As Margens de Lucro
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Brasil Econômico – 02/07/2012

Os levantamentos sobre o desempenho das grandes empresas brasileiras não financeiras vêm sugerindo que importantes mudanças estão ocorrendo, especialmente nas empresas industriais. As pesquisas do Grupo de Economia da Fundap, conduzidas por Geraldo Biasoto e Luis Fernando Novais, mostram que a margem de lucro empresarial vem caindo, os custos básicos de produção subindo e as despesas financeiras líquidas aumentaram e os investimentos diminuíram juntamente com a redução dos lucros retidos pelas empresas.

Segundo os dados, para 222 empresas pesquisadas no período 2007/2011, a relação entre o lucro líquido e a receita líquida (margem de lucro) em 2011 foi a mais baixa do período, excetuando-se o ano de 2008 devido ao impacto da crise mundial. A margem líquida no ano passado chegou a 11%, contra 13,1% no ano anterior. Uma tendência de maior moderação de rentabilidade parece prevalecer também na relação lucro da atividade/receita líquida que mais propriamente avalia a margem de lucro gerada na atividade típica das empresas. Esta atingiu 18% em 2011, contra 19,8% no ano anterior. Os resultados para o primeiro trimestre de 2012, indicam que frente ao primeiro trimestre de 2011 as margens de lucro se mantiveram em declínio.

A dimensão setorial torna ainda mais clara a tendência vigente. As empresas do comércio tiveram suas margens bastante reduzidas em 2011, caindo de um padrão superior a 3% (3,4% em 2010) para 1,6% em 2011. O mesmo ocorreu para as empresas de serviços sem as empresas de energia elétrica, onde a margem líquida caiu de 12,1% para 9,3%.

Na indústria, a queda foi significativa para todos os agregados, mas se é considerado o segmento de empresas industriais excluindo-se os gigantes Petrobras e a Vale, o retrocesso é ainda mais significativo: de 8,8% para 5,5% entre 2010 e 2011. Cabe indagar se as menores margens referentes a 2011 não fazem parte de um processo iniciado antes no qual, gradativamente, as margens de lucro vêm se retraindo. De fato, se é excluído o ano crítico de 2008, as empresas industriais vêm reduzindo sistematicamente sua margem. Certamente não há um único determinante para esse percurso, mas em qualquer hipótese a concorrência do produto importado que a valorização da moeda nacional dos últimos anos favoreceu, é um dos mais destacados fatores.

Convém chamar a atenção para o significado de uma retração muito acentuada e duradoura das margens de lucro. Devido a um passado de instabilidade econômica e financeira do Brasil, e como os mercados domésticos de financiamento voluntário de longo prazo têm desenvolvimento relativamente baixo no país, as empresas brasileiras devem gerar internamente uma fração relevante de recursos para financiar seus investimentos, o que requer margens de lucro condizentes com os lucros retidos necessários. A menos que as empresas aceitem incorrer em riscos mais acentuados derivados de uma proporção maior de financiamentos externos ou que o BNDES amplie ainda mais seu porte, a redução de margens de lucro, limitando o autofinanciamento, pode ser um determinante restritivo do investimento na economia brasileira.


Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e
Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda