Juros e Investimento
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 29/10/2012

O grande economista inglês John Maynard Keynes dizia que "embora seja de esperar que uma baixa na taxa de juros incremente o fluxo de investimento, isto não ocorrerá se a escala da eficiência marginal do capital descer mais rapidamente do que a taxa de juros." Ou seja, nada garante que uma menor taxa de juros elevará as decisões empresariais de investir se a rentabilidade esperada (a "eficiência marginal do capital") do novo investimento declinar mais do que a taxa de juros. Assim, esta influi no volume do investimento, mas não é o único fator e em muitas situações tampouco é o seu decisivo determinante.

Essas considerações deveriam ser levadas em conta na análise de quem, no afã de criticar a redução da taxa de juros empreendida pelo Banco Central, sustenta que a nova política de juros foi um fracasso por não promover a retomada do crescimento da economia até agora. O investimento declinou no Brasil entre a 2ª metade do ano passado e a 1ª metade deste ano e ainda não mostra sinais seguros de que esteja reagindo aos estímulos da política econômica antes de tudo o mais por causa do colapso da indústria, um evento muito subestimado nas análises da economia brasileira no período recente.

De fato, a indústria brasileira sucumbiu a uma concorrência internacional por mercados que se aprofundou enormemente após a crise mundial de 2008. Segundo o Banco Central (Relatório de Inflação de junho de 2012), "a participação dos importados no atendimento da expansão anual do consumo de bens industriais passou de aproximadamente 40% em 2008 e 2010, para 100% em 2011." Ora, quem vai investir na ampliação de capacidade em um país em que a disputa pela apropriação do mercado interno consumidor entre a produção doméstica e a produção efetivada no exterior é uma variável tão em aberto, como é o caso do mercado de bens industriais brasileiro?

Keynes também observava que diante de uma situação de aguda incerteza na decisão de investir tal como se apresenta no Brasil, o Estado, além de executar políticas de juros e de financiamento recomendadas nesse caso, não deve abrir mão de coordenar ele próprio as inversões: "Achando-se o Estado em situação de poder calcular a eficiência marginal dos bens de capital a longo prazo e na base dos interesses sociais da comunidade, esperamos vê-lo assumir uma responsabilidade cada vez maior na organização direta dos investimentos, dado que provavelmente as flutuações na estimativa do mercado da eficiência marginal dos diversos tipos de capital serão demasiadamente grandes para que se possa compensá-las por meio de variações praticáveis na taxa de juros".

Bem que o governo brasileiro vem tentando isso, mas esbarra nos enormes problemas de execução de projetos de grande porte pelo setor público, o que, desta vez, parece ter envolvido até mesmo a Petrobras. Mais recentemente, anunciou um programa ambicioso de concessões de obras públicas, mas talvez devesse negociar de forma mais flexível as condições de rentabilidade para assegurar a participação do setor privado.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp