23 de novembro de 2012

Setor Externo
A maior eficácia dos controles
de capitais de curto prazo


  

 
A Carta IEDI que está sendo publicada hoje procura mostrar que tanto fatores externos quanto internos tiveram papel decisivo no ingresso de recursos do exterior para o Brasil em 2012. Os fatores externos (desaceleração das principais economias do mundo e ambiente financeiro internacional) contribuíram para uma mudança na composição desse ingresso, a favor dos fluxos de IDE vis-à-vis os fluxos financeiros. Já os internos - controles de capitais e a gestão macroeconômica -, além de induzirem o alongamento do prazo da dívida externa, também afetaram a dimensão dos fluxos financeiros ao desestimularem as operações especulativas, evidenciando a maior eficácia dos controles sobre captações externas no novo ambiente de juros baixos e câmbio estável.

O balanço de pagamentos brasileiro teve um superávit de US$ 22,9 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2012, 59,4% inferior ao do mesmo período de 2011 e o menor desde 2006. Assim, esta cifra foi pior que a registrada em 2008 (US$ 23,9 bilhões), quando a economia brasileira foi atingida pela crise financeira global. O principal condicionante desse resultado foi o desempenho da conta financeira, que registra o fluxo líquido de capitais entre o país e o exterior (ou seja, o ingresso líquido de recursos externos menos a saída líquida de capitais brasileiros). Embora o saldo positivo dessa conta no corrente ano (US$ 58,5 bilhões) tenha sido mais que suficiente para financiar o déficit de US$ 34,1 bilhões nas transações correntes, ele recuou 38% frente aos US$ 93,8 bilhões acumulados de janeiro a setembro de 2011.

A deterioração da conta financeira decorreu da queda de 33% do ingresso líquido de recursos externos e, em menor medida, do aumento de 11% da saída líquida de capitais brasileiros. Devido ao amplo grau de abertura financeira e de internacionalização produtiva e financeira da economia brasileira, os dois resultados foram condicionados pelo mesmo conjunto de fatores externos e internos.

No caso do ingresso líquido de recursos externos, além da sua redução, sua composição também se alterou. O investimento direto estrangeiro (IDE) – que recuou somente 6% na mesma base de comparação – respondeu por 62% do total desse ingresso, contra um percentual de 46% entre janeiro e setembro de 2011. Em contrapartida, os fluxos financeiros (investimentos de portfólio e outros investimentos) recuaram 52% (reflexo da queda de 23% dos investimentos de portfólio e de 62% dos outros investimentos), o que resultou numa participação de apenas 38% no total, bem inferior à de 2011: 54%.

O principal fator explicativo do desempenho relativamente positivo do IDE é a desaceleração “double speed” da economia mundial – liderada pelas economias avançadas e caracterizada por um diferencial de crescimento favorável aos países emergentes – e o dinamismo do mercado consumidor brasileiro relativamente aos países de origem das Empresas Transnacionais. Apesar do ritmo modesto de expansão da economia brasileira em 2012, esse mercado segue dinâmico, devendo atingir uma taxa de crescimento entre 7% e 8% nesse ano.

Já os fluxos financeiros foram afetados pelo aprofundamento da crise da área do Euro desde o segundo semestre de 2011. Permeado por breves períodos de melhoria, mas ainda sem perspectiva de uma solução definitiva, essa crise resultou numa forte volatilidade nos mercados financeiros internacionais – para a qual também contribuiu as incertezas em relação ao desempenho da economia americana em 2013, devido à ameaça do chamado “abismo fiscal”.

Do lado interno, três fatores se destacam. Em primeiro lugar, a estratégia mais ampla de gestão dos fluxos de capitais adotada pelo governo. Em segundo lugar, a mudança na política macroeconômica, sobretudo em 2012, com a redução expressiva da taxa de juros básica e a menor volatilidade da taxa de câmbio. Esses dois primeiros fatores desestimularam os fluxos especulativos atraídos pelo diferencial de juros e pela volatilidade cambial. Em terceiro lugar, ações do governo no setor de petróleo e energia elétrica diminuíram as perspectivas de valorização das ações desses setores que, somada à queda das cotações internacionais do minério-de-ferro e do petróleo (associada ao cenário internacional adverso), desencorajaram as aplicações de não-residentes na Bovespa.

No caso da saída líquida de capitais brasileiros para o exterior, a desaceleração “double speed” e o potencial de crescimento do mercado consumidor brasileiro vis-à-vis os países avançados explicam, igualmente, a repatriação de investimentos diretos brasileiros pelo segundo ano consecutivo. Já as menores oportunidades de ganhos a partir de operações especulativas de curto prazo (atraídas pelo diferencial de juros e/ou pela tendência de apreciação cambial) desencorajaram a repatriação de investimentos brasileiros de portfólio. No caso dos outros investimentos brasileiros, a redução em 60% do saldo negativo decorreu, em grande parte, da queda dos depósitos dos exportadores em contas no exterior, estimulada pela desvalorização do real.

Finalmente, a análise da evolução mensal do ingresso líquido de recursos externos entre janeiro e setembro sugere que os fatores externos (desaceleração “double-speed” e ambiente financeiro internacional) contribuíram para uma mudança na composição desse ingresso, a favor dos fluxos de IDE vis-à-vis os fluxos financeiros. Já os controles de capitais e a gestão macroeconômica, além de terem moldado sua composição, induzindo o alongamento do prazo da dívida externa, também afetaram a dimensão dos fluxos financeiros, ao desestimular as operações especulativas. As emissões de curto prazo foram nulas (caso dos títulos) ou quase nulas (crédito bancário) no terceiro trimestre do corrente ano, apesar do alívio no cenário externo.

Leia aqui o texto completo desta Análise.