15 de outubro de 2012

Economia e Política Econômica
O emprego na indústria


  

 
O emprego no setor industrial brasileiro teve na década passada um período de notável expansão. No final desse período sofreria o impacto da crise de 2009, mas ainda mais graves parecem ser certos efeitos que se apresentaram no pós-crise. Além do mais, um processo de modernização e automação industrial pode concorrer para uma reviravolta na capacidade futura da indústria de gerar empregos. O momento atual é, portanto, de grande importância, dadas estas indicações de mudanças. A política econômica pode e deve atuar para, eventualmente, amenizar ou reverter tais tendências.

Nos anos 90 e início da década seguinte as políticas adotadas geraram o que parecia ser um quadro permanente de desemprego no setor, o que só seria revertido de forma sustentada a partir de 2004. A ocupação na indústria, que declinara 1% e 0,6% nos anos de 2002 e 2003, passa a apresentar índices de evolução que em média chegaria a 1,5%, como 1,8% em 2004, 1,3% em 2005, 0,1% em 2006 e 2,2% e 2,1% em 2007 e 2008. O crescimento de 2010 foi o maior de toda a série (3,4%), mas tão somente compensou e ainda assim de forma parcial o revés de 4,9% no ano crítico da crise de 2009.

Desde então o emprego doméstico no setor seria fortemente afetado pela concorrência do produto estrangeiro no mercado brasileiro e em mercados de exportação, o que viria deslocar os setores mais empregadores da indústria (vestuário, calçados, têxteis, produtos de madeira, dentre outros), os quais, juntamente com outros ramos como alimentos, haviam sido beneficiados pelo modelo de crescimento desenvolvido em torno ao aumento do salário de base, dos programas sociais e da formalização do emprego. Ou seja, a concorrência internacional tornada aguda pela crise mundial pode ter tido, como consequência interna, o fim de um ciclo muito favorável do emprego industrial.

Este ainda cresceria 1% em 2011, mas a passagem para uma fase de declínio já era patente na segunda metade daquele ano. Em 2012, até agosto, a trajetória de queda teve continuidade, acumulando uma taxa de -1,4%. É possível que uma recuperação tenha lugar a partir dos meses finais do corrente ano seguindo a esperada retomada do aumento da produção industrial. Mas, em uma perspectiva mais ampla do futuro, outros problemas podem emergir.

Se a recuperação industrial em curso tiver intensidade e for de duração prolongada a ponto de acelerar os investimentos no setor, estes poderão ser orientados para a automação e o fator de fundo para isso é a evolução dos salários, que nos últimos três anos evoluem acima da produtividade. Tão ou mais decisivo é obter ganhos de custo e de produtividade para fazer frente a um cenário externo de crescimento modesto e de exponencial concorrência por mercados industriais que deve prevalecer por um prolongado período de tempo. O impacto de tais tendências sobre o emprego na indústria poderá ser contido dependendo do crescimento e se como estratégia de política industrial o governo adotar medidas que tenham o efeito de revigorar os mercados consumidores de bens para cuja produção o emprego é expressivo, como os setores já assinalados, além de segmentos ainda pouco importadores, como minerais não-metálicos e insumos para construção civil.
  

    
 

 

 

 

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