A Carta IEDI que está
sendo divulgada hoje aborda o tema da evolução da
produtividade e dos custos na indústria brasileira. No
período de 2007 a 2010 a produtividade industrial não
evoluiu a contento e os custos salariais aumentaram, mas outros
custos de produção tiveram queda em função,
sobretudo, de menores custos com insumos importados. Ou seja,
se houve, como de fato ocorreu, queda na competitividade da indústria,
isto não se deveu a uma deterioração recente
de seus custos de produção, o que reforça
a tese de que os custos sistêmicos (os custos extra-fábrica)
tiveram mais destacada relevância como fatores de queda
da competitividade.
A indústria
brasileira passou por mudanças relevantes entre o ano anterior
à grande crise financeira de 2008 (2007) e o ano de recuperação
aos efeitos desta crise, ou seja, 2010. Com efeito, no período
2007-2010, aumentou o peso das Indústrias Extrativas (de
6,4% em 2007 para 9,0% em 2010) e caiu o das Indústrias
de Transformação (de 93,6% em 2007 para 91,0% em
2010). Mesmo com a tendência à concentração
dos setores industriais no grupo ligado à produção
de commodities, observa-se que setores tradicionalmente importantes,
como os de Metalurgia e Fabricação de coque, de
produtos derivados do petróleo e biocombustíveis,
perderam peso (de 9,2% em 2007 para 6,1% em 2010 e de 13,7% em
2007 para 11,5% em 2010, respectivamente), em grande medida pela
flutuação dos preços das commodities no mercado
internacional.
Setores cujo
desempenho não está diretamente ligado ao mercado
de commodities tiveram sua trajetória afetada, dentre outros
fatores, pela manutenção da taxa real de câmbio
apreciada na maior parte do período, que afetou negativamente
a competitividade das exportações de manufaturas
e aumentou a oferta interna de produtos manufaturados importados.
A evidência
de aumento de importados na oferta interna de bens manufaturados,
aliada à tendência a concentração do
valor agregado da Indústria na produção de
commodities e bens de baixo conteúdo tecnológico,
implicou perda de dinamismo da produtividade. Estes fatores exercem
impacto negativo sobre a produtividade, pois enfraquecem as interações
entre setores, reduzindo o potencial de exploração
de economias de escala.
A forte oscilação
do crescimento da produção industrial no período,
que abrange o impacto da crise internacional em 2008-2009 e a
recuperação em 2010, também afetou o comportamento
da produtividade, que é altamente correlacionada com o
crescimento da indústria. Em termos reais, o aumento acumulado
de 2007 a 2010 da produtividade da Indústria Geral (23,7%)
ficou abaixo da variação dos preços da economia
medido pelo deflator do PIB (25,7%) no mesmo período.
A baixa taxa
de desemprego geral na economia brasileira no período,
que reflete fatores demográficos além de outros
determinantes, exerceu pressão sobre os gastos com pessoal:
o aumento do gasto com pessoal por trabalhador na Indústria
Geral de 2007 a 2010 foi de 26,7%, maior que o aumento em termos
correntes da produtividade (23,7%), o que representou um aumento
de 2,4% no custo do trabalho. Esta elevação foi
maior nas Indústrias de Transformação (4,2%)
do que nas Extrativas (2,2%).
A maior pressão
com os gastos com pessoal foi mais que compensada pela perda de
peso no valor bruto da produção industrial dos custos
em operações industriais – de 57,5% em 2007
para 54,4% em 2010, uma queda de 3,2 pontos percentuais, determinada
pela diminuição relativa com as despesas com consumo
de matérias primas, materiais auxiliares e componentes.
Para efeito de comparação, os gastos com pessoal
como proporção do valor bruto da produção
industrial da indústria geral aumentou de 13,7% para15,2%,
um aumento de 1,5 pontos de percentagem. Dos 29 setores da Indústria
Geral, em 22 houve queda na participação dos custos
de operações industriais no valor bruto da produção
industrial, e em apenas 5 queda relativa dos gastos com pessoal
de 2007 a 2010.
Em suma, mudanças
na composição dos custos diretos de produção
explicam como as empresas industriais puderam manter sua rentabilidade
no período, apesar do fraco desempenho em termos de produtividade
frente o aumento nos custos do trabalho. Em grande medida a perda
de peso dos custos operacionais esteve ligada à queda no
custo das matérias primas importadas, favorecida pela taxa
de câmbio apreciada.
O fraco desempenho
agregado da produtividade industrial tem como explicação
também o desempenho do investimento. O investimento industrial
se concentrou em termos relativos no setor Fabricação
de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis
e essa concentração aumentou em termos relativos,
passando de 28,4% em 2007 para 37,7% em 2010, considerando o total
da Indústria. Portanto quase 40% do investimento industrial
esteve concentrado em um único setor capitaneado por uma
empresa estatal.
A taxa de
crescimento da produtividade no período foi altamente correlacionada
com o crescimento do valor agregado da Indústria, porém
não foi correlacionado com a taxa de investimento. Este
resultado pode ser explicado pelo fato do período analisado
ser relativamente curto e de crescimento instável.