A Perspectiva de Crescimento da Indústria
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 17/12/2012

Mesmo tendo crescido mais no terceiro trimestre, neste ano a indústria puxará para baixo o PIB brasileiro. Nos três primeiros trimestres de 2012 o PIB aumentou somente 0,7%, com a indústria regredindo 1,7%. Uma crise na dimensão com que se apresentou na indústria brasileira não fica restrita a esse setor, mas sim, se alastra para outros segmentos porque as compras pela indústria de bens e serviços intermediários caem correspondentemente ao declínio da produção industrial. Além disso, a crise derruba o investimento no setor, o que contagia o investimento em outros setores e concorre para deprimir a inversão global na economia. Crise industrial, colapso do investimento e baixo crescimento estão interligados e compõem o mesmo processo. Alcançar um desempenho econômico superior em 2013 dependerá da recuperação da indústria. Há perspectiva de que isto venha a ocorrer?

À primeira vista o último resultado industrial não poderia ter sido melhor. Com relação a setembro, a produção de outubro cresceu 0,9% e relativamente a outubro do ano passado aumentou 2,3%. O último índice interrompeu uma série longa (13 meses) de declínio e o primeiro vem depois de uma queda (-0,6%) no mês de setembro. Mas, as aparências enganam. Analisado mais detidamente, o aumento da produção em outubro revela fraquezas graves. Destacamos as seguintes:

1) Uma forte retração em outubro do ano passado, especialmente em bens duráveis, aliado ao número maior de dias úteis de outubro do corrente ano (mais dois dias úteis) explica em grande medida a evolução na comparação anual;

2) Quanto ao acréscimo de 0,9% frente a setembro, basta observar que ele foi construído integralmente pelo grande impulso da indústria extrativa (8,9%), com destaque para ferro, enquanto a indústria de transformação registrava variação nula.

Ou seja, apesar de positivo, o resultado de outubro não é de todo convincente e favorecedor de expectativas especialmente favoráveis de que a indústria retome uma trajetória de intenso crescimento. Não convence porque ainda não é geral. Além da já observada dependência do resultado global ao setor extrativo, dos quatro grandes setores da indústria por categoria de uso, bens de consumo duráveis e bens intermediários tiveram expansão de 1,4% e 0,6%, respectivamente, mas em bens de capital e bens de consumo semi e não duráveis houve retração de -0,6% e -0,3%. Dos 27 ramos industriais pesquisados pelo IBGE, em somente 13 ocorreu aumento da produção. Além disso, cabe sublinhar que a evolução do setor de duráveis (que foi determinante para o resultado de outubro) deveu-se muito à produção de veículos e de bens da chamada "linha branca", que contam com inventivos fiscais. A nosso ver, a indústria está transitando de uma etapa francamente recessiva iniciada em meados de 2011 para uma fase mais favorável mas ainda há dúvidas sobre a intensidade da retomada em 2013. De qualquer forma, é esperado um vigor maior e mais abrangente do setor em razão da expectativa de um quadro melhor para a economia brasileira.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp