A crise financeira mundial deflagrada em 15 de setembro de 2008
completou quatro anos. É tempo suficiente para que despontem
tendências relevantes em uma economia como a brasileira.
Tais tendências, em parte, seguem determinações
particulares de nossa economia, mas a crise mundial foi decisiva
em definir rumos que, se nada for feito, perdurarão para
o bem ou para o mal. A principal delas é a desindustrialização,
que está se revelando como declínio absoluto do
valor adicionado da indústria de transformação.
Anteriormente, o recuo industrial era relativo, com a indústria
seguindo em evolução, embora menor do que os demais
setores.
A partir de
projeções sobre o PIB do terceiro trimestre desse
ano, entre o trimestre que antecedeu a crise mundial (o terceiro
de 2008) e este mesmo trimestre de 2012, o declínio da
manufatura chega a 6%, enquanto o PIB aumentava 10%. Políticas
internas tiveram contribuição para tão amplo
distanciamento, a começar pela falta de ações
no passado voltadas ao desenvolvimento interno de setores mais
modernos da indústria. Os custos também se elevaram
e o Real valorizou-se extraordinariamente. Mas o fato novo que
impôs a rápida transição de uma forma
de desindustrialização para outra mais aguda tem
correspondência com a situação internacional.
Como se sabe,
as políticas aplicadas para combater a crise evitaram a
ruptura financeira e a depressão com consequente destruição
de capacidade produtiva. O crescimento baixo, no entanto, passou
a ser a norma entre os países desenvolvidos e a desaceleração
na China é evidente, o que significa dizer que ao lado
da preservação da capacidade de produção
mundial de bens industriais, os mercados para colocação
desses bens sofreram grande encolhimento.
Enquanto perdurar
essa situação a forma como o Brasil se insere na
economia mundial terá mudança profunda. Em outras
palavras, como a concorrência entre as economias cresceu
enormemente, a posição brasileira que já
vinha sofrendo transformações desde o boom das commodities
se altera correspondentemente: de polo exportador de manufaturas
relativamente relevante, passa a ser mercado de importância
crescente para outras economias porque o seu dinamismo interno
contrasta com o baixo padrão de crescimento global.
Na ausência
de reação imediata da política econômica
isto determinou mudanças nos eixos dinâmicos da economia
doméstica. As importações de bens e serviços
acumularam aumento de nada menos que 37% no período, ao
passo que as exportações praticamente não
tiveram expansão (+0,9%).
É um
modelo importador, não industrial, com fraco desempenho
das exportações, que, como consequência, induz
ao baixo investimento (aumento de 10,8%).
O consumo
(+18,5%) é quem promove o crescimento e impulsiona o setor
de serviços, de forma que o principal polo da economia
deixa de ser a indústria, mas não se transfere para
a agropecuária (+6,5%). O novo setor líder teve
expansão de 12%, com destaque especial para a atividade
financeira (+25%).
No último
ano o país começou a acordar para as armadilhas
engendradas por suas próprias políticas e pelos
desdobramentos da crise internacional, mas mudar este quadro leva
tempo.
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