3 de julho de 2012

Indústria
Os alvos corretos


  

 
O governo vem adotando medidas que não deixam de ser corretas visando um crescimento maior em 2012. É necessário, no entanto, aprimorar o diagnóstico dos problemas atualmente vividos pela indústria e pela economia do país ou, do contrário, as políticas deixam de surtir o efeito desejado.

São vários os impasses que hoje se apresentam na economia brasileira, nenhum deles de solução fácil e é isso que o governo deveria levar em conta em primeiro lugar para sua tomada de decisões. A economia doméstica não tem competitividade, pois além de uma produtividade que poderia evoluir mais, tem custos tributários, de capital de terceiros, de energia e de matérias primas que tornam a produção possível de ser realizada fora do espaço territorial do país uma alternativa altamente atraente. É claro que esta alternativa não é possível para quase todos os segmentos de serviços e para a agropecuária. Mas para a indústria, sim.

A “fuga” para o importado decorre do gravíssimo problema da competitividade interna, mas ganha dimensão ainda maior em razão do inusitado poder das grandes empresas internacionais em determinar a localização da produção em nível global. Daí as seriíssimas restrições que se colocam presentemente ao alcance das políticas domésticas que impõem baixíssima eficácia para as ações que vêm sendo adotadas desde agosto do ano passado, passando pela redução da taxa básica de juros, incentivo ao consumo, adoção de políticas industriais e de defesa comercial e medidas setoriais de compensação.

Em outras palavras, devido ao fato de ter permanecido intacto o enorme déficit de competitividade da economia as políticas de incentivo acabaram sendo capturadas integralmente pelos produtos importados que, na forma de bens acabados, preferencialmente ingressam no país através de acordos celebrados pelo Brasil com parceiros comerciais, ou de insumos usados na fabricação dos produtos objeto de incentivo.

Não se trata de responsabilizar o governo pelo acúmulo de distorções as quais vêm de longe no campo da tributação, do financiamento, da infraestrutura e no atraso da produtividade e da inovação na economia, mas o outro lado também é verdadeiro: não é com medidas tópicas e de pouco alcance imediato e sob uma dosagem apenas homeopática que a política econômica fará diferença em mudar o quadro atual.

É conveniente destacar que o quadro acima resumido teve seus contornos definidos no ano passado, quando o mercado interno para bens de consumo e para bens de investimento ainda preservava bom desempenho. A política econômica quer fazer crer que a taxa de câmbio mais favorável à produção doméstica que passou a prevalecer desde março último, resolveria ou colaboraria decisivamente para compensar a baixa capacidade de concorrência da economia. Isto não é verdadeiro, tanto porque o nível a que chegou a cotação do dólar – a propósito, devido mais à volta da instabilidade externa e não tanto como contrapartida das ações das políticas internas – está longe de ser especialmente favorecedor do produto doméstico.

Portanto, a primeira metade de 2012 reproduz o fator que deprimiu a indústria no ano passado, mas o contexto atual é mais grave porque adicionalmente o mercado interno já não cresce como antes devido à fase adversa do consumo (em parte porque a inadimplência nos financiamentos para as famílias aumentou) e do investimento, sobretudo o investimento industrial em função do colapso das expectativas de longo prazo de parte do empresário industrial. Em outras palavras, a indústria contaminou a economia.

Não há como escapar nesse momento ao combate frontal às causas fundamentais do mau momento econômico. O câmbio competitivo é decisivo, mas, aliado a isto, a economia – o setor industrial à frente – precisa não de meros aperfeiçoamentos, mas de um verdadeiro choque de competitividade e nada mais representativo de mudanças dessa envergadura do que uma reforma na tributação. Em segundo lugar, a demanda efetiva precisa ser reerguida e nada mais eficaz para isso do que incentivar de um modo mais efetivo do que têm sido feito as inversões públicas e privadas. O governo vem anunciando ações para dinamizar o investimento, mas o mínimo que se pode delas falar é que são tímidas, porque restritas, para citar uma delas, a uma redução marginal do custo dos financiamentos do BNDES.

A dificuldade do atual ciclo de negócios no Brasil é agravada pela situação internacional que é crítica, o que deprime ainda mais as decisões de investir. Mas, independentemente disso, a economia evoluiria em qualidade e ganharia pontos de crescimento se os alvos da política econômica e a intensidade necessária das ações forem corretamente identificados.

Os resultados da pesquisa industrial hoje divulgados pelo IBGE ilustram como a indústria transitou de uma situação de estagnação em 2011 para a condição de recessão aberta nos meses iniciais de 2012. Em maio, frente a abril, o setor industrial produziu 0,9% a menos, com ajuste sazonal; sobre maio do ano passado a queda chega a -4,3% e no ano o retrocesso é de -3,4%.
 

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial apontou variação negativa de 0,9% em maio frente a abril, com ajuste sazonal, terceiro resultado negativo consecutivo nesse tipo de comparação. Frente a igual mês do ano anterior, o setor industrial também mostrou queda na produção (–4,3%), nona taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação. Com isso, o índice acumulado nos cinco primeiros meses do ano registrou redução de 3,4%. Nos últimos 12 meses encerrados em maio, a produção industrial apresenta recuo de 1,8%, mantendo a trajetória descendente iniciada em outubro de 2010 (11,8%) e assinalou a taxa negativa mais intensa desde fevereiro de 2010 (–2,6%).

Entre as categorias de uso, na comparação com o mês imediatamente anterior com ajuste sazonal, bens de consumo duráveis (–2,2%), bens de consumo semi e não duráveis (–2,1%) e bens de capital (–1,8%) apontaram as taxas negativas expressivas em maio. O setor de bens intermediários (0,2%) foi o único resultado.

No confronto com igual mês do ano passado, bens de capital (–12,1%) e bens de consumo duráveis (–9,5%) registraram as quedas mais elevadas em maio de 2012. No primeiro, o resultado foi, sobretudo, influenciado pela perda verificada em bens de capital para equipamentos de transporte (–16,8%). No segmento de bens de consumo duráveis, a queda de 9,5% foi influenciada em grande parte pela menor fabricação de telefones celulares (–37,1%), automóveis (–5,3%), eletrodomésticos da “linha marrom” (–0,4%), motocicletas (–16,8%) e outros eletrodomésticos – exceto “linha branca e linha marrom” (–25,5%). Já os segmentos de bens de consumo semi e não duráveis (–2,7%) e de bens intermediários (–2,7%) também assinalaram queda na produção, com o primeiro apontando o recuo mais intenso desde setembro de 2009 e o segundo, o terceiro resultado negativo.

No acumulado do ano, o destaque negativo ficou para bens de capital (–12,0%) e bens de consumo duráveis (–10,0%). O setor produtor de bens intermediários (–2,0%) apontou recuo menos acentuado que o da média da indústria (–3,4%), enquanto o segmento de bens de consumo semi e não duráveis, permaneceu estável no índice acumulado dos cinco primeiros meses do ano.

 

 
Setorialmente, 14 dos 27 ramos pesquisados apontaram redução na produção em maio com relação a abril. Os principais impactos negativos sobre a total da indústria vieram de veículos automotores (–4,5%), alimentos (–3,4%), material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (–10,9%), metalurgia básica (–2,4%), celulose, papel e produtos de papel (–3,0%), outros produtos químicos (–1,0%) e calçados e artigos de couro (–5,3%). Por outro lado, entre as atividades que avançaram a produção nesse mês, os setores de maior importância foram: produtos de metal (13,2%), indústrias extrativas (1,5%), borracha e plástico (2,6%), máquinas e equipamentos (1,2%) e refino de petróleo e produção de álcool (0,9%).

Na comparação com igual mês do ano anterior, a produção industrial registrou queda em 17 dos 27 ramos, com destaque para: alimentos (–6,1%), material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (–24,3%), metalurgia básica (–5,8%), fumo (–23,3%), máquinas e equipamentos (–3,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–9,3%), farmacêutica (–5,0%) e vestuário e acessórios (–10,6%). Por outro lado, os principais impactos positivos ficaram com outros equipamentos de transportes (6,3%), edição, impressão e reprodução de gravações (4,0%), outros produtos químicos (2,1%) e indústrias extrativas (2,2%).

No índice acumulado dos cinco primeiros meses de 2012 frente a igual período do ano anterior, o recuo ocorreu em 15 dos 27 ramos investigados, com destaque para: veículos automotores (–18,1%), material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (–16,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–9,4%), máquinas e equipamentos (–3,4%), metalurgia básica (–4,2%), farmacêutica (–5,0%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (–13,1%), têxtil (–7,5%), borracha e plástico (–4,4%) e vestuário e acessórios (–12,8%). Por sua vez, entre as atividades que influenciaram a taxa positivamente destacaram-se: outros produtos químicos (4,4%), refino de petróleo e produção de álcool (3,6%) e outros equipamentos de transporte (5,5%).

 

 

 

 

 

 

 

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