Em uma situação normal a taxa de juros afeta a decisão
de investir em capital real, facilitando o investimento quando
cai, ou tornando menos atrativa a inversão, por outro lado,
se a taxa de juros aumenta. A taxa de juros representa a alternativa
de rentabilidade de uma aplicação em investimento
na economia produtiva. Mas, se simultaneamente ao movimento da
taxa de juros ocorre variações na rentabilidade
que os empresários avaliam no investimento, a taxa de juros
deixa de ser o único determinante e pode até mesmo
passar a ser um fator coadjuvante. Nesse caso, nada garante, por
exemplo, que uma menor taxa de juros elevará as decisões
empresariais de investir se a rentabilidade esperada do novo investimento
declinar mais.
Essas considerações
deveriam ser levadas em conta diante das críticas que vêm
sendo feitas sobre a redução da taxa de juros empreendida
pelo Banco Central. Elas sustentam que a nova política
de juros foi um fracasso por não promover a retomada do
crescimento da economia até agora. O investimento declinou
no Brasil entre a 2ª metade do ano passado e a 1ª metade
deste ano e ainda não mostra sinais seguros de que esteja
reagindo aos estímulos da política econômica
antes de tudo o mais por causa do agravamento da crise internacional
(a crise da Europa em especial). No plano interno, um fator de
queda dos investimentos foi o colapso da indústria, um
evento muito subestimado nas análises da economia brasileira
no período recente.
De fato, a
indústria brasileira sucumbiu a uma concorrência
internacional por mercados que se aprofundou enormemente após
a crise mundial de 2008. Segundo o Banco Central (Relatório
de Inflação de junho de 2012), "a participação
dos importados no atendimento da expansão anual do consumo
de bens industriais passou de aproximadamente 40% em 2008 e 2010,
para 100% em 2011." Ora, quem vai investir na ampliação
de capacidade em um país em que a disputa pela apropriação
do mercado interno consumidor entre a produção doméstica
e a produção efetivada no exterior é uma
variável tão em aberto, como é o caso do
mercado de bens industriais brasileiro?
Diante de
uma situação de tão grande incerteza na decisão
de investir, ao setor público deveria caber um papel compensatório
para que o menor crescimento da economia resultante da redução
da inversão privada pudesse ser neutralizado. O governo
brasileiro vem tentando ampliar as inversões públicas,
mas esbarra nos enormes problemas de execução de
projetos de grande porte, o que, desta vez, parece ter envolvido
até mesmo a Petrobras.
Fontes governamentais
sustentam que o investimento público, incluindo a Petrobras,
já está em recuperação, mas, ainda
que isso se confirme, caberia ao governo também aprimorar
sua interlocução com o setor privado. Por exemplo,
no grande programa recentemente anunciado de concessões
de rodovias e ferrovias, poderia ter sido negociado de forma mais
flexível as condições de rentabilidade para
assegurar a participação do setor privado.
Longe de ser
um fracasso, a redução da taxa de juros ainda se
mostrará fator de significativo incentivo ao investimento,
o qual somente não reagiu até o momento na magnitude
esperada por fatores ligados aos riscos e incertezas identificados
na economia brasileira devido à crise mundial e à
crise da indústria.
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