Uma Trajetória Ainda Indefinida
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 18/02/2013

O ano de 2012 foi um desastre para a indústria brasileira. Com exceção de 1992 e 2009, a retração de 2,7% da produção industrial foi o pior resultado registrado na série histórica do IBGE, iniciada em 1992. Ou seja, desconsiderando estes dois anos, a indústria não amargava, nos últimos 20 anos, uma queda de sua produção dessa dimensão e natureza (retração generalizada). Ainda mais preocupante, 2012 não deixa um sinal mais forte no sentido de uma retomada, o que faz de 2013 um ano indefinido quanto aos rumos do setor.

Não será captada a gravidade da situação da indústria se não tivermos em conta os determinantes de sua crise, que são profundos, envolvem as dimensões interna e externa e requererão continuidade de políticas para sua superação. A crise mundial desnudou o impasse industrial brasileiro por estreitar os mercados consumidores de bens industriais ao redor do mundo, o que potencializou a concorrência pelos poucos mercados dinâmicos existentes, como é o mercado interno do Brasil.

O excesso de capacidade de produção a nível global em si já asseguraria baixos preços de penetração em mercados com essa característica, mas em nosso país certas condições tornaram especialmente favoráveis a conquista do nosso mercado: 1) as lacunas gritantes na nossa estrutura industrial pela falta de políticas industriais nas últimas duas décadas; 2) a operação industrial a custos muito elevados particularmente em se tratando de custos sistêmicos; 3) a prolongada sobrevalorização da moeda que não amortecia, pelo contrário, aprofundava, o efeito destas distorções; 4) finalmente, nos últimos anos, uma evolução diminuta da produtividade não compensou o crescimento de salários.

O governo vem adotando políticas industriais, procura diminuir o impacto do real valorizado e promove reduções de custo, medidas que farão efeito, mas não a curto prazo e, ainda assim, parcialmente, dada a magnitude e a diversidade dos problemas acumulados. Enquanto isso, a indústria brasileira terá que conviver com uma concorrência do produto estrangeiro que se apropria de grande parte do dinamismo do mercado interno e restringe as exportações de manufaturados do Brasil.

Havia a expectativa de que o final de 2012 mostrasse melhora, mas a produção encolheu 0,3% entre o terceiro e o quarto trimestre. Isso significa que a indústria não somente teve um dos piores anos de sua história recente, como encerrou o ano passado sem mostrar uma reação mais consistente, não projetando uma trajetória clara de evolução em 2013. Este certamente será um ano mais positivo, sobretudo em razão dos ajustes de estoques que já foram realizados em diferentes segmentos industriais, com exceção de bens de capital, e diante da perspectiva da retomada dos investimentos da economia brasileira, tal como indica o aumento das consultas de financiamentos junto ao BNDES. Dadas as tendências atuais, o crescimento poderá ser modesto, como 2,5%. Mas, sobretudo, o que deve ser sublinhado é que 2013 ainda está em aberto para a indústria nacional.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda