29 de outubro de 2012

Indústria e Política Econômica
Juros e investimento


  

 
Em uma situação normal a taxa de juros afeta a decisão de investir em capital real, facilitando o investimento quando cai, ou tornando menos atrativa a inversão, por outro lado, se a taxa de juros aumenta. A taxa de juros representa a alternativa de rentabilidade de uma aplicação em investimento na economia produtiva. Mas, se simultaneamente ao movimento da taxa de juros ocorre variações na rentabilidade que os empresários avaliam no investimento, a taxa de juros deixa de ser o único determinante e pode até mesmo passar a ser um fator coadjuvante. Nesse caso, nada garante, por exemplo, que uma menor taxa de juros elevará as decisões empresariais de investir se a rentabilidade esperada do novo investimento declinar mais.

Essas considerações deveriam ser levadas em conta diante das críticas que vêm sendo feitas sobre a redução da taxa de juros empreendida pelo Banco Central. Elas sustentam que a nova política de juros foi um fracasso por não promover a retomada do crescimento da economia até agora. O investimento declinou no Brasil entre a 2ª metade do ano passado e a 1ª metade deste ano e ainda não mostra sinais seguros de que esteja reagindo aos estímulos da política econômica antes de tudo o mais por causa do agravamento da crise internacional (a crise da Europa em especial). No plano interno, um fator de queda dos investimentos foi o colapso da indústria, um evento muito subestimado nas análises da economia brasileira no período recente.

De fato, a indústria brasileira sucumbiu a uma concorrência internacional por mercados que se aprofundou enormemente após a crise mundial de 2008. Segundo o Banco Central (Relatório de Inflação de junho de 2012), "a participação dos importados no atendimento da expansão anual do consumo de bens industriais passou de aproximadamente 40% em 2008 e 2010, para 100% em 2011." Ora, quem vai investir na ampliação de capacidade em um país em que a disputa pela apropriação do mercado interno consumidor entre a produção doméstica e a produção efetivada no exterior é uma variável tão em aberto, como é o caso do mercado de bens industriais brasileiro?

Diante de uma situação de tão grande incerteza na decisão de investir, ao setor público deveria caber um papel compensatório para que o menor crescimento da economia resultante da redução da inversão privada pudesse ser neutralizado. O governo brasileiro vem tentando ampliar as inversões públicas, mas esbarra nos enormes problemas de execução de projetos de grande porte, o que, desta vez, parece ter envolvido até mesmo a Petrobras.

Fontes governamentais sustentam que o investimento público, incluindo a Petrobras, já está em recuperação, mas, ainda que isso se confirme, caberia ao governo também aprimorar sua interlocução com o setor privado. Por exemplo, no grande programa recentemente anunciado de concessões de rodovias e ferrovias, poderia ter sido negociado de forma mais flexível as condições de rentabilidade para assegurar a participação do setor privado.

Longe de ser um fracasso, a redução da taxa de juros ainda se mostrará fator de significativo incentivo ao investimento, o qual somente não reagiu até o momento na magnitude esperada por fatores ligados aos riscos e incertezas identificados na economia brasileira devido à crise mundial e à crise da indústria.

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