A indústria vem declinando sua produção,
a economia estagnou e o câmbio melhorou, mas nem por isso
o comércio exterior de bens industriais mostra sinais de
mudança. Pode ser que o tempo transcorrido desde que esses
fatores se apresentaram ainda não permita o surgimento
de resultados mais expressivos, ou pode ser que realmente problemas
graves estejam reduzindo a capacidade da produção
aqui realizada concorrer com a do exterior, ou um misto desses
dois vetores. O fato é que já há quase um
ano e meio a economia entrou na fase de declínio de seu
ciclo e o déficit em produtos industriais continua aumentando.
O crescimento
do déficit é menor do que em anos anteriores quando
uma meteórica reversão comercial fez com que um
superávit expressivo cedesse lugar a um saldo negativo
muito alto. Esse processo transformou um resultado favorável
de US$ 19 bilhões de 2008 em déficit de US$ 49 bilhões
no ano de 2011, quando se procurou fazer alguma coisa através
do câmbio e de outras políticas para conter a escalada.
Em 2012 até setembro, o déficit em produtos industriais
segundo um levantamento recentemente divulgado pelo IEDI, chegou
a US$ 38,7 bilhões, quase 10% superior ao resultado dos
três primeiros trimestres do ano passado.
Por que o
déficit não para de crescer a despeito da fase adversa
do ciclo e da desvalorização cambial? Pelo lado
das importações, estas reagiram à menor produção
industrial e ao nível mais baixo de consumo e investimento,
o que deprimiu as compras externas de bens intermediários,
bens de consumo e máquinas e equipamentos. Mas, no conjunto,
a importação de produtos industriais caiu pouco
no período: 0,8%, um índice que seguramente representa
um declínio real muito inferior à queda da produção
industrial no acumulado do corrente ano que alcançou -3,5%,
um sintoma de que a má fase da economia está impondo
uma retração proporcionalmente maior na demanda
interna do que nas importações de produtos industriais.
O fator principal
de elevação do déficit de bens industriais
nesse ano reside do lado das exportações. Estas
nos anos anteriores cresceram firmemente (22,3% e 22,6% em 2011
e 2010, respectivamente), mas no corrente ano caíram muito
mais (-4,1%) do que as importações e possivelmente
acima da queda do comércio mundial. O recuo das exportações
refletiu, sobretudo, a queda das vendas ao exterior de commodities
industriais, como alimentos, produtos metálicos e celulose,
assim como a queda das exportações em veículos,
produtos químicos, produtos têxteis, calçados
e equipamentos de rádio, TV e comunicação.
Os segmentos com crescimento foram poucos, como indústria
aeronáutica (28,3%), máquinas e equipamentos elétricos
(11,5%) e máquinas e equipamentos mecânicos (3,4%).
Importação
decrescendo menos do que a produção industrial e
exportação com queda mais profunda do que a do comércio
mundial sugerem a existência de distorções
desenvolvidas no passado e que hoje limitam a capacidade do produto
industrial brasileiro concorrer no mercado interno com as importações
e disputar posições no exterior através de
exportações. Por isso, é fundamental que
a política econômica dê sequência e aprofunde
a orientação de reduzir custos na economia, aumentar
a competitividade e que a indústria melhore seus padrões
de produtividade.
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