4 de dezembro de 2012

Indústria
Um crescimento ainda pouco consistente


  

 
À primeira vista o resultado industrial de outubro não poderia ter sido melhor. Com relação a setembro a produção na série ajustada sazonalmente cresceu 0,9% e relativamente a outubro do ano passado aumentou 2,3%. O último índice interrompeu uma série longa (13 meses) de declínio e o primeiro vem depois de uma queda de -0,6% no mês de setembro.

Mas, as aparências enganam. Analisado mais detidamente, o aumento da produção em outubro revela fraquezas graves. Destacamos as seguintes: 1) uma forte retração em outubro do ano passado, especialmente em bens duráveis, aliado ao número maior de dias úteis de outubro do corrente ano (mais dois dias úteis) explica em grande medida a evolução na comparação anual; 2) quanto ao acréscimo de 0,9% na comparação mensal, basta observar que ele foi construído integralmente pela grande majoração da indústria extrativa (8,9%), com destaque para ferro, enquanto a indústria de transformação registrava variação nula.

Em suma, apesar de positivo, o resultado de outubro não é de todo convincente e favorecedor de expectativas de que a indústria retome uma trajetória de crescimento mais “firme” ainda neste final de ano, o que sinalizaria um desempenho mais robusto no início de 2013.

Não convence porque ainda não é geral. Além da já observada dependência do resultado global ao setor extrativo, dos quatro grandes setores da indústria por categoria de uso, houve crescimento em bens de consumo duráveis (1,4%) e bens intermediários (0,6%), e retração nos setores de bens de capital (–0,6%) e bens de consumo semi e não duráveis (–0,3%). Dos vinte e sete ramos industriais pesquisados pelo IBGE, em somente treze ocorreu aumento da produção.

Além disso, o crescimento do setor de duráveis (que foi determinante para o resultado de outubro) vem oscilando muito ao longo deste ano devido ao comportamento de veículos automotores – o qual, em alguns momentos parece recuar para “desovar” estoques e, em outros momentos, parece refletir os incentivos do governo ao setor.

Portanto, os dados do IBGE divulgados hoje não apresentam sinais consistentes de retomada da indústria ainda em 2012, ano em que sua produção será negativa. E mais: eles jogam dúvidas sobre a magnitude do crescimento nos primeiros meses do ano que vem.

A nosso ver, a indústria passou para uma etapa mais favorável de evolução, mas os próximos meses de novembro e dezembro serão decisivos para estabelecer o quão forte será esta nova fase. É esperado um vigor mais evidente e abrangente do setor, em razão da expectativa de um quarto trimestre melhor para a economia brasileira.

Como já foi visto, a comparação anual deve relativizar os resultados em função da base de comparação baixa (outubro de 2011) e do maior número de dias úteis de outubro de 2012. Mas, ainda assim, uma maior dose de ânimo para a indústria pode vir da análise dos números de outubro em relação aos meses precedentes deste ano. No setor de bens de consumo duráveis, a produção teve variação de -11,6% e -7,1%, respectivamente, no primeiro e segundo trimestres deste ano (taxas com relação a igual período do ano passado), ficou estagnada no terceiro trimestre (0,0%) e abriu o quarto trimestre com sinal positivo, +13,6% em outubro – os destaques positivos aqui são segmentos que receberam incentivos fiscais, como automóveis (+23,8%) e eletrodomésticos da linha branca (+19,2%).

Esse comportamento também foi registrado no setor de bens de consumo semi e não duráveis e no de bens intermediários. No primeiro setor, as taxas foram de 1,4%, –1,6%, –1,6% e 2,5% e, no segundo setor, –1,5%, –3,4%, –1,6% e 1,9% (sempre na ordem primeiro, segundo e terceiro trimestres e depois outubro). No mês de outubro, cabe destacar o crescimento da produção de álcool e gasolina (14,7%) no setor de bens de consumo semi e não duráveis e os aumentos na produção de alimentos (+7,2%) e extração de minerais ferrosos (7,3%) no setor de bens intermediários.

Por sua vez, no setor de bens de capital, a produção caiu -13,3%, -11,7%, -12,2%, respectivamente, no primeiro, segundo e terceiro trimestres deste ano, e continuou caindo no mês de outubro (–5,8%), mas, vale assinalar, com menos intensidade. Nesse setor, observa-se que a produção de bens de capital para a indústria e de bens de capital para a agricultura lograram resultados positivos em outubro (0,1% e 7,0%, nessa ordem), revertendo os sinais negativos de suas respectivas produções registradas anteriormente. No entanto, esses dois subsetores não conseguiram fazer frente, em outubro, aos resultados ainda bastante negativos dos outros ramos do setor de bens de capital: para transporte (–3,3%), para energia (–4,1%), para construção (–22,8%) e para uso misto (–6,8%).

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