtivas globais, sobretudo onde ocorriam com mais intensidade as transformações estruturais e tecnológicas, dentre eles os setores de tecnologia de informação e comunicações e na eletrônica.

Isso não significa que as empresas transnacionais tenham deixado de buscar o mercado brasileiro e o Mercosul. Mas a motivação do investimento é claramente a atração exercida pelo mercado interno regional. Na maioria dos casos, o Brasil participa das cadeias globais na ponta final do processo produtivo. É bom esclarecer que a participação nas cadeias envolve uma dinâmica peculiar entre exportações e importações: se produz para exportar tanto quanto se importa para produzir.

Portanto, há muito tempo o Brasil está afastado do movimento de reestruturação produtiva e empresarial que atende pelo nome de globalização. Esse afastamento tem início na segunda metade dos anos 70 do século passado, quando o Brasil escolheu os setores básicos e tradicionais para mover seu processo de avanço industrial. Nos últimos 40 anos, fizemos adições marginais à estrutura manufatureira com baixa capacidade de inovação e de integração às cadeias.

Um atraso tão prolongado é de difícil recuperação, mas devemos tentar nas linhas já indicadas: precisam ter continuidade as políticas de competitividade, industriais e de desenvolvimento tecnológico, assim como devem ser intensificadas as ações para atração de empresas transnacionais e as iniciativas para a ampliação dos acordos de comércio.

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