Uma Interrogação Sobre o Horizonte da Indústria
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 05/11/2012

Que a produção industrial sofresse um revés após três meses em que acumulou alta de quase 2,5%, não seria surpreendente. Um declínio de certa expressão em setembro poderia ser antecipado, em especial porque era esperada uma retração na indústria automobilística, que tem peso expressivo na indústria como um todo e cujo benefício fiscal proveniente da redução do IPI deveria expirar em agosto. Não é, portanto, em si a queda de 1% a ser relevada nos mais recentes dados da pesquisa industrial divulgados pelo IBGE. O ponto a ser considerado diz respeito à composição e não tanto à magnitude do retrocesso da produção. Houve queda em todos os macro setores da indústria sob a liderança de bens duráveis, dada a previsível retração em autoveículos. Mas os resultados desfavoráveis foram apurados também em bens intermediários e em bens não duráveis. Em bens de capital o tropeço de setembro repetiu o de agosto, sugerindo que a esperada retomada do investimento na economia pode não estar acontecendo, ou, pelo menos, que sua intensidade é, por enquanto, pequena e toda ela favorecedora da importação de máquinas.

Mas, é importante sublinhar também que índices ruins envolveram ramos industriais dignos de destaque. Primeiramente, os segmentos que nos últimos anos vinham sendo mais afetados pela concorrência do produto importado como têxtil, vestuário e calçados voltaram a piorar após terem apresentado tímidos sinais de melhora. Isso é negativo porque são muito empregadores. Em segundo lugar, setores particularmente representativos da estrutura industrial brasileira tiveram desempenho muito adverso. Assim, por exemplo, em alimentos e bebidas, o maior ramo da indústria produtora de bens de consumo corrente e que é também muito empregador, a queda em setembro com relação ao mês anterior foi forte (2%). De intensidade ainda maior, a retração no principal setor produtor de insumos da indústria brasileira - produtos químicos - chegou a 3,2% e em máquinas e equipamentos alcançou 4,8%, após variação de -3,9% em agosto. Finalmente, no topo da indústria de duráveis, a produção de autoveículos caiu 0,7% em função dos determinantes já observados.

Reunimos acima evidências para mostrar que os principais representantes do núcleo da indústria brasileira foram mal em setembro e é isto, em última análise o que lança no ar a interrogação sobre o horizonte e a intensidade da recuperação industrial em curso. Ela deverá prosseguir, mas em razão dos impasses profundos vividos pela economia brasileira e, por tabela, por sua indústria, talvez fiquemos aprisionados a um curto e pouco profundo ciclo. Contra a maré, em dois ramos o intenso crescimento de setembro amenizou o quadro geral. Na produção de aviões, onde já está consolidada uma cadeia de alta produtividade liderada pela Embraer e é um exemplo de como a política industrial bem executada pode ter muita eficácia, a expansão foi de 4,4%; na produção de medicamentos, onde uma nova geração de empresas nacionais vem despontando, o avanço foi de 6%.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp