O emprego no setor industrial brasileiro teve na década
passada um período de notável expansão. No
final desse período sofreria o impacto da crise de 2009,
mas ainda mais graves parecem ser certos efeitos que se apresentaram
no pós-crise. Além do mais, um processo de modernização
e automação industrial pode concorrer para uma reviravolta
na capacidade futura da indústria de gerar empregos. O
momento atual é, portanto, de grande importância,
dadas estas indicações de mudanças. A política
econômica pode e deve atuar para, eventualmente, amenizar
ou reverter tais tendências.
Nos anos 90
e início da década seguinte as políticas
adotadas geraram o que parecia ser um quadro permanente de desemprego
no setor, o que só seria revertido de forma sustentada
a partir de 2004. A ocupação na indústria,
que declinara 1% e 0,6% nos anos de 2002 e 2003, passa a apresentar
índices de evolução que em média chegaria
a 1,5%, como 1,8% em 2004, 1,3% em 2005, 0,1% em 2006 e 2,2% e
2,1% em 2007 e 2008. O crescimento de 2010 foi o maior de toda
a série (3,4%), mas tão somente compensou e ainda
assim de forma parcial o revés de 4,9% no ano crítico
da crise de 2009.
Desde então
o emprego doméstico no setor seria fortemente afetado pela
concorrência do produto estrangeiro no mercado brasileiro
e em mercados de exportação, o que viria deslocar
os setores mais empregadores da indústria (vestuário,
calçados, têxteis, produtos de madeira, dentre outros),
os quais, juntamente com outros ramos como alimentos, haviam sido
beneficiados pelo modelo de crescimento desenvolvido em torno
ao aumento do salário de base, dos programas sociais e
da formalização do emprego. Ou seja, a concorrência
internacional tornada aguda pela crise mundial pode ter tido,
como consequência interna, o fim de um ciclo muito favorável
do emprego industrial.
Este ainda
cresceria 1% em 2011, mas a passagem para uma fase de declínio
já era patente na segunda metade daquele ano. Em 2012,
até agosto, a trajetória de queda teve continuidade,
acumulando uma taxa de -1,4%. É possível que uma
recuperação tenha lugar a partir dos meses finais
do corrente ano seguindo a esperada retomada do aumento da produção
industrial. Mas, em uma perspectiva mais ampla do futuro, outros
problemas podem emergir.
Se a recuperação
industrial em curso tiver intensidade e for de duração
prolongada a ponto de acelerar os investimentos no setor, estes
poderão ser orientados para a automação e
o fator de fundo para isso é a evolução dos
salários, que nos últimos três anos evoluem
acima da produtividade. Tão ou mais decisivo é obter
ganhos de custo e de produtividade para fazer frente a um cenário
externo de crescimento modesto e de exponencial concorrência
por mercados industriais que deve prevalecer por um prolongado
período de tempo. O impacto de tais tendências sobre
o emprego na indústria poderá ser contido dependendo
do crescimento e se como estratégia de política
industrial o governo adotar medidas que tenham o efeito de revigorar
os mercados consumidores de bens para cuja produção
o emprego é expressivo, como os setores já assinalados,
além de segmentos ainda pouco importadores, como minerais
não-metálicos e insumos para construção
civil.