Dados divulgados pelo BNDES mostram uma evolução
expressiva de seus recursos liberados para os projetos entre 2011
e 2012: 12,2% ou, em termos reais, 5,4%. Os desembolsos alcançaram
R$ 156 bilhões no ano passado e R$ 139 bilhões no
ano anterior. O ponto que deve ser salientado, contudo, diz respeito
aos números das consultas feitas pelas empresas ao BNDES
para fins de obtenção de recursos. A evolução
das consultas reflete a intenção de investir dos
empresários, sendo, portanto, um indicador do investimento
futuro. As sondagens ao BNDES por parte dos empresários
abrangem desde inversões curtas, até as que serão
efetivadas em um período longo de tempo. Acreditamos que
um prazo médio como um ano seja razoável como referência
entre consultas e inicio da realização do investimento,
entendida a realização do investimento como a produção
do ativo ou do bem de inversão objeto da decisão
de investir.
Pois bem,
o valor das consultas em 2012 aumentou nada menos do que 60% com
relação a 2011, com grande aceleração
no segundo semestre (variação de 85%). Entre o primeiro
e o segundo semestre do ano passado a elevação chegou
a 65%, em parte porque o governo reduziu a taxa de referência
dos financiamentos do BNDES (a TJLP) e diminuiu a taxa de programas
incentivados pelo Banco, como o “PSI” (Programa de
Sustentação do Investimento, criado na crise de
2009), que teve sua taxa de juros fixada em apenas 2,5%. A elevação
desta taxa para 3,5% em 1º de janeiro foi um fator adicional
de corrida ao banco no segundo semestre do ano passado. Outro
fator extra de pedidos de financiamento originou-se de uma ação
anticíclica que levou à criação do
Programa de Financiamento dos Investimentos dos Estados (o Proinvest).
Ainda que
se leve em consideração esses fatores, o aumento
das intenções de contratação de financiamento
foi muito expressivo e generalizado entre os setores da indústria
e dos serviços, levando a um otimismo maior quanto a uma
possível aceleração do investimento na economia
brasileira no corrente ano. Vai na mesma direção
o aumento das operações de financiamento para compra
de bens de capital (Finame) nos últimos meses do ano. Os
dados sugerem uma aceleração maior no segundo semestre.
Reforça essa tendência a constatação
de que há um nítido reforço da demanda de
financiamento de grandes projetos junto ao BNDES, denotando que
os setores mais intensivos em capital retornam com grandes programas
de inversão.
São
exemplos, os ramos de extração e derivados de petróleo
(programas da Petrobrás); setor farmoquímico e farmacêutico;
equipamento de informática, eletrônico e ótico;
outros equipamentos de transporte; saneamento; eletricidade e
gás; transporte aéreo; transporte aquaviário
e telecomunicações. Grandes ausências são
notadas no setor de veículos, para o qual a política
industrial anunciou um regime todo especial (o Regime Automotivo).
Também
se nota a ausência em ramos produtores de insumos fundamentais
(como celulose e papel, metalurgia, química, minerais não
metálicos) nos quais a política industrial resiste
em atuar. Em insumos básicos o IEDI vem defendendo uma
forte política orientada para o barateamento dos seus custos.
Sendo a base de diversas outras cadeias produtivas, a redução
de custos nesse caso aumentaria a competitividade não só
dos ramos do próprio setor como em bens finais –
bens de capital e bens de consumo – que, por isso, poderiam
conviver com níveis menores de tarifas de importação,
o que, por seu turno, colaboraria uma rodada à frente para
o barateamento adicional do investimento e da produção
realizada no país. Como o governo vem adotando uma política
de desoneração tributária, poderia passar
a eleger a área de insumos básicos como prioridade
número um para este fim. Esta seria uma diretriz que do
nosso ponto de vista teria maior abrangência e eficácia
do que incentivar a compra de bens de consumo ou mesmo desonerar
a folha de salários que, indubitavelmente, traz benefícios
ao setor produtivo.
Para algumas
interpretações, a ação do BNDES em
2012 tão somente deslocou financiamento de outras fontes.
Contudo, a análise dos números de seu desempenho
sugere que a atuação do banco de fomento foi além,
concorrendo para que projetos antes engavetados estejam sendo
revisitados pelos empresários.