1º de fevereiro de 2013

Indústria
Um jogo em aberto


  

 
Com exceção de 1992 e 2009, anos em que o PIB brasileiro caiu, a retração de 2,7% da produção industrial em 2012 é o pior resultado registrado na série histórica do IBGE, iniciada em 1992. Ou seja, desconsiderando aqueles dois anos de recessão da economia brasileira, a indústria não amargava, nos últimos vinte anos, uma queda de sua produção da dimensão e da natureza (retração generalizada) como a vista no ano passado.

É uma crise profunda, explicitada pela perda de parcelas do mercado interno para os produtos importados (estudo do Banco Central mostra que, em 2011, 100% da expansão dos mercados internos de bens manufaturados foi capturada pelo bem importado – e muito provavelmente isso não mudou em 2012) e pelo encolhimento das exportações nacionais de bens tipicamente produzidos pela indústria manufatureira (segundo estudo do IEDI, tais exportações recuaram 2,6% em 2012).

Vale dizer, em 2012, viu-se a continuação da forte concorrência do produto importado no mercado doméstico, ao que se somou uma queda das exportações da indústria nacional – derivada não somente pelo fraco desempenho dos mercados externos no mundo, mas também pelo acirramento da concorrência nesses mercados –, os quais são indicadores da baixa competitividade de nossa indústria.

Além disso, a retração de aproximadamente 4,0% dos investimentos na economia brasileira em 2012 contribuiu decididamente para o desempenho negativo da produção, já que todo investimento é “carregado” de produtos da indústria.

Para piorar esse cenário, no final de 2012, a indústria nacional não melhorou. Na passagem de novembro para dezembro, a produção ficou estagnada (0,0%), com retração nos setores de bens de capital (–0,8%), bens intermediários (–0,1%) e bens de consumo duráveis (–0,5%) – somente o setor de bens de consumo semi e não duráveis apresentou variação positiva, de 0,9% (todas as taxas calculadas com ajuste sazonal).

E havia a expectativa de que o quarto trimestre de 2012 fosse melhor, assim como fora o terceiro. Mas isso não ocorreu: no último trimestre do ano passado, a produção encolheu 0,3% frente ao terceiro (com ajuste sazonal). Isso significa que a indústria não somente teve um dos piores anos de sua história recente, como encerrou 2012 sem mostrar uma reação mais consistente de sua produção – mesmo diante das medidas do governo para estimular a atividade industrial, sem as quais o desempenho do setor seria ainda mais adverso.

Ou seja, o final de 2012 não projeta uma trajetória de crescimento mais robusto da indústria em 2013. O que esperar para este ano? Avaliamos que a indústria não irá repetir o resultado do ano passado. O corrente ano será mais positivo para a produção industrial, sobretudo em razão dos ajustes de estoques que já foram realizados em diferentes segmentos industriais, com exceção de bens de capital, e diante da perspectiva da retomada dos investimentos da economia brasileira, tal como indica o forte aumento das consultas de novos financiamentos junto ao BNDES.

Isso não significa dizer que a indústria viverá um ano de bonança, pois a pressão do produto estrangeiro no mercado interno e em mercados de exportação brasileiros deverá ser mantida, muito embora comecem a aparecer os primeiros resultados das medidas de redução de custos adotadas pelo governo em 2012. Um crescimento modesto – como 2,5% – nos parece ser o mais indicativo das tendências atuais. Mas, sobretudo, o que deve ser sublinhado é que 2013 ainda está em aberto para a indústria nacional.

Leia aqui o texto completo desta Análise.