3 de dezembro de 2012

Indústria
Produtividade e custos na indústria


  

 
A Carta IEDI que está sendo divulgada hoje aborda o tema da evolução da produtividade e dos custos na indústria brasileira. No período de 2007 a 2010 a produtividade industrial não evoluiu a contento e os custos salariais aumentaram, mas outros custos de produção tiveram queda em função, sobretudo, de menores custos com insumos importados. Ou seja, se houve, como de fato ocorreu, queda na competitividade da indústria, isto não se deveu a uma deterioração recente de seus custos de produção, o que reforça a tese de que os custos sistêmicos (os custos extra-fábrica) tiveram mais destacada relevância como fatores de queda da competitividade.

A indústria brasileira passou por mudanças relevantes entre o ano anterior à grande crise financeira de 2008 (2007) e o ano de recuperação aos efeitos desta crise, ou seja, 2010. Com efeito, no período 2007-2010, aumentou o peso das Indústrias Extrativas (de 6,4% em 2007 para 9,0% em 2010) e caiu o das Indústrias de Transformação (de 93,6% em 2007 para 91,0% em 2010). Mesmo com a tendência à concentração dos setores industriais no grupo ligado à produção de commodities, observa-se que setores tradicionalmente importantes, como os de Metalurgia e Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, perderam peso (de 9,2% em 2007 para 6,1% em 2010 e de 13,7% em 2007 para 11,5% em 2010, respectivamente), em grande medida pela flutuação dos preços das commodities no mercado internacional.

Setores cujo desempenho não está diretamente ligado ao mercado de commodities tiveram sua trajetória afetada, dentre outros fatores, pela manutenção da taxa real de câmbio apreciada na maior parte do período, que afetou negativamente a competitividade das exportações de manufaturas e aumentou a oferta interna de produtos manufaturados importados.

A evidência de aumento de importados na oferta interna de bens manufaturados, aliada à tendência a concentração do valor agregado da Indústria na produção de commodities e bens de baixo conteúdo tecnológico, implicou perda de dinamismo da produtividade. Estes fatores exercem impacto negativo sobre a produtividade, pois enfraquecem as interações entre setores, reduzindo o potencial de exploração de economias de escala.

A forte oscilação do crescimento da produção industrial no período, que abrange o impacto da crise internacional em 2008-2009 e a recuperação em 2010, também afetou o comportamento da produtividade, que é altamente correlacionada com o crescimento da indústria. Em termos reais, o aumento acumulado de 2007 a 2010 da produtividade da Indústria Geral (23,7%) ficou abaixo da variação dos preços da economia medido pelo deflator do PIB (25,7%) no mesmo período.

A baixa taxa de desemprego geral na economia brasileira no período, que reflete fatores demográficos além de outros determinantes, exerceu pressão sobre os gastos com pessoal: o aumento do gasto com pessoal por trabalhador na Indústria Geral de 2007 a 2010 foi de 26,7%, maior que o aumento em termos correntes da produtividade (23,7%), o que representou um aumento de 2,4% no custo do trabalho. Esta elevação foi maior nas Indústrias de Transformação (4,2%) do que nas Extrativas (2,2%).

A maior pressão com os gastos com pessoal foi mais que compensada pela perda de peso no valor bruto da produção industrial dos custos em operações industriais – de 57,5% em 2007 para 54,4% em 2010, uma queda de 3,2 pontos percentuais, determinada pela diminuição relativa com as despesas com consumo de matérias primas, materiais auxiliares e componentes. Para efeito de comparação, os gastos com pessoal como proporção do valor bruto da produção industrial da indústria geral aumentou de 13,7% para15,2%, um aumento de 1,5 pontos de percentagem. Dos 29 setores da Indústria Geral, em 22 houve queda na participação dos custos de operações industriais no valor bruto da produção industrial, e em apenas 5 queda relativa dos gastos com pessoal de 2007 a 2010.

Em suma, mudanças na composição dos custos diretos de produção explicam como as empresas industriais puderam manter sua rentabilidade no período, apesar do fraco desempenho em termos de produtividade frente o aumento nos custos do trabalho. Em grande medida a perda de peso dos custos operacionais esteve ligada à queda no custo das matérias primas importadas, favorecida pela taxa de câmbio apreciada.

O fraco desempenho agregado da produtividade industrial tem como explicação também o desempenho do investimento. O investimento industrial se concentrou em termos relativos no setor Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis e essa concentração aumentou em termos relativos, passando de 28,4% em 2007 para 37,7% em 2010, considerando o total da Indústria. Portanto quase 40% do investimento industrial esteve concentrado em um único setor capitaneado por uma empresa estatal.

A taxa de crescimento da produtividade no período foi altamente correlacionada com o crescimento do valor agregado da Indústria, porém não foi correlacionado com a taxa de investimento. Este resultado pode ser explicado pelo fato do período analisado ser relativamente curto e de crescimento instável.
 

 

 

 

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