Polo Importador
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 22/10/2012

As exportações brasileiras vêm marcando passo como proporção das exportações mundiais. Já se foi o tempo em que o Brasil nutria a perspectiva de ter alguma importância no cenário exportador global. Mais recentemente, desde a crise mundial de 2008, torna-se cada vez mais patente que o espaço reservado ao país no contexto internacional é do outro lado. Dados do FMI e da OMC mostram que no pós-crise coube ao Brasil o papel de mercado dinâmico para as exportações de outros países que souberam preservar condições de agressividade como exportadores. Um estudo realizado pela economista do Iedi Cristina de Borja Reis e por mim mostra que em termos de exportações o país vem ocupando praticamente a mesma posição desde 2005 até 2011, partindo da 23ª posição e ocupando agora o 22º lugar. Isso significou que a parcela brasileira nas exportações mundiais evoluiu de 1,13% para 1,4% no período. O dinamismo das vendas externas de commodities, onde o Brasil é grande produtor, responde como o principal fator que permitiu ao país este desempenho modesto, porém positivo.

Em termos de importações o quadro foi outro. O Brasil passou a ter maior relevância para o mercado internacional, saindo da 28ª posição em 2005 para o 21º lugar em 2011, ou de uma parcela de 0,7% do mercado mundial para 1,3%. O maior salto no ranking dos importadores ocorreu em 2010, quando o Brasil ultrapassou a Suíça, Tailândia, Turquia, Polônia, Áustria e Emirados Árabes. Se for desconsiderado o comércio entre os membros da União Europeia, a posição brasileira no ranking dos importadores sobe para 15ª. Quando observado somente o comércio de manufaturas, o avanço brasileiro em termos de importações fica ainda mais claro vis-à-vis as perdas em termos de exportações. A participação brasileira nas exportações mundiais caiu de 0,85% para 0,73% do total mundial entre 2005 e 2011, regredindo da 27ª para a 30ª posição. Do lado importador, o país passou a ser o 21º maior comprador mundial de manufaturas, sendo que em 2005 era o 31º. Sua parcela no valor das importações mundiais mais do que dobrou, passando de 0,69% para 1,37%.

Em suma, o Brasil somente manteve certa dinâmica exportadora a nível internacional em função de suas commodities primárias, regredindo como exportador de manufaturas. Como importador, sua condição como mercado para produtos manufaturados se eleva, especialmente após a crise mundial de 2008. Segundo dados do FMI, o agravamento da crise nas economias desenvolvidas levou a um crescimento do comércio mundial de apenas 1% no primeiro semestre de 2012. As exportações brasileiras acompanharam este padrão, evoluindo 1,2%, enquanto as importações cresciam bem mais: 4,2%.Em parte, as tendências acima resumidas quanto à inserção brasileira no comércio mundial decorrem de mudanças na concorrência internacional por mercados mais restritos devido à crise, o que concorreu para transferir para a produção estrangeira parcela do mercado interno brasileiro e reduziu a posição brasileira em mercados no exterior. Mas correspondem também a fatores domésticos como o câmbio e outros condicionantes da baixa competitividade brasileira, o que precisa ser revisto.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp