Razões da Demora
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 04/06/2012

Os resultados econômicos do país parecem indicar que as várias medidas adotadas pelo governo para ativar a economia estão demorando demais para acontecer. Em parte isto é verdade, pois enquanto o governo vai tomando novas providências vão ocorrendo mudanças nas decisões dos agentes que sobrepujam os efeitos esperados das ações e empurram para frente a perspectiva de melhora do quadro econômico. Mas é preciso reconhecer também que na maioria dos casos as políticas demoram mais do que se imagina em afetar o desempenho econômico.

A mais efetiva ação do governo e que mais precocemente começou a ser posta em prática, devido a uma antevisão correta da situação econômica interna e externa pelo Banco Central, foi a redução da taxa básica de juros a partir de agosto do ano passado. Mas seu impacto foi amortecido no plano das expectativas porque empresários e consumidores perderam confiança em suas avaliações sobre as perspectivas da economia em função do novo agravamento da crise internacional e no plano doméstico pelo endividamento alto enfrentado pelas famílias. Por outro lado, as menores taxas de juros de captação bancária propiciadas pela diminuição da taxa básica não se traduziram em redução do custo do financiamento do investimento ou do consumo porque os bancos concomitantemente aumentaram os spreads. Assim, a política de juros atuou limitadamente e de forma apenas parcial para compensar as piores expectativas de investidores e consumidores.

Quanto às ações da política industrial, estas têm, por definição, alcance limitado no curto prazo, o que é verdadeiro mesmo se são levadas em conta exclusivamente as ações destinadas a compensar a perda de competitividade dos setores mais afetados pela crise industrial. Por exemplo, uma das mais relevantes medidas do Plano Brasil Maior, a desoneração da folha de salários, anunciada em agosto de 2011 para apenas alguns setores, somente em abril último incidiu de modo mais generalizado, abrangendo quinze setores. Também somente agora os exportadores poderão usufruir da autorização de receberem até 3% de suas vendas externas a título de recuperação de impostos.

Muito menos no câmbio os efeitos são instantâneos já que ninguém é capaz de assegurar que a desvalorização do real que reposicionou a cotação do dólar a R$ 2,00 veio para ficar em função das medidas de controle de fluxo de capitais e dos mercados futuros de câmbio introduzidos pelo Banco Central ou decorre de mudanças no cenário internacional que como em outras oportunidades foram revertidas. Deve ser levado em conta ainda que a curto prazo o produtor do estrangeiro que deseja formar clientela no Brasil está disposto a absorver como seu custo de entrada no novo mercado o ônus da desvalorização do real a espera de uma valorização futura e de um posicionamento mais firme no país.

Transmissão imediata da política para a realidade econômica é característica de incentivos fiscais para o consumo, mas no caso brasileiro seus efeitos vêm sendo cada vez menores. O conjunto de medidas adotadas pelo governo fará efeito no segundo semestre e permitirá um crescimento do PIB nesse ano, embora modesto.


Julio Gomes de Almeida é ex-secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp