Difícil Mudança no Comércio Exterior de Bens Industriais
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 12/11/2012

A indústria desabou, a economia estagnou e o câmbio melhorou, mas nem por isso o comércio exterior de bens industriais mostra sinais de mudança. Pode ser que o tempo transcorrido desde que esses fatores se apresentaram ainda não permita o surgimento de resultados mais expressivos, ou pode ser que realmente problemas graves estejam reduzindo a capacidade da produção aqui realizada concorrer com a do exterior, ou um misto desses dois vetores. O fato é já há quase um ano e meio a economia entrou na fase de declínio de seu ciclo e o déficit em produtos industriais continua aumentando.

O crescimento do déficit é menor do que em anos anteriores, quando uma meteórica reversão comercial fez com que um superávit expressivo cedesse lugar a um saldo negativo muito alto. Esse processo, despreocupadamente acompanhado por uma política econômica que aceitava passivamente o câmbio que a conjuntura internacional ditava para o momento, transformou um resultado favorável de US$ 19 bilhões de 2008 em déficit de US$ 49 bilhões em 2011, quando se procurou fazer alguma coisa através do câmbio e de outras políticas para conter a escalada. Em 2012 até setembro, o déficit em produtos industriais segundo um estudo do Iedi divulgado na semana passada, chegou a US$ 38,7 bilhões, quase 10% superior ao resultado dos três primeiros trimestres do ano passado.

Por que o déficit não para de crescer a despeito da fase adversa do ciclo e da desvalorização cambial? Pelo lado das importações, estas reagiram à menor produção industrial e ao nível mais baixo de consumo e investimento, o que deprimiu as compras externas de bens intermediários, bens de consumo e máquinas e equipamentos. Mas, no conjunto, a importação de produtos industriais caiu pouco no período: 0,8%, um índice que seguramente representa um declínio real muito inferior à queda da produção industrial no acumulado do corrente ano que foi de -3,5%, um sintoma de que a má fase da economia está impondo uma retração proporcionalmente maior na demanda interna do que nas importações de produtos industriais.

O fator principal de elevação do déficit de bens industriais nesse ano reside do lado das exportações. Estas nos anos anteriores cresceram firmemente (22,3% e 22,6% em 2011 e 2010, respectivamente), mas no corrente ano caíram muito mais (-4,1%) do que as importações e possivelmente acima da queda do comércio mundial. O recuo das exportações refletiu, sobretudo, a queda das vendas ao exterior de commodities industriais, como alimentos, produtos metálicos e celulose, além de veículos, produtos químicos, produtos têxteis, calçados e equipamentos de rádio, TV e comunicação. Os segmentos com crescimento foram poucos, como indústria aeronáutica (28,3%), máquinas e equipamentos elétricos (11,5%) e máquinas e equipamentos mecânicos (3,4%).

Importação decrescendo menos do que a produção industrial e exportação com queda mais profunda do que a do comércio mundial sugerem a existência de distorções desenvolvidas no passado e que hoje limitam a capacidade do produto industrial brasileiro concorrer no mercado interno com as importações e disputar posições no exterior através de exportações.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp