O governo vem adotando medidas que não deixam de ser corretas
visando um crescimento maior em 2012. É necessário,
no entanto, aprimorar o diagnóstico dos problemas atualmente
vividos pela indústria e pela economia do país ou,
do contrário, as políticas deixam de surtir o efeito
desejado.
São
vários os impasses que hoje se apresentam na economia brasileira,
nenhum deles de solução fácil e é
isso que o governo deveria levar em conta em primeiro lugar para
sua tomada de decisões. A economia doméstica não
tem competitividade, pois além de uma produtividade que
poderia evoluir mais, tem custos tributários, de capital
de terceiros, de energia e de matérias primas que tornam
a produção possível de ser realizada fora
do espaço territorial do país uma alternativa altamente
atraente. É claro que esta alternativa não é
possível para quase todos os segmentos de serviços
e para a agropecuária. Mas para a indústria, sim.
A “fuga”
para o importado decorre do gravíssimo problema da competitividade
interna, mas ganha dimensão ainda maior em razão
do inusitado poder das grandes empresas internacionais em determinar
a localização da produção em nível
global. Daí as seriíssimas restrições
que se colocam presentemente ao alcance das políticas domésticas
que impõem baixíssima eficácia para as ações
que vêm sendo adotadas desde agosto do ano passado, passando
pela redução da taxa básica de juros, incentivo
ao consumo, adoção de políticas industriais
e de defesa comercial e medidas setoriais de compensação.
Em outras
palavras, devido ao fato de ter permanecido intacto o enorme déficit
de competitividade da economia as políticas de incentivo
acabaram sendo capturadas integralmente pelos produtos importados
que, na forma de bens acabados, preferencialmente ingressam no
país através de acordos celebrados pelo Brasil com
parceiros comerciais, ou de insumos usados na fabricação
dos produtos objeto de incentivo.
Não
se trata de responsabilizar o governo pelo acúmulo de distorções
as quais vêm de longe no campo da tributação,
do financiamento, da infraestrutura e no atraso da produtividade
e da inovação na economia, mas o outro lado também
é verdadeiro: não é com medidas tópicas
e de pouco alcance imediato e sob uma dosagem apenas homeopática
que a política econômica fará diferença
em mudar o quadro atual.
É conveniente
destacar que o quadro acima resumido teve seus contornos definidos
no ano passado, quando o mercado interno para bens de consumo
e para bens de investimento ainda preservava bom desempenho. A
política econômica quer fazer crer que a taxa de
câmbio mais favorável à produção
doméstica que passou a prevalecer desde março último,
resolveria ou colaboraria decisivamente para compensar a baixa
capacidade de concorrência da economia. Isto não
é verdadeiro, tanto porque o nível a que chegou
a cotação do dólar – a propósito,
devido mais à volta da instabilidade externa e não
tanto como contrapartida das ações das políticas
internas – está longe de ser especialmente favorecedor
do produto doméstico.
Portanto,
a primeira metade de 2012 reproduz o fator que deprimiu a indústria
no ano passado, mas o contexto atual é mais grave porque
adicionalmente o mercado interno já não cresce como
antes devido à fase adversa do consumo (em parte porque
a inadimplência nos financiamentos para as famílias
aumentou) e do investimento, sobretudo o investimento industrial
em função do colapso das expectativas de longo prazo
de parte do empresário industrial. Em outras palavras,
a indústria contaminou a economia.
Não
há como escapar nesse momento ao combate frontal às
causas fundamentais do mau momento econômico. O câmbio
competitivo é decisivo, mas, aliado a isto, a economia
– o setor industrial à frente – precisa não
de meros aperfeiçoamentos, mas de um verdadeiro choque
de competitividade e nada mais representativo de mudanças
dessa envergadura do que uma reforma na tributação.
Em segundo lugar, a demanda efetiva precisa ser reerguida e nada
mais eficaz para isso do que incentivar de um modo mais efetivo
do que têm sido feito as inversões públicas
e privadas. O governo vem anunciando ações para
dinamizar o investimento, mas o mínimo que se pode delas
falar é que são tímidas, porque restritas,
para citar uma delas, a uma redução marginal do
custo dos financiamentos do BNDES.
A dificuldade
do atual ciclo de negócios no Brasil é agravada
pela situação internacional que é crítica,
o que deprime ainda mais as decisões de investir. Mas,
independentemente disso, a economia evoluiria em qualidade e ganharia
pontos de crescimento se os alvos da política econômica
e a intensidade necessária das ações forem
corretamente identificados.
Os resultados
da pesquisa industrial hoje divulgados pelo IBGE ilustram como
a indústria transitou de uma situação de
estagnação em 2011 para a condição
de recessão aberta nos meses iniciais de 2012. Em maio,
frente a abril, o setor industrial produziu 0,9% a menos, com
ajuste sazonal; sobre maio do ano passado a queda chega a -4,3%
e no ano o retrocesso é de -3,4%.
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