5 de março de 2013

Economia Brasileira
A desindustrialização e outras características da economia brasileira no pós crise


  

 
Nos quatro anos e um trimestre que nos separam da eclosão da grande crise mundial (em setembro de 2008) o PIB teve aumento de 9,3%, o que não pode ser considerada uma marca pujante. A composição desse crescimento, mais do que o seu quantitativo, é reveladora de tendências nada confortantes da economia brasileira. Qual é a economia que está sendo desenhada?

Consumo x investimento.

Os últimos dados do PIB revelam uma economia que apóia seu (baixo) dinamismo no consumo (que cresceu 19,7% entre o terceiro de 2008 e o último trimestre de 2012) e não no investimento que cresceu apenas 6,1% no mesmo período e caiu -2,6% nos dois últimos anos.

  • Para crescer mais e de modo mais prolongado, teria que ser o inverso, ou seja, com muito maior dinamismo para o investimento.

Exportação e importação

Não é por falta de dinamismo das importações que a economia e a indústria (que é a grande importadora do país) não vão para frente. As importações de bens e serviços tiveram aumento de 34,8%. Do outro lado, a despeito de toda pujança de nossas exportações de commodities, é dramática a timidez das nossas exportações que tiveram aumento de somente 5,9%

  • Está desequilibrada a relação entre o dinamismo exportador (para menos) e importador (para mais).

Investimento e poupança

Sendo uma economia pouco investidora e pouco exportadora, a economia brasileira tem também baixa poupança. Em 2012, a taxa de investimento sobre o PIB foi de 18,1%, inferior à de 2011, 19,3%. A taxa de poupança de 17,2% de 2011 cedeu lugar a 14,8% em 2012.

  • No Brasil a poupança é baixa porque seu modelo é de baixo investimento e a exportação tem pouco dinamismo.

Macro setores

A análise do desempenho dos macro setores mostra que o país se especializa progressivamente em serviços. Este evoluiu 11,6%. Serviços é um setor decisivo porque, dentre outras vantagens, é grande empregador. Seu dinamismo é, portanto, muito positivo. Mas, uma economia onde os demais grandes setores industrial e agropecuário caminham na contramão (o primeiro teve aumento de apenas 2% e o segundo experimentou retração de 0,1%) acabará sofrendo em serviços as consequências disto.

  • O encolhimento da produção de bens pode tirar a sustentação do crescimento baseado apenas em serviços.

A festa da atividade financeira

Nosso modelo de crescimento, apoiado no consumo e em serviços, fez a festa do crédito e da atividade financeira. Esse segmento liderou o crescimento em serviços (aumento de 22%, mas, notar que nos dois últimos anos a variação foi de apenas 1,7%). Entretanto, outros serviços de qualidade também tiveram evolução, embora bem menor, a exemplo, de serviços de informação (14,2%) e educação e saúde pública (10,2%). É muito importante que os serviços de qualidade mantenham dinamismo, o que dependerá do melhor desempenho dos setores produtivos demandantes de serviços.

  • A volta do crescimento da indústria é uma condição para a o crescimento dos serviços de qualidade.

Desindustrialização

A desindustrialização, um fenômeno para o qual diversos autores já vinham chamando a atenção, tornou-se um inquestionável. A indústria de transformação, o coração do sistema industrial, acumulou queda de 5,9% no período. Este retrocesso decorre do modelo de alto consumo e baixo investimento e exportação, sem que políticas industriais e ações compensatórias no câmbio e na competitividade industrial tenham sido implementadas exceto nos dois últimos anos, cujos resultados ainda são incertos e devem demorar em seus efeitos.

  • A desindustrialização é um fato.