Uma Nova Dinâmica
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Brasil Econômico – 27/08/2012

Em 2012 apresentou-se uma nova configuração da balança comercial de produtos industriais. Desde meados da década passada, quando o Brasil aceitou redefinir seu comércio exterior na direção que os ventos internacionais sopravam, o polo de geração de saldo comercial foi transferido para sua economia primária exportadora, enquanto o setor industrial acumulava crescentes e explosivos déficits. O comércio de bens industriais passou a notabilizar-se por crescimento muito acentuado das importações. Quanto às exportações, estas também cresciam, acompanhando o dinamismo da economia mundial, mas em escala muito menor relativamente às compras do exterior.

Este modelo teve dominância crescente com o boom das commodities e determinou a espetacular transição de um saldo expressivo de produtos industriais da ordem de US$ 30 bilhões em 2005, para déficit de quase US$ 50 bilhões em 2011. A política econômica assistiu passivamente a esse movimento deixando-se levar pela valorização do real e por outros fatores que deprimiam a competitividade da produção doméstica, acomodando-se diante do argumento de que os "fundamentos" da economia comandavam esse processo. Outros países emergentes com estratégias bem definidas de desenvolvimento e mais consequentes em suas avaliações dos movimentos internacionais não teriam perdido esta oportunidade de usar o alargamento de seu financiamento externo propiciado pelas commodities para promover mudanças estruturais. Dentre outras coisas, isso passaria por avanço da capacidade da indústria de potencializar o impulso ao desenvolvimento originado do setor primário.

Pois bem, se na bonança a indústria sofreu tamanho revés, na etapa mais recente, na qual a política econômica mostra-se firme na redução da taxa de juros, parece decidida em manter um câmbio competitivo e adota boas políticas industriais, o agravamento da crise mundial vem impondo a continuidade do mesmo quadro. No primeiro semestre deste ano, o déficit de bens industriais atingiu US$ 28 bilhões. Teve uma evolução inferior a que ocorrera na primeira metade do ano passado (48,5%), mas ainda assim muito elevada: 31%. Dado o baixo crescimento da economia doméstica, as importações aumentaram muito menos, ou seja, 5,8%, contra 28% no primeiro semestre do ano passado. Mas do lado das exportações a reviravolta foi mais profunda, com o índice de 22,8% da primeira metade de 2011 cedendo lugar a uma taxa negativa de 2,0% em 2012.

As exportações de produtos considerados de alta e média-alta tecnologia não foram tão afetadas (aumentos de, respectivamente, 10,2% e 0,3%), sugerindo que nesses casos os incentivos da política industrial devem ser redobrados. Em média-baixa e baixa tecnologia, onde a presença de commodities industriais (como alimentos processados, celulose e aço) é relevante, a retração dos mercados externos e os preços de exportação menos favoráveis fizeram a diferença, resultando em declínios de, respectivamente, 2,7% e 4,9%. Sair dessa encruzilhada requer ampliar a diversificação industrial na direção dos setores mais intensivos em tecnologia e elevar a competitividade em geral da indústria brasileira.


Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e
Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda