A Dianteira do Varejo em 2012
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 19/11/2012

As vendas do varejo brasileiro cresceram em bases reais 8,9% nos três primeiros trimestres deste ano sobre igual período do ano passado, contra uma evolução de 6,7% no ano como um todo de 2011. Esta é uma indicação de que está em curso uma aceleração do nível de atividade do setor no corrente ano. Os dados são referentes ao "comércio restrito" de bens, não englobando o comércio de automóveis, autopeças e de material de construção. Considerando o "varejo ampliado", que inclui estas atividades, o avanço no ano é inferior, mas, mesmo assim, muito expressivo: 7,8%.

Ainda que o desempenho do último trimestre de 2012 venha a ser mais fraco, o resultado deste ano será excepcional porque se dá em um contexto de aumento de apenas 1,5% do PIB e de um impulso modesto do crédito ao consumidor se comparado aos anos anteriores. O dinamismo do varejo é indicativo de que o baixo crescimento econômico, que já se impõe pelo segundo ano consecutivo, não se dá por deficiência no consumo de bens. A análise dos segmentos que mais vêm se destacando é reveladora das atuais tendências de consumo da população. A elevação de vendas no acumulado do ano em "equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação" (+13,5%) e em "móveis e eletrodomésticos" (+13,1%) corresponde à diversificação do consumo por parte das dezenas de milhões de novos consumidores que ingressaram no mercado consumidor desde 2005. Inovações de produto nesses setores (celulares e equipamentos de informática, especialmente) e incentivos tributários, como a redução de IPI na compra de móveis e de bens duráveis da chamada linha branca, concorreram para renovar e intensificar as vendas em 2012.

Em outro setor vale também a observação quanto à diversificação para além do orçamento básico da população como indutora de aumento de vendas: "artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos", cujo acréscimo real de vendas até setembro chegou a 10,9%. Convém assinalar que em todos os ramos acima o quadro de pronunciada expansão vem se repetindo desde o pós-crise de 2008.

A maior contribuição ao crescimento global do varejo veio, no entanto, do segmento mais representativo do consumo familiar de base: "hipermercados, supermercados, produtos alimentícios e bebidas", com variação de 8,9%, taxa esta que foi juntamente com a de 2010 a maior já registrada na pesquisa do varejo do IBGE (desde 2001). O que explica tal reforço dos gastos em alimentos e bebidas em 2012? Além da manutenção do crescimento do emprego, a elevação do salário mínimo (+7,5% em termos reais) foi a causa destacada. A política de valorização do salário mínimo vem sendo subestimada em seus efeitos a nosso ver decisivos para a redução da desigualdade de rendimento no Brasil e a redinamização do consumo na economia brasileira. Os últimos resultados do varejo parecem reafirmar sua enorme relevância.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp