A Carta IEDI
hoje trata dos últimos resultados da produção
da indústria brasileira. Em agosto o setor saiu da fase
de aguda retração do primeiro semestre, quando acumulou
queda próxima a 4%. Não foram apenas os estímulos
extras promovidos pelo governo, a exemplo do menor IPI para veículos
e outros bens duráveis, os determinantes da recuperação.
Também colaboraram as medidas mais gerais que já
há algum tempo a política econômica vinha
promovendo, como a redução da taxa de juros, o melhor
posicionamento da taxa de câmbio e as ações
de política industrial.
Contudo, o
ajuste de estoques que tardou a ser concluído na indústria
foi também relevante. Em 2011 e parte deste ano os produtores
foram acumulando estoques por causa da concorrência dos
importados. Todavia, nos últimos meses esse desajuste foi
minimizado. Isso significa dizer que o ciclo de estoques passa
a ter efeito positivo sobre a produção, ao invés
de negativo, como vinha prevalecendo.
É claro
que nos setores de automóveis, móveis e produtos
da linha branca a redução de impostos foi fator
destacado para a desova de estoques. Porém, o fato de que
a produção foi retomada com vigor em outros ramos,
como alimentos e setores de bens intermediários, indica
que o crescimento da indústria teve causas mais abrangentes.
A engrenagem industrial funciona a pleno vapor quando existe um
segmento de bens intermediários plenamente constituído
- como ainda é o nosso caso -, o que permite que um estímulo
de demanda seja multiplicado pela dinâmica endógena
da indústria.
Pode ser que
o excepcional crescimento de agosto (1,5%) não se repita
nos próximos meses, pois algumas dúvidas persistem
acerca da intensidade da reativação industrial.
Primeiro, a indústria ainda não tem forças
para concorrer com os importados, muito mais baratos. O governo
vem agindo nessa questão, mas os efeitos só começarão
a surgir a partir de 2013. Segundo, muito embora tenham melhorado
em setembro, as exportações industriais estão
muito fracas, o que pode neutralizar em parte os fatores de impulsão
da indústria. Uma terceira dúvida diz respeito ao
resultado para o segmento de bens de capital, que não acompanhou
o desempenho global, crescendo apenas 0,3%.