O Significado do Baixo Aumento do PIB Julio Gomes de Almeida – Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp Brasil Econômico – 10/12/2012 O crescimento de 0,6% do PIB no terceiro trimestre com relação ao segundo trimestre teve um lado positivo, pois deixou para trás quatro trimestres seguidos de virtual estagnação econômica. Mas foi também revelador de que falta força à economia brasileira. A fraqueza é revelada pelos determinantes do crescimento. O maior aumento do PIB não veio nem da aceleração do consumo (que evoluiu 0,9% no terceiro trimestre, contra 0,7% no segundo trimestre) e nem dos investimentos, os quais, em verdade, aprofundaram sua queda (-2,0% e -1,6%, respectivamente no terceiro e no segundo trimestre); ele veio, sobretudo, da queda muito acentuada das importações de bens e serviços (-6,5% e -1,5%). As exportações melhoraram, mas o crescimento no trimestre em tela foi ainda baixo, 0,2% (-3,5% no trimestre anterior). É possível que o câmbio mais desvalorizado já esteja conferindo uma maior competitividade à produção doméstica, mas a redução fortíssima das importações certamente responde ao baixo dinamismo de setores especialmente afetados pela conjuntura adversa da economia e que são muito dependentes de importações. Contenção das importações por meio de mecanismos de defesa comercial e majoração de impostos sobre a importação podem ter também contribuído para o resultado. Outro ponto a salientar é que a frágil situação da economia tem como principal determinante o comportamento do investimento. Os dados do terceiro trimestre evidenciam dois fatos do maior significado:
Tais problemas se colocam a despeito de muitas ações adotadas pelo governo - redução da taxa Selic, menor volatilidade cambial, cortes em custos básicos da economia (tributos, crédito, energia elétrica, folha de salários), incentivos para bens duráveis, combate à guerra fiscal predatória, programas de concessões no setor de infraestrutura, etc. - o que evidencia a complexidade da situação econômica atual que combina crise industrial e colapso do investimento. A economia estaria em uma recessão aberta na ausência dessas ações, que, por isso, são indispensáveis. Mas o governo poderia procurar aprofundar ainda mais a política de investimentos que atualmente se apoia essencialmente no baixo custo dos financiamentos do BNDES. Incentivos fiscais mais profundos e de maior horizonte para o investimento empresarial, remoção de obstáculos ao investimento público, incluindo a Petrobras, e maior interlocução com os agentes que comandam os investimentos seriam objetivos importantes para complementar a política econômica. Julio
Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política
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