Por que o investimento não decola?
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 25/02/2013

Depois de praticamente dois anos de retrocesso, é possível que o investimento venha a ter crescimento em 2013. Não é seguro que isto vá ocorrer, mas um primeiro sinal já é possível identificar nas operações do BNDES. Estas cresceram muito em 2012, mas o fato de maior relevância é que evoluíram em mais de 60% as consultas sobre novos investimentos das empresas. É um sinal, como foi observado, porque, por enquanto, a reação se dá ao nível das intenções de investir das empresas, é claro, atraídas por condições especiais de financiamento criadas pelo banco precisamente para convencer os empresários sobre a necessidade de investirem. Entre a intenção e o investimento transcorre um período em que os planos podem mudar e a inversão planejada pode ser interrompida. Uma elevação da taxa de juros se não for muito bem conduzida tem o poder de abortar processos iniciais de retomada das inversões, algo que agora volta a se apresentar como um risco para a recuperação do crescimento da economia brasileira. Devido a uma inflação mais alta, o Banco Central tem alertado que pode vir a aumentar a taxa básica de juros, embora mantenha a cautela de advertir que, caso ocorra, o processo não será intenso o bastante para reposicionar os juros aos níveis anteriores.

As análises sobre o declínio do investimento no período recente tenderam a apontar como causas o excesso de intervenções do governo e a falta de interlocução deste com o setor privado, o que teria aprofundado as desconfianças empresariais sobre o futuro da economia brasileira e sobre a estabilidade das "regras do jogo". O ambiente empresarial, o grau de confiança atribuído pelos potenciais investidores ao futuro econômico e as sinalizações dos mercados de ações e mercados financeiros, de fato têm muito a ver com a decisão de investir.

Como advertia Keynes, sendo o investimento a ponte que liga o presente e o futuro em qualquer economia e como o futuro é de difícil antecipação e sujeito a muitas incertezas, o "clima" dos negócios e o "espírito animal" dos empresários, que em parte é guiado pelas avaliações dos mercados, são relevantes para definir o curso das inversões. Mas será que esses fatores relacionados ao subjetivo mundo das expectativas e do funcionamento dos mercados financeiros como sinalizadores dos rumos da economia esgotam o tema do declínio das inversões no Brasil?

Para um poderoso empresário, as razões do problema são muito mais "reais" do que se propala. Assim, tomando os principais setores formadores do investimento agregado, na indústria a concorrência com o produto importado que retira mercado da produção doméstica é o maior inibidor dos investimentos pelo menos até que se veja luz no fim do túnel da crise industrial. Custos e preços muito elevados limitam o investimento em setores de serviços e em construção habitacional. Na infraestrutura, as causas estão na fixação pelo governo de níveis muito baixos de rentabilidade dos projetos a cargo do setor privado e em problemas de gestão no que diz respeito aos projetos diretos do setor público.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda