3 de setembro de 2012

Economia e Política Econômica
A Queda das Exportações Brasileiras: Retração de Mercados ou Competitividade?


  

 
Merece ser enfatizado o tema do baixo dinamismo das exportações brasileiras. O IEDI vem procurando desenvolver trabalhos para mostrar que cada vez mais torna-se claro o afastamento da economia brasileira com relação à economia internacional. Isso é anterior à crise mundial de 2008 e, ao contrário do que muitos imaginam, não é favorável à economia do país, muito embora seja inegável que o mercado interno dinâmico é relevante para a proteção da economia em um cenário de crise internacional e, ainda, condição indispensável para o crescimento econômico de longo prazo.

Em algum momento no futuro sofreremos com a ausência de uma política econômica dedicada à inserção do Brasil no exterior, seja através da colocação de nossos produtos em mercados externos ou da internacionalização de empresas brasileiras. As lacunas serão sentidas especialmente no ritmo com que o investimento em inovação e os ganhos de produtividade evoluem em nossa economia.

Um estudo que o IEDI está divulgando em sua Carta de hoje mostra que a queda das exportações observada no segundo trimestre de 2012, da ordem de US$ 5 bilhões com relação ao valor apurado no mesmo período de 2011, não pode ser atribuída exclusivamente ao agravamento da crise internacional que afetou o desempenho econômico de parceiros comerciais brasileiros e deprimiu preços de commodities exportadas pelo país. O resultado reflete também a baixa capacidade do produto brasileiro concorrer em mercados internacionais, a despeito do valor mais favorável do Real.

O recuo de 7,4% nas vendas no exterior no período em foco foi generalizado entre as categorias de uso (bens de capital, bens intermediários, bens duráveis e não duráveis e combustíveis), mas as perdas mais agudas ocorreram em bens de capital (-13,7%) e bens de consumo duráveis (-12,2%). Por destino, os mercados que mais deixaram de importar os produtos brasileiros foram o MERCOSUL (-21,9%), América Latina e Caribe (-15,9%) e União Europeia (-11,0%). Uma coisa tem relação com a outra, pois nossos mercados mais relevantes para venda de bens duráveis e bens de capital são precisamente a União Europeia e o MERCOSUL.

É possível sustentar que as exportações brasileiras de bens de capital e de bens de consumo duráveis para o mercado europeu tiveram queda correspondente ao declínio das importações europeias. Para esses bens a participação do Brasil nas importações do bloco não chega a 1,5%, enquanto as importações da UE de produtos brasileiros alcança 3,2% das compras do bloco. A diferença certamente é explicada pela nossa perda de competitividade de bens industriais no período anterior ao agravamento da crise vivida por este bloco.

Mas, no MERCOSUL a redução nas importações provenientes do Brasil foi mais do que proporcional à total, concentrando-se o problema na economia argentina, responsável por nada menos do que 80% do total exportado pelo Brasil. No caso de bens de capital, nossas vendas para a Argentina no primeiro semestre de 2012 caíram bem mais (-30,5%) do que as importações daquele país desses mesmos bens (-21%). Em bens de consumo duráveis ocorreu o mesmo.

Como conclusão, pelo menos no caso das exportações de bens de capital e bens duráveis de consumo para o MERCOSUL, algo além da crise econômica está em jogo para explicar o mergulho das vendas externas brasileiras. Logo há questões estruturais relacionadas à perda de competitividade, seja fatores sistêmicos, como Custo Brasil e câmbio, ou fatores internos das firmas relacionados ao baixo investimento, defasagem tecnológica, ineficiências de escala, etc.
  

    

 

 

 

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