1º de outubro de 2012

Política Econômica
A reativação do crédito


  

 
A economia de fato estará crescendo mais neste segundo semestre, em parte porque a indústria declinou muito sua produção na primeira metade de 2012 em decorrência de retrações setoriais pontuais, porém muito importantes, como nos setores de automóveis e alimentos, o que não deve se repetir nos próximos meses. O melhor desempenho econômico será resultado das muitas ações de política do governo e da evolução do credito familiar. Este, no entanto, ainda enfrenta problemas para deslanchar nos mesmos moldes que cresceu nos últimos anos.

Segundo o último levantamento do Banco Central, a concessão por dia útil de crédito às famílias com recursos livres dos bancos teve em agosto variação de 5,4% com relação ao mesmo mês de 2011, observando-se que no mês anterior o aumento fora de 5,6%. São índices que mal cobrem a inflação do período. Ou seja, nos dois últimos meses a variação do crédito novo às famílias é praticamente nula. Cabe a observação também sobre o desempenho do financiamento familiar no acumulado no ano. Até agosto, o Banco Central registra aumento de 8,9% das concessões diárias, portanto uma pequena evolução real. Esses dados deixam claro que tem havido uma desaceleração das concessões, toda ela localizada nos financiamentos dos bancos privados, já que os bancos públicos vêm procurando elevar o volume de crédito sob a orientação de políticas do governo.

O Brasil vivenciou um vigoroso ciclo de crédito para as famílias que municiou o crescimento do PIB dos oito últimos anos. Este ciclo obedeceu a uma série de fatores encadeados. Primeiro, o aumento do rendimento de base puxado pela política de salário mínimo e a formalização do emprego criaram uma nova clientela de consumidores e devedores, o que, ao lado de uma extraordinária expansão do comércio, suscitou uma forte concorrência bancária por facilidades para atrair clientes. Essas facilidades não envolveram a redução da taxa de juros do crédito, mas, sim, acesso a serviços bancários e ao crédito e maiores prazos de pagamentos dos empréstimos. Ou seja, a despeito dos crescentes saldos de financiamentos, praticamente nada se passou com os níveis de spreads bancários que se manteriam elevadíssimos.

A ampliação de prazos viria a ser promovida também por uma inovação financeira representada pela instituição do crédito consignado que na prática removeu o risco de inadimplência no financiamento das pessoas físicas recebedoras de salários, pensões ou aposentadorias do setor público. O êxito desta modalidade concorreu para baixar o custo médio do crédito, mas seu principal efeito foi o de elevar o prazo médio do crédito pessoal, o que concorreu para alavancar ainda mais o endividamento e o poder de compra dos novos consumidores. Os prazos dos financiamentos também viriam a ser impulsionados pela expressão maior que o crédito imobiliário viria a ter.

Esta peculiar combinação de fatores – renda e formalização em expansão, concorrência bancária e inovações financeiras promovidas pela política econômica – foi responsável por um boom de consumo que somente encontra paralelo no “milagre brasileiro” dos anos 1968/74. A crise financeira mundial deflagrada em 2008 interrompeu apenas momentaneamente esse processo. Ele seria reiniciado já na segunda metade de 2009 com o sucesso das políticas de combate ao contágio da crise sobre a economia brasileira. Mesmo tendo sido redobrada, a concorrência entre as instituições de crédito para recapturar a clientela, também desta vez não levou à queda da taxa de juros e a uma ampliação mais generalizada de prazos dos empréstimos.

Assim, se nesta nova etapa o endividamento familiar cresceria expressivamente, com maior intensidade aumentaria o comprometimento médio das famílias com amortizações e pagamentos de juros de suas dívidas. A restrição imposta pelos bancos privados ao crédito às famílias, que se imporia como tendência desde os meses finais do ano passado, decorreu da percepção dos bancos privados de que os compromissos com o pagamento de dívidas familiares atingira nível perigoso, sobretudo no caso dos devedores recém-incorporados ao mercado de crédito.

Pois bem, ao que parece, este receio ainda não foi dissipado mesmo que o aumento das taxas de inadimplência ocorrido no primeiro semestre tenha sido refreado nos últimos meses. Este pode ser um indicativo de que para que um boom de envergadura semelhante ao dos últimos anos venha a ocorrer será necessário que os spreads caiam muito e os prazos dos financiamentos sejam majorados para além do crédito consignado e do crédito imobiliário. Como mostram recentes trabalhos do BIS e do FMI, o que notabiliza o Brasil é que seu nível relativamente bem mais baixo de endividamento familiar do que em outros países como EUA, Chile e México, está associado a um padrão muito superior de comprometimento de renda.

Reduzir as taxas do crédito e alongar prazos são de decisiva importância para a intensidade e a duração do crescimento econômico futuro.
  

    

 

 

 

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