O crescimento de 1,5% da produção industrial em
agosto com relação a julho foi consequência
das medidas adotadas pelo governo, a exemplo da redução
da taxa básica de juros, do câmbio mais competitivo,
da diminuição de impostos para bens duráveis
e das ações de política industrial. O resultado
indica que a economia começa uma recuperação.
Se para incentivar o investimento o governo tivesse tido o mesmo
empenho que teve nos pontos acima, o desempenho industrial teria
sido ainda maior porque entre o investimento e o consumo haveria
maior equilíbrio. Não é por acaso que o segmento
de bens de capital teve evolução de tão somente
0,3% no mesmo período.
Vários
fatores explicam um desempenho industrial tão baixo como
o que ocorreu no primeiro semestre quando a produção
caiu 3,6%. Primeiro, a indústria, que já vinha perdendo
capacidade de concorrer com o produto importado, continuou nessa
condição, muito embora o governo venha agindo para
minimizar o problema. As políticas adotadas, no entanto,
somente farão efeito a partir do ano que vem. Em segundo
lugar, as exportações de manufaturados tiveram forte
declínio devido ao ambiente externo desfavorável
e, novamente, em função dos problemas de competitividade
da produção doméstica. Terceiro, o consumo
e o investimento desaceleraram significativamente, especialmente
o segundo, reduzindo a demanda por produtos industriais.
Finalmente,
dois ramos com grande peso na estrutura industrial tiveram perdas
especialmente relevantes, sendo responsáveis por mais da
metade do declínio da produção: alimentos
e veículos. No caso de alimentos, este teve recuo de 2,8%
entre janeiro e julho, a despeito do grande aumento do salário
mínimo que reforçou o poder de compra da população
de renda mais baixa. Mas, recentemente, a produção
mostra sinais de reação, voltando a crescer.
O setor automobilístico
viveu uma crise de grandes proporções no início
do ano em parte devido ao colapso do mercado de caminhões,
mas também porque a restrição do crédito
ao consumidor por parte dos bancos privados conteve a nova demanda
de automóveis. Nesse caso, foi necessária a intervenção
do governo, através da redução do IPI, para
interromper uma queda que chegou a 18% no primeiro semestre, desovar
os estoques e regularizar o mercado. A reativação
recente nesses dois setores que, juntos, representam quase 20%
da indústria brasileira, pode ser expressa nos índices
de crescimento dos dois últimos meses, 4,6% e 7,6%, respectivamente.
A retomada
da indústria depende de outros fatores, especialmente de
sua condição de concorrer com a produção
estrangeira, como já foi observado, mas a continuidade
da recuperação desses dois setores é também
importante. Em alimentos, a evolução deve ter continuidade,
mas o fim previsto para outubro do benefício fiscal na
compra de automóveis explicita a necessidade de que o crédito
às famílias volte a crescer.
O governo
está empenhado em que isto ocorra através dos bancos
públicos. Por outro lado, uma possibilidade que deve ser
levada em conta é que os próprios financiadores
privados venham a se interessar mais pela reativação
do crédito já os índices de inadimplência
no financiamento de veículos, que vinham aumentando, se
estabilizaram desde maio.
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