À primeira vista o resultado industrial de outubro não
poderia ter sido melhor. Com relação a setembro
a produção na série ajustada sazonalmente
cresceu 0,9% e relativamente a outubro do ano passado aumentou
2,3%. O último índice interrompeu uma série
longa (13 meses) de declínio e o primeiro vem depois de
uma queda de -0,6% no mês de setembro.
Mas, as aparências
enganam. Analisado mais detidamente, o aumento da produção
em outubro revela fraquezas graves. Destacamos as seguintes: 1)
uma forte retração em outubro do ano passado, especialmente
em bens duráveis, aliado ao número maior de dias
úteis de outubro do corrente ano (mais dois dias úteis)
explica em grande medida a evolução na comparação
anual; 2) quanto ao acréscimo de 0,9% na comparação
mensal, basta observar que ele foi construído integralmente
pela grande majoração da indústria extrativa
(8,9%), com destaque para ferro, enquanto a indústria de
transformação registrava variação
nula.
Em suma, apesar
de positivo, o resultado de outubro não é de todo
convincente e favorecedor de expectativas de que a indústria
retome uma trajetória de crescimento mais “firme”
ainda neste final de ano, o que sinalizaria um desempenho mais
robusto no início de 2013.
Não
convence porque ainda não é geral. Além da
já observada dependência do resultado global ao setor
extrativo, dos quatro grandes setores da indústria por
categoria de uso, houve crescimento em bens de consumo duráveis
(1,4%) e bens intermediários (0,6%), e retração
nos setores de bens de capital (–0,6%) e bens de consumo
semi e não duráveis (–0,3%). Dos vinte e sete
ramos industriais pesquisados pelo IBGE, em somente treze ocorreu
aumento da produção.
Além
disso, o crescimento do setor de duráveis (que foi determinante
para o resultado de outubro) vem oscilando muito ao longo deste
ano devido ao comportamento de veículos automotores –
o qual, em alguns momentos parece recuar para “desovar”
estoques e, em outros momentos, parece refletir os incentivos
do governo ao setor.
Portanto,
os dados do IBGE divulgados hoje não apresentam sinais
consistentes de retomada da indústria ainda em 2012, ano
em que sua produção será negativa. E mais:
eles jogam dúvidas sobre a magnitude do crescimento nos
primeiros meses do ano que vem.
A nosso ver,
a indústria passou para uma etapa mais favorável
de evolução, mas os próximos meses de novembro
e dezembro serão decisivos para estabelecer o quão
forte será esta nova fase. É esperado um vigor mais
evidente e abrangente do setor, em razão da expectativa
de um quarto trimestre melhor para a economia brasileira.
Como já
foi visto, a comparação anual deve relativizar os
resultados em função da base de comparação
baixa (outubro de 2011) e do maior número de dias úteis
de outubro de 2012. Mas, ainda assim, uma maior dose de ânimo
para a indústria pode vir da análise dos números
de outubro em relação aos meses precedentes deste
ano. No setor de bens de consumo duráveis, a produção
teve variação de -11,6% e -7,1%, respectivamente,
no primeiro e segundo trimestres deste ano (taxas com relação
a igual período do ano passado), ficou estagnada no terceiro
trimestre (0,0%) e abriu o quarto trimestre com sinal positivo,
+13,6% em outubro – os destaques positivos aqui são
segmentos que receberam incentivos fiscais, como automóveis
(+23,8%) e eletrodomésticos da linha branca (+19,2%).
Esse comportamento
também foi registrado no setor de bens de consumo semi
e não duráveis e no de bens intermediários.
No primeiro setor, as taxas foram de 1,4%, –1,6%, –1,6%
e 2,5% e, no segundo setor, –1,5%, –3,4%, –1,6%
e 1,9% (sempre na ordem primeiro, segundo e terceiro trimestres
e depois outubro). No mês de outubro, cabe destacar o crescimento
da produção de álcool e gasolina (14,7%)
no setor de bens de consumo semi e não duráveis
e os aumentos na produção de alimentos (+7,2%) e
extração de minerais ferrosos (7,3%) no setor de
bens intermediários.
Por sua vez,
no setor de bens de capital, a produção caiu -13,3%,
-11,7%, -12,2%, respectivamente, no primeiro, segundo e terceiro
trimestres deste ano, e continuou caindo no mês de outubro
(–5,8%), mas, vale assinalar, com menos intensidade. Nesse
setor, observa-se que a produção de bens de capital
para a indústria e de bens de capital para a agricultura
lograram resultados positivos em outubro (0,1% e 7,0%, nessa ordem),
revertendo os sinais negativos de suas respectivas produções
registradas anteriormente. No entanto, esses dois subsetores não
conseguiram fazer frente, em outubro, aos resultados ainda bastante
negativos dos outros ramos do setor de bens de capital: para transporte
(–3,3%), para energia (–4,1%), para construção
(–22,8%) e para uso misto (–6,8%).
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