O Momento Econômico
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Brasil Econômico – 20/08/2012

O crescimento econômico no segundo semestre de 2012 deverá ser maior, embora o fantasma da situação internacional ainda se faça presente. A perspectiva mais favorável vem de ações promovidas pela política econômica desde o ano passado e que agora começam a surtir efeito, a exemplo da redução dos juros básicos, mais baixas taxas do crédito, medidas de política industrial como a desoneração da folha, câmbio mais favorável e menores impostos para bens duráveis.

Adicionalmente, o governo procura reanimar o investimento privado através do lançamento de um grande programa de concessões em rodovias e ferrovias e acena com a retomada dos investimentos do PAC e da Petrobras que declinaram muito na primeira metade do ano. É provável ainda que ao longo do segundo semestre seja revertido o encolhimento promovido pelos bancos privados no crédito às famílias diante do receio de aumento excessivo da inadimplência, que não se confirmou.

O setor industrial deve acompanhar esse processo após ter acumulado queda de 3,8% no primeiro semestre, em grande medida causado por um fator grave, porém localizado: o colapso da produção de autoveículos. A regularização dos estoques e da produção desse segmento já está em curso após o corte do IPI na compra de automóveis e medidas de incentivo para aquisição de ônibus e caminhões, o que além de remover uma das principais causas do declínio industrial, poderá abrir caminho para a volta do crescimento no setor com impacto sobre o resto da indústria e da economia.

No entanto, persistem dúvidas sobre a magnitude da reativação industrial, pois apesar de melhoras no câmbio e redução de custos promovidos pelo governo, a concorrência do produto do exterior ainda retira mercados dos produtos brasileiros. Isto decorre do agravamento da situação internacional, que estreitou ainda mais o crescimento da economia mundial e intensificou a disputa por mercados de produtos industriais. Por esta razão, ainda que o percurso da indústria seja de recuperação no segundo semestre, este poderá ser um ano de crescimento médio virtualmente nulo para a indústria, repetindo o ano passado.

Além do decisivo tema do dinamismo do setor industrial, outras questões estruturais precisam ser retomadas, como a projeção externa da economia brasileira. Salvo na área de commodities, o Brasil vem se afastando muito dos mercados internacionais e, além disso, a presença da empresa nacional no exterior continua baixa.

O Brasil precisa estruturar uma adequada política de comércio exterior e de exportação de manufaturados, além de identificar mecanismos de incentivo à internacionalização das suas empresas. Com isso beneficiará o investimento em inovação e o avanço da produtividade em sua própria economia. Para alguns analistas, abrir e subsidiar a importação por si só basta para promover esses avanços, mas o motor das exportações e da internacionalização é que nos parece eficaz e que desenvolve a integração com cadeias de produção internacionais, através das importações. É a exportação o veículo para aumentar as importações e não contrário.


Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e
Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda