Emprego de Qualidade e Indústria
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 26/11/2012

Tem sido muito debatido o ônus para a economia do declínio industrial brasileiro que se assiste já há algum tempo e que somente agora o governo passou a combater de forma decidida. A situação da indústria determinou a queda do investimento no próprio setor e contagiou o investimento global da economia que cai fortemente desde o início de 2011. Daí o baixo crescimento econômico que, a despeito de muitas ações de incentivo adotadas pelo governo, nos persegue já por dois anos. Poucos países têm condições, como o Brasil, de contar com o dinamismo simultâneo dos três macrossetores (setor primário, indústria e serviços) para impulsionar sua economia e assim atingir mais rapidamente o grau de desenvolvimento, mas nós estamos abdicando de um deles: o setor industrial.

Pois bem, uma dissertação de mestrado defendida no Instituto de Economia da Unicamp de autoria de Leandro Horie (Política Econômica, Dinâmica Setorial e a Questão Ocupacional no Brasil, 2012), mostra que a solução do impasse industrial é condição para que o espetacular êxito das políticas de renda capitaneadas pela valorização do salário mínimo e o Bolsa Família em reduzir a miséria e promover o aumento da “baixa classe média” tenha sequência e permita o crescimento dos estratos superiores, vale dizer, a “média classe média” e a “alta classe média”.

Para o autor, o processo de redistribuição de renda “ao mesmo tempo em que promoveu um contingente considerável de trabalhadores para a baixa ‘classe média' pode, por outro lado, impedi-los de ascender mais, porque a ascensão para os estratos superiores envolve a necessidade de adquirir qualificação/escolaridade mas também que esta vaga seja criada de fato, o que por sua vez depende da economia”. Nesse sentido, alcançar a “baixa classe média” poderia representar o “cume” de um processo que não poderia ir além.

“Para que haja, de fato, um crescimento sustentável dos estratos superiores (...) é necessário uma estrutura produtiva diversificada, mas que tenha a indústria de transformação novamente como protagonista. Como uma indústria de transformação diversificada e que se direciona às atividades de maior intensidade tecnológica demanda maior quantidade de serviços e tem relações econômicas intermediárias, isto faz crescer a gama de ocupações intermediárias, fundamentais para uma ascensão profissional e social.”

Assim, se a dinâmica econômica brasileira recente foi extremamente potente em reduzir o contingente de miseráveis e promover a “baixa classe média”, o prosseguimento desse processo na direção de ampliar os estratos superiores, requer algo mais do que “o crescimento do mercado interno e a política de valorização do salário mínimo”. Se a crise industrial não for superada, o setor tenderá a se especializar cada vez mais em produtos de baixo valor agregado. “E este processo nos leva a uma diminuição da produtividade da economia, menores salários, menor diversificação produtiva e menor demanda por serviços especializados, caminho inverso ao desejado.”


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp