Alvos Corretos
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Brasil Econômico – 09/07/2012

O governo vem adotando medidas visando um crescimento maior em 2012. É necessário, no entanto, aprimorar o diagnóstico dos problemas econômicos para que as políticas tenham o efeito desejado. Nenhum dos impasses que hoje se apresentam na economia é de solução fácil e é isso o que o governo deveria levar em conta em primeiro lugar para sua tomada de decisões. A economia não tem competitividade, pois além de deficiências de produtividade em alguns segmentos, tem custos tributários, de capital de terceiros, de energia, de logística e de matérias-primas básicas que tornam a produção possível de ser realizada fora do espaço territorial do país uma alternativa muito atraente. Esta alternativa não é possível para quase todos os segmentos de serviços e para a agropecuária, mas para a indústria, sim. Daí a crise industrial.

A "fuga" para o importado ganha dimensão ainda maior em razão do poder das grandes empresas internacionais em determinar a distribuição espacial da produção a nível mundial. Em consequência, são seríssimas as restrições que se colocam ao alcance das políticas adotadas pelo governo na área de juros, câmbio, incentivo ao consumo, defesa comercial, etc. Em outras palavras, na medida em que permanece intacto o déficit de competitividade da economia, as políticas de incentivo são capturadas pelas importações de bens acabados ou de insumos usados na fabricação doméstica de manufaturas e acabam beneficiando outras economias e as estratégias globais de empresas internacionais.

O governo não é responsável pelo acúmulo de tantas e tão profundas distorções na economia, que vêm de longe, mas o outro lado também é verdadeiro: não é com medidas tópicas, executadas com dosagem homeopática e de pouco alcance imediato que a política econômica fará diferença em mudar o quadro atual. O comando econômico quis fazer crer que a taxa de câmbio vigente desde março último colaboraria de forma decisiva para compensar a baixa capacidade de concorrência da economia. Isto, todavia, não é verdadeiro porque seu nível está longe de ser especialmente favorecedor do produto doméstico.

A primeira metade de 2012 reproduziu o fator de fundo que deprimiu a indústria em 2011 - a sua baixíssima competitividade -, mas o atual contexto é mais grave porque agora o mercado interno já não cresce como antes devido à fase adversa do consumo e do investimento, sobretudo o investimento industrial em função do colapso das expectativas de longo prazo do empresário industrial. Em outras palavras, a indústria contaminou a economia. A dificuldade do atual ciclo de negócios no Brasil é agravada pela crítica situação internacional que joga ainda mais para baixo as decisões de investir no plano interno.

Não há como escapar nesse momento ao combate frontal às causas do mau momento econômico. O câmbio competitivo é decisivo, e, além disso, a economia precisa de um choque de competitividade. Nada mais representativo de mudanças dessa envergadura do que uma reforma na tributação. Em segundo lugar, a demanda efetiva precisa ser reerguida e nada mais eficaz para isso do que incentivar de modo muito mais incisivo as inversões públicas e privadas.


Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e
Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda