A economia de fato estará crescendo mais neste segundo
semestre, em parte porque a indústria declinou muito sua
produção na primeira metade de 2012 em decorrência
de retrações setoriais pontuais, porém muito
importantes, como nos setores de automóveis e alimentos,
o que não deve se repetir nos próximos meses. O
melhor desempenho econômico será resultado das muitas
ações de política do governo e da evolução
do credito familiar. Este, no entanto, ainda enfrenta problemas
para deslanchar nos mesmos moldes que cresceu nos últimos
anos.
Segundo o
último levantamento do Banco Central, a concessão
por dia útil de crédito às famílias
com recursos livres dos bancos teve em agosto variação
de 5,4% com relação ao mesmo mês de 2011,
observando-se que no mês anterior o aumento fora de 5,6%.
São índices que mal cobrem a inflação
do período. Ou seja, nos dois últimos meses a variação
do crédito novo às famílias é praticamente
nula. Cabe a observação também sobre o desempenho
do financiamento familiar no acumulado no ano. Até agosto,
o Banco Central registra aumento de 8,9% das concessões
diárias, portanto uma pequena evolução real.
Esses dados deixam claro que tem havido uma desaceleração
das concessões, toda ela localizada nos financiamentos
dos bancos privados, já que os bancos públicos vêm
procurando elevar o volume de crédito sob a orientação
de políticas do governo.
O Brasil vivenciou
um vigoroso ciclo de crédito para as famílias que
municiou o crescimento do PIB dos oito últimos anos. Este
ciclo obedeceu a uma série de fatores encadeados. Primeiro,
o aumento do rendimento de base puxado pela política de
salário mínimo e a formalização do
emprego criaram uma nova clientela de consumidores e devedores,
o que, ao lado de uma extraordinária expansão do
comércio, suscitou uma forte concorrência bancária
por facilidades para atrair clientes. Essas facilidades não
envolveram a redução da taxa de juros do crédito,
mas, sim, acesso a serviços bancários e ao crédito
e maiores prazos de pagamentos dos empréstimos. Ou seja,
a despeito dos crescentes saldos de financiamentos, praticamente
nada se passou com os níveis de spreads bancários
que se manteriam elevadíssimos.
A ampliação
de prazos viria a ser promovida também por uma inovação
financeira representada pela instituição do crédito
consignado que na prática removeu o risco de inadimplência
no financiamento das pessoas físicas recebedoras de salários,
pensões ou aposentadorias do setor público. O êxito
desta modalidade concorreu para baixar o custo médio do
crédito, mas seu principal efeito foi o de elevar o prazo
médio do crédito pessoal, o que concorreu para alavancar
ainda mais o endividamento e o poder de compra dos novos consumidores.
Os prazos dos financiamentos também viriam a ser impulsionados
pela expressão maior que o crédito imobiliário
viria a ter.
Esta peculiar
combinação de fatores – renda e formalização
em expansão, concorrência bancária e inovações
financeiras promovidas pela política econômica –
foi responsável por um boom de consumo que somente
encontra paralelo no “milagre brasileiro” dos anos
1968/74. A crise financeira mundial deflagrada em 2008 interrompeu
apenas momentaneamente esse processo. Ele seria reiniciado já
na segunda metade de 2009 com o sucesso das políticas de
combate ao contágio da crise sobre a economia brasileira.
Mesmo tendo sido redobrada, a concorrência entre as instituições
de crédito para recapturar a clientela, também desta
vez não levou à queda da taxa de juros e a uma ampliação
mais generalizada de prazos dos empréstimos.
Assim, se
nesta nova etapa o endividamento familiar cresceria expressivamente,
com maior intensidade aumentaria o comprometimento médio
das famílias com amortizações e pagamentos
de juros de suas dívidas. A restrição imposta
pelos bancos privados ao crédito às famílias,
que se imporia como tendência desde os meses finais do ano
passado, decorreu da percepção dos bancos privados
de que os compromissos com o pagamento de dívidas familiares
atingira nível perigoso, sobretudo no caso dos devedores
recém-incorporados ao mercado de crédito.
Pois bem,
ao que parece, este receio ainda não foi dissipado mesmo
que o aumento das taxas de inadimplência ocorrido no primeiro
semestre tenha sido refreado nos últimos meses. Este pode
ser um indicativo de que para que um boom de envergadura
semelhante ao dos últimos anos venha a ocorrer será
necessário que os spreads caiam muito e os prazos dos financiamentos
sejam majorados para além do crédito consignado
e do crédito imobiliário. Como mostram recentes
trabalhos do BIS e do FMI, o que notabiliza o Brasil é
que seu nível relativamente bem mais baixo de endividamento
familiar do que em outros países como EUA, Chile e México,
está associado a um padrão muito superior de comprometimento
de renda.
Reduzir as
taxas do crédito e alongar prazos são de decisiva
importância para a intensidade e a duração
do crescimento econômico futuro.