30 de novembro de 2012

PIB
Voo baixo e sem dinamismo


   

 
O aumento de 0,6% do PIB no terceiro trimestre deste ano tem seu lado positivo, já que ele supera os resultados do primeiro (0,1%) e do segundo (0,2%) trimestres – todas as taxas com relação ao trimestre imediatamente anterior e com ajuste sazonal. No entanto, ele frustrou expectativas e revela que a economia brasileira não consegue decolar e mostrar sinais de uma recuperação mais robusta após a estagnação que a acompanhou por mais de um ano.

Essa “falta de força” da economia brasileira está relacionada ao seu baixo dinamismo observado nos últimos anos. Vale notar que o fator que mais contribuiu para o PIB no terceiro trimestre não veio nem da aceleração do consumo (0,9% no terceiro trimestre, contra 0,7% no segundo trimestre) e nem dos investimentos, os quais, em verdade, aprofundaram sua queda (–2,0% e –1,6%); ele veio, sobretudo, da queda muito acentuada das importações de bens e serviços (–6,5% e –1,5%). As exportações de bens e serviços tiveram desempenho melhor, mas o aumento no trimestre em foco foi ainda baixo, a saber: 0,2% (–3,5% no trimestre anterior).

Pode ser que o câmbio mais desvalorizado já esteja trazendo uma maior competitividade à produção doméstica, mas, a nosso ver, a redução fortíssima das importações reflete muito mais o retrocesso ou baixo dinamismo de setores que são muito dependentes de importações e que estão sendo especialmente afetados pela conjuntura adversa da economia. Medidas de contenção das importações por meio de mecanismos de defesa comercial e aumento de impostos sobre a importação podem ter também contribuído para o resultado.

Outro ponto a salientar é que a fraqueza da recuperação da economia brasileira tem como principal determinante o comportamento do investimento. Os dados do terceiro trimestre evidenciam dois fatos do maior significado:

a) A gravidade da crise industrial que causou grande declínio do investimento da indústria e contagiou o investimento de outros setores da economia. A indústria melhorou o seu desempenho no terceiro trimestre (1,1%, contra –1,8% no trimestre anterior), mas é cedo para que isso tenha reflexos mais significativos nas decisões de investir dos empresários;

b) A incapacidade de reação autônoma do investimento do setor público e a consequente indução à recuperação do investimento global.

  A orientação da política econômica deve mudar rapidamente. Todo apoio e incentivo devem ser canalizados para o investimento empresarial. E a remoção de obstáculos ao investimento público, incluindo os limites de financiamento que a Petrobras vem sofrendo, deve merecer prioridade absoluta. Uma maior interlocução com os agentes da sociedade que contribuem ou comandam as execuções dos investimentos deveriam também merecer atenção por parte do governo.
 

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2012 atingiu os R$1,1 trilhão a preços de mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal assinalou, frente ao trimestre imediatamente anterior, um incremento de 0,6%. Frente ao terceiro trimestre de 2011, o PIB brasileiro cresceu 0,9%. No acumulado do ano até setembro, o PIB brasileiro avançou 0,9% e, nos últimos quatro trimestres também até setembro, o crescimento foi de 0,7%.

Sob a ótica da oferta, na comparação com o segundo trimestre de 2012, com dados livres dos efeitos da sazonalidade, o valor adicionado da Agropecuária cresceu 2,5%, o da Indústria registrou alta de 1,1% e o de Serviços ficou estagnado (0,0%).

Em relação ao terceiro trimestre de 2011, a Agropecuária cresceu 3,6% no terceiro trimestre deste ano, devido ao desempenho dos produtos café e o milho com crescimento de produção (14,5% e 27,1%, respectivamente). A Indústria em geral voltou a registrar taxa negativa (–0,9%) no terceiro trimestre, com quedas de 1,8% no valor agregado da Indústria de Transformação e de 2,8% no da Indústria Extrativa; nas atividades industriais de produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana e na construção civil, o valor agregado aumentou, respectivamente, 2,1% e 1,2%.

Ainda nessa comparação, o valor adicionado dos Serviços assinalou alta de 1,4%, impulsionada pelas atividades de Administração, saúde e educação pública (2,7%), Serviços de informação (2,3%), outros serviços (1,7%), serviços imobiliários e aluguel (1,5%) e comércio (1,2%).

O PIB acumulado nos quatro trimestres terminados no terceiro trimestre de 2012 apresentou crescimento de 0,9% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. O resultado dentre os setores da oferta foi: Agropecuária (0,8%), Indústria (–0,9%) e Serviços (1,5%).

 

 
Sob a ótica da demanda, na passagem do segundo trimestre para o terceiro trimestre de 2012, com dados dessazonalizados, contribuíram para o avanço de 0,4% do PIB as despesas de Consumo das Famílias (1,0%) e, em menor medida, as despesas de Consumo da Administração Pública (0,1%) e. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), por sua vez, teve queda de 2,0%. Em relação ao setor externo, as importações de bens e serviços caíram 6,5%, enquanto exportações apresentaram ligeiro aumento de 0,2%.

Na comparação do terceiro trimestre com igual período do ano passado, a despesa de Consumo das Famílias apresentou crescimento de 3,4%, impulsionado pelo aumento o crescimento da massa salarial e aumento do crédito. A FBCF registrou queda de 5,6%, puxada pela queda da produção interna de máquinas e equipamentos. O Consumo do Governo, por sua vez, cresceu 3,2%. No setor externo, importações e exportações registraram quedas de 6,4% e 3,2%, nessa ordem.

Na comparação dos quatro trimestres terminados no terceiro trimestre de 2012, o Consumo do Governo cresceu 2,7%, seguido pelo Consumo das Famílias (2,6%). A Formação Bruta de Capital Fixo novamente registrou queda (–2,4%). Em relação à demanda externa, tanto as exportações (0,9%) como as importações (1,7%) apresentaram crescimento.

Participação no PIB. Pela ótica da oferta, entre o segundo trimestre de 2012 e o terceiro trimestre de 2012, destaca-se o setor Industrial, que partiu de uma participação de 21,9% e chegando a 22,8%. A Agropecuária, por sua vez, reduziu sua participação de 6,0% para 4,2%. O setor de serviços, o de maior peso no valor total do PIB, cresceu 0,4 ponto percentual,obtendo participação de 57,7%.

Já na ótica da demanda, o maior destaque no terceiro trimestre é Consumo do Governo, o qual apresentou queda de 0,7 p.p. em relação ao PIB. O maior componente continua sendo o Consumo das Famílias, com 63,0% do PIB, seguido pelo Consumo do Governo (20,0%) e FBKF (18,7 %).

 

 

 

 

 

 

 

 

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