As vendas do varejo brasileiro cresceram 8,9% em termos reais
nos três primeiros trimestres deste ano sobre igual período
do ano passado, contra uma evolução de 6,7% no ano
como um todo de 2011. Esta é uma indicação
de que está em curso uma aceleração do nível
de atividade do setor no corrente ano. Os dados são referentes
ao "comércio restrito" de bens, não englobando
o comércio de automóveis, autopeças e de
material de construção. Considerando o "varejo
ampliado", que inclui estas atividades, o avanço no
ano é inferior, mas, mesmo assim, muito expressivo: 7,8%.
Ainda que
o desempenho do último trimestre de 2012 venha a ser mais
fraco, o resultado deste ano será excepcional porque se
dá em um contexto de aumento de apenas 1,5% do PIB e de
um impulso modesto do crédito ao consumidor se comparado
aos anos anteriores. O dinamismo do varejo é indicativo
de que o baixo crescimento econômico, que já se impõe
pelo segundo ano consecutivo, não se dá por deficiência
no consumo de bens.
A análise
dos segmentos que mais vêm se destacando é reveladora
das atuais tendências de consumo da população.
A elevação de vendas no acumulado do ano em "equipamentos
e materiais para escritório, informática e comunicação"
(+13,5%) e em "móveis e eletrodomésticos"
(+13,1%) corresponde à diversificação do
consumo por parte das dezenas de milhões de novos consumidores
que ingressaram no mercado consumidor desde 2005. Inovações
de produto nesses setores (celulares e equipamentos de informática,
especialmente) e incentivos tributários, como a redução
de IPI na compra de móveis e de bens duráveis da
chamada linha branca, concorreram para renovar e intensificar
as vendas em 2012.
Em outro setor vale também a observação quanto
à diversificação para além do orçamento
básico da população como indutora de aumento
de vendas: "artigos farmacêuticos, médicos,
ortopédicos, de perfumaria e cosméticos", cujo
acréscimo real de vendas até setembro chegou a 10,9%.
Convém assinalar que em todos os ramos acima o quadro de
pronunciada expansão vem se repetindo desde o pós-crise
de 2008.
A maior contribuição ao crescimento global do varejo
em 2012 veio, no entanto, do segmento mais representativo do consumo
familiar de base: "hipermercados, supermercados, produtos
alimentícios e bebidas", com variação
de 8,9%, taxa esta que foi juntamente com a de 2010 a maior já
registrada na pesquisa do varejo do IBGE (desde 2001). O que explica
tal reforço dos gastos em alimentos e bebidas em 2012 foi,
além da manutenção do crescimento do emprego,
a elevação do salário mínimo (+7,5%
em termos reais).
Há
um contraste muito acentuado entre os índices do varejo
e os da indústria, muito embora as duas séries pesquisadas
pelo IBGE – ou seja, a série de vendas do varejo
e a série de produção industrial –
não tenham inteira correspondência. Isto demonstra
que, como ocorrera em 2011, a indústria brasileira continua
em 2012 sendo incapaz de atender o mercado interno consumidor
de bens, cedendo mercados ao produto importado a despeito da taxa
de câmbio mais favorável. Em parte isto reflete o
acumulo de distorções geradas no passado que somente
agora a política econômica resolveu atacar de forma
decidida. De outra parte, é reflexo do tempo necessário
para que várias políticas já adotadas tenham
efeito para reduzir o custo industrial e reposicionar a competitividade
da indústria.
Em 2011 os
dados de variação do varejo e da produção
industrial foram de: 6,7% e 6,6%, respectivamente para o varejo
restrito e ampliado, e de 0,4% e -0,5%, para a indústria
geral e indústria de bens de consumo; em 2012, no acumulado
de janeiro a setembro, o varejo evoluiu 8,9% e 7,8% (varejo restrito
e ampliado), enquanto a produção industrial caiu
-3,4% e -2% (indústria geral e indústria de bens
de consumo).
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